sexta-feira, 6 de maio de 2011

Maria Antonieta Tatagiba



Maria Antonieta Siqueira Tatagiba

No último dia 04 de maio, em espaço gentilmente cedido pela Secretaria municipal de Cultura de Mimoso do Sul, foi realizada uma reunião que objetivou fundar uma Academia de Letras na nossa cidade. Sob a presidência ad-hoc de Alci Vivas Amado, e com  presença de várias personalidades ligadas e apaixonadas pela literatura e pelos autores mimosenses, deu-se o ponta pé inicial do que um dia pode se transformar numa importante e produtiva iniciativa.

Terra de muitos autores, poetas e escritores, alguns de renome nacional, Mimoso do Sul e seus valorosos abnegados buscam estimular e difundir a leitura e a cultura em nosso adorado torrão. E essa é a "deixa" para abordar a personagem da presente matéria. Pois, ao falar em Academia de Letras, não há como, em Mimoso, não relembrar o nome da poetisa Maria Antonieta Tatagiba. Ela é, talvez, o mais festejado nome de nossa literatura; foi a primeira mulher capixaba a publicar um livro, e é patrona de uma das cadeiras da Academia Espírito-santense de Letras.

Escrevi sobre Maria Antonieta em minha coluna Resgate, no jornal mimosense Acontece, na edição n.º 01 no Ano 04, de março/abril de 2005, em matéria bem enxuta. Lembro-me de ver, inclusive, um dia, meu texto apregoado em um mural no pórtico de entrada da Capela de São José, quando de um evento que homenageava as escritoras mimosenses durante a festa da cidade. O texto estava lá "tim-tim por tim-tim", "sem tirar nem pôr". Apropriaram-se do escrito sem minha autorização e sem creditar o autor, mas fiquei feliz por observar que estava sendo útil.

Antes de continuar, porém, importante lembrar que o nosso estimado colunista Gilberto Braga Machado, o Braguinha, também escreveu sobre a poetisa Maria Antonieta Tatagiba, em matéria publicada em seu BLOG e no portal MimosoOnLine. Para quem quiser ler o texto de Braguinha, basta clicar nesse link. Assim, o presente texto serve como uma complementação para o escrito de Braguinha. Entendi por bem enriquecer as informações sobre Maria Antonieta que, certamente, merece tantas homenagens quantas forem possíveis.

Outra pessoa que escreveu especificamente sobre a nossa poetisa foi a escritora Karina Fleury, membro da Academia Feminina Espirito-santense de Letras, em duas obras: uma publicada em 2007 e intitulada "Alma de flor - Maria Antonieta Tatagiba: vida e obra", e outra publicada em 2010 com o título "O Papel da mulher e a mulher de papel: vida e obra de Maria Antonieta Tatagiba". Destarte, procuro trazer novos elementos e informações por mim pesquisadas, algumas delas inéditas, sobre a vida da nossa festejada e aclamada poetisa são-pedrense, buscando contribuir com o resgate e as homenagens que Maria Antonieta, certamente, faz jus.


MARIA ANTONIETA TATAGIBA

Não sou poeta, nem crítico literário; sou apenas um pesquisador. Desse modo, não tenho gabarito para analisar a obra de Maria Antonieta. Interessante, porém, aqui colocar uma análise geral sobre a obra da poetisa, que está no livro "Antologia de Escritoras Capixabas", de autoria de Francisco Aurélio Ribeiro e publicado em 1998:
"Sua poesia, bucólica, panteísta, neo-simbolista, pouco representa a efervescência modernista da época em que viveu, mas a alma simples, neo-arcádica de quem se dizia uma 'tocadora de frauta'."

Após esse pequeno intróito capitular, importante reiterar que o texto que se segue não pretende ser uma biografia, nem uma resenha da vida de Maria Antonieta. Apenas trago alguns elementos que somam-se aos tantos que já foram escritos sobre a vida da poetisa.

DE TUDO, UM POUCO:
Família, infância, formação, profissão e casamento

Nossa poetisa veio ao mundo em 17 de setembro de 1895, em São Pedro do Itabapoana. Nasceu e foi batizada Maria Antonieta de Castro Siqueira. Seu pai, Arthur Antunes de Siqueira, era de importante e tradicional família mineira cujos descendentes espalharam-se pelas zonas cafeeiras do norte do Rio de Janeiro e sul do Espírito Santo. Sua mãe, Maria Rita de Castro, pertencia a distinta família mineira Castro, das primeiras que chegaram na região do Itabapoana.

No ano seguinte ao seu nascimento, seus pais foram residir em Campos, Estado do Rio de Janeiro. Foi nessa cidade fluminese que Maria Antonieta cursou o primário, e depois frequentou o Liceu de Humanidades de Campos. Após a morte de seu pai, em 1908, voltou a residir em São Pedro do Itabapoana. Já professora em sua terra natal, fez o curso de Humanidades no Ginásio do Espírito Santo, em Vitória, concluindo-o em 1916. No ano seguinte, Maria Antonieta assume uma das escolas públicas do Município, como professora normalista.

José Vieira Tatagiba
Em 05 de maio de 1922, quando já dirigia a Primeira Escola Pública da sede municipal, Maria Antonieta casou-se com o advogado Dr. José Vieira Tatagiba. E tornou-se Maria Antonieta Siqueira Tatagiba, nome pelo qual acabou ficando conhecida. A família Tatagiba, assim como os Antunes de Siqueira, era radicada em São José do Calçado, município vizinho. Possuiam propriedades conflitantes na região de Alto Calçado e Conceição de Muqui, nas terras altas de ambos os municípios. José nasceu na Fazenda Estrella, Alto Calçado, em 01º de outubro de 1895. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, e depois foi designado Promotor Público na Comarca de Itabapoana, cuja sede era em São Pedro. Também dirigiu, como Redator-Chefe, o jornal oficial "A Semana", principal órgão de imprensa local.

Em agosto de 1926, Maria Antonieta foi nomeada para a função de Gerente do jornal "A Semana", tendo sido a primeira mulher a gerenciar um órgão de imprensa em São Pedro. O Gerente era subordinado ao Redator-Chefe que, na ocasião, era o seu marido. Não possuo dados para afirmar, mas acredito que tenha sido uma das primeiras mulheres do Estado e, quicá, do país, a assumir a gerência de um jornal oficial. A nomeação da nossa poetisa, apenas para que fique como registro, foi levada a efeito pelo Decreto n.º 19, de 13/08/1926, assinado pelo Presidente da Câmara Municipal e também Chefe do Poder Executivo local, Clarindo Lino da Silveira. Poucos meses depois, seu marido José Tatagiba seria eleito Prefeito de São Pedro do Itabapoana.


DOENÇA, OBRA E MORTE

Até que ponto a iminência, ou a expectativa da morte, foi responsável pela consecução da realização de um objetivo, de um sonho? Maria Antonieta Tatagiba publicou seu livro, "Frauta Agreste", em 1927. E assim tornou-se a primeira mulher capixaba a publicar uma obra literária. Pois foi nesse mesmo ano que sua doença se complicou, e tornou-se grave.

Possuo alguns telegramas passados e recebidos pelo seu marido, o Prefeito José Vieira Tatagiba, que comprovam que Maria Antonieta estava gravemente enferma em 1927, e que procurou médicos especialistas no Rio de Janeiro, então Capital Federal, bem como em Campos, norte do Estado do Rio. Muitos autores afirmam que Maria Antonieta morreu por causa da tuberculose. Sabe-se, porém, que o tratamento da tuberculose era levado a efeito em estâncias ou sanatórios, e que os mais abastados, como era o caso de nossa poetisa, passavam longas temporadas em cidades de mais altitude e clima mais frio. Maria Antonieta, porém, após procurar os médicos, foi para sua cidade natal esperar pela morte. É fato também constatado que seu óbito ocorreu depois de prolongada moléstia. Tanto que, conhecedora a morte iminente, Maria Antonieta escreveu o poema "Morrer Moça", falando da própria situação que vivia e que foi publicado na Revista Capixaba de número 113, Ano VI, de 23 de fevereiro de 1928. Essa foi sua última poesia publicada em vida, e pode ser lida no final do presente post.


No centro, o fundo da casa
onde morreu Maria Antonieta
 Também encontrei a certidão de óbito e o documento do médico que atestou a morte de Maria Antonieta, Dr. Octavio Lengruber, que foi levado ao Cartório pelo Juiz Distrital Annibal José Medina. Ela faleceu às dezesseis horas do dia 13 de março de 1928. O atestado declarava que nossa poetisa havia falecido em virtude de um tumor na laringe. A sua doença teria se complicado e se transformado em tuberculose laríngea, uma das mais sérias complicações da tuberculose pulmonar, frequentemente fatal? Ou Maria Antonieta teria falecido em virtude de um câncer na laringe? Não sei, mas alinhar-me-ei aos autores mais renomados, acrescentando o "laríngea" à tuberculose. Faleceu aos 32 anos, e não aos 33, como por vezes lemos em algumas publicações.

Voltando aos telegramas acima citados, segue o teor de alguns deles, para registro.

No início de setembro de 1927, Maria Antonieta vai para Campos com seu marido José Vieira Tatagiba, já gravemente enferma, e é internada. José viaja ao Rio de Janeiro, onde o deputado federal Pinheiro Junior o ajuda a procurar médicos especialistas. No dia 08 de setembro está de volta à Campos. No dia 29 de setembro, o presidente Florentino Avidos pede ao deputado federal Geraldo Vianna que providencie um anexo no carro especial do trem da Leopoldina, para levar Maria Antonieta e seu marido ao Rio de Janeiro. No dia 25 de outubro de 1927, após intervenções médicas na Capital Federal, Maria Antonieta e José Vieira retornam a São Pedro do Itabapoana. Foram dois meses de tratamento hospitalar, e depois mais quatro meses e meio até que nossa poetisa sucumbisse ante a sua grave doença.

Sua morte foi noticiada em todos os jornais do Estado. José Vieira Tatagiba, viúvo, havia renunciado pouco antes ao cargo de Prefeito, e fora nomeado Juiz de Direito na Comarca de São Mateus, extremo norte do Estado. Viveria até 26 de setembro de 1952, após ter exercido a magistratura nas Comarcas de São Mateus e Alegre, tendo exercido nesse último o cargo de Prefeito em novembro de 1945, quando lá era Juiz. Morreu em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Gerson Moraes França

Morrer Moça, de Maria Antonieta Tatagiba
Foto do poema publicado no jornal Acontece