quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vila da Rainha e Limeira do Itabapoana - Mais um erro sendo construído

"E com a casa da Câmara e casebres de taipa, funda-se Vila-da-Rainha." Escrito por Alberto Ribeiro Lamego, em 1945



Como disse eu em outro tópico, muitas vezes o passado se "apaga" completamente da memória. Surgem, então, versões distorcidas da realidade, subvertidas e, muitas vezes, transformadas em realidade.

Estamos vendo isso acontecer hoje mesmo, nesse exato momento. Pois os pesquisadores do Museu Histórico Nacional não estão agora dizendo que as ruínas de Limeira do Itabapoana são, na verdade, as ruínas da antiga Vila da Rainha, fundada no século XVI pelo Donatário Pero de Góis?

Para quem se dedica a ler a historiografia antiga e os trabalhos atuais dos verdadeiros especialistas, é de notório e público conhecimento que a Vila da Rainha, que mais tarde seria completamente abandonada pelos colonos e pelo Donatário da Capitania de São Tomé, foi fundada na embocadura do Rio Itabapoana, na época chamado Managé.

Pero de Góis, sim, fundou na região do sítio onde posteriormente seria edificada Limeira do Itabapoana, um Engenho movido à água. Ao redor do Engenho, também surgiu um Arraial, povoado por colonos portugueses. Mas esse Arraial, assim como a Vila da Rainha, foi completamente destroçado pelos ataques dos silvícolas. Os colonos remanescentes foram socorridos pelo Donatário do Espírito Santo, que enviou embarcações que os resgataram até a Vila do Espírito Santo (hoje Vila Velha).

Depois disso, São Tomé permaneceu desocupada de colonos e sem exploração econômica por quase um século. O vale do Itabapoana só seria "reocupado" no século XIX, com a exceção de seu baixo curso, onde os inacianos fundariam uma fazenda e um pequeno aldeamento de indígenas. Já no final do século XVI, os Jesuítas estabelecidos em Nossa Senhora das Neves, região onde posteriormente seria criada a famosa Fazenda Muribeca, singraram novamente o Itabapoana até suas primeiras cachoeiras, e lá estabeleceram um pequeno e incipiente aldeamento de silvícolas que subsistiu precariamente por séculos.

Creditar as ruínas das edificações "recém descobertas" como sendo os restos da Vila da Rainha é extrema falta de responsabilidade para com a historiografia. Obviamente que levantar a hipótese não é reprovável, considerando que abre-se debate. Mas divulgar tais informações na imprensa sem ter conhecimento de causa, é ou má-fé, ou desconhecimento: qualquer seja o fato, não é muito abonador.

Certamente as ruínas não são os restos da Vila da Rainha, que foi edificada na embocadura do Managé. Dificilmente as ruínas de Limeira são os restos do Engenho construído por Pero de Góis, considerando a grande extensão dos restos de fundação em pedra lá existentes. No século XVI, quando iniciava-se nossa colonização, a imensa maioria das edificações eram feitas de taipa. Somente muitos anos mais tarde é que as edificações foram sendo construídas com fundação de pedras. A Capitania de São Tomé subsistiu por menos de dez anos, sendo que os conflitos entre europeus e indígenas duraram, segundo a historiografia antiga, cinco anos. Infelizmente, considerando todas as dificuldades e contratempos enfrentados pelos colonos, e considerando o pouco tempo que estiveram estabelecidos por aquelas bandas, é quase 100% correto afirmar que aquelas edificações não foram por eles construídas.

Outro fator que contribui para enterrar a versão de que as ruínas são da antiga Vila da Rainha é o próprio estabelecimento posterior do Povoado de Limeira do Itabapoana, que foi edificado no mesmo sítio. Limeira nunca foi um grande Povoado, tanto que nunca foi elevada à categoria de Vila; mas foi um importante entreposto comercial, que concentrou todo o escoamento de café do médio e alto Itabapoana por muitos anos. Somente quando os trilhos da estrada de ferro chegaram à Santo Eduardo/RJ, em 1879, é que a importância de Limeira na centralização do escoamento de café começou à decair. Todos que conhecem o estilo de construção na região do Itabapoana no século XIX podem facilmente concluir que aquelas edificações foram construídas nessa época.

De todo modo, esperemos que alguém resolva datar cientificamente aquelas ruínas. O debate está levantado, e - quem sabe? - não sejam aquelas obras os resquícios do Engenho construído por Pero de Góis no século XVI? De todo modo, uma coisa elas não são: definitivamente, não são os restos da Vila da Rainha.



Gerson Moraes França

Fonte das fotos: - print do vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=RQJERXskiRE&feature=player_embedded
em 19/11/2009

5 comentários:

  1. como eu faço pra chegar até essa vila ?
    repondam por favor
    uma parte da historia da minha familia pod estar
    com as pessoas que moram perto dessas ruínas.

    romariobenevides@hotmail.com

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    1. Ola n sei se vc ainda vai ver esse comentário mas eu morei lá agora to morando proximo pq me casei e fui pra cidade mas tpda minha familia permanece ali

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    2. Você sabe onde fica essa vila? Me fale a localização por favor.

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  2. Olá Romário!

    Existem estradas de terra que demandam à Limeira, partindo de Santo Eduardo, pelo lado do Rio de Janeiro, e da rodovia que liga a BR 101 à Ponte do Itabapoana, pelo lado do Espírito Santo.

    Enviar-lhe-ei um e-mail com um mapa, para facilitar a visualização.

    Grande abraço,
    Gerson

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    1. Você pode me enviar um mapa pra mim também? Quero saber a localização dessa vila

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