terça-feira, 27 de junho de 2017

Crônicas da História de Mimoso (II)

Uma das boas coisas de se escrever crônicas históricas é a liberdade de contar a história em diferentes recortes temporais ou espaciais, sem seguir, necessariamente, um roteiro ou uma sequência lógica. Posso falar sobre um distrito, depois falar sobre algum acontecimento relevante, dar seguimento com os primórdios, e terminar falando de uma personalidade. Posso tratar de um fato específico e depois fazer análises de cunho macro. Não há regra que não seja a da seriedade com o meu trabalho e a busca pela veracidade (tanto quanto for possível) das informações, bem como a busca por fazer o leitor compreender e entender o processo histórico que, com rupturas e continuações, deu no que conhecemos e vivemos hoje.

Outra coisa boa é que posso usar dessa plataforma de internet para iniciar um trabalho historiográfico científico, visando uma futura e difícil publicação. Aqui difundo minhas pesquisas e propago o conhecimento, enquanto vou organizando, usando dos textos, uma obra que possa ser classificada como de História. Mas desde já aviso: essas crônicas não são memorialistas: são historiográficas. Nada do que aqui colocarei foi inventado ou imaginado por mim. E todas as presunções, quando e se houver, são fundamentadas em análises que venho executando, com muito critério, há anos. Aqui não haverá "achômetro" nem versões resgatadas de antigos sem a devida contextualização no tempo e no espaço; afinal, memórias são fonte, mas são falhas e precisam ser muito, muto bem analisadas, para que possam ser aproveitadas.

Por fim, não sou um teimoso imaleável. O bonito da história é a sua dinâmica. A "descoberta" de novos documentos podem reverter todo um entendimento ou uma versão. Ao historiador cabe essa frequente busca, essa revisitação e (re)construção da história. Não me entendo como o senhor da verdade, mesmo que aqui fundamente todos os fatos e versões com documentação rigorosamente analisada. Não sou monolítico a ponto de defender teses indefensáveis à luz de novas informações relevantes e confiáveis. A história está em frequente edificação. E é dessa edificação que não desejo, nunca, me afastar.

Gerson Moraes França

Crônicas da História de Mimoso

Certa feita e faz muitos anos, acho que na Biblioteca Pública Estadual, tive acesso à obra "Crônicas de Cachoeiro", do renomado autor Levy Rocha. O livro trata, em formato de crônicas, de várias passagens da história de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. Apesar do formato, o trabalho era fundamentado, na maioria das informações, com fontes primárias. Não sei se seria considerado, hoje, um "trabalho científico historiográfico"; mas a narrativa, fulcrada na seriedade, metodologia e preocupação histórica do autor, ficou maravilhosa: história regional séria, confiável e, melhor, gostosa de se ler.

Quem começou a fazer história regional de Mimoso do Sul usando de um formato parecido, mas com verve toda própria, foi nosso maior cronista contemporâneo, Gilberto Braga Machado. Inspirado em ambos, e tentando resolver um problema "logístico" (a escrita da história demanda muito tempo, e sua publicação é difícil e onerosa), resolvi tentar fazer o mesmo. A crônica me permite tratar da história de Mimoso do Sul sem a rigorosa (e necessária, reconheço) metodologia científica historiográfica. Posso escrever para quem lê, e fazer o que mais desejo: divulgar uma história séria e comprometida com a documentação primária de forma mais agradável e palatável ao leitor. Afinal, penso, é preciso difundir o conhecimento. Guardá-lo para si não faz muito sentido.

Assim, em meus próximos escritos, tratarei da história de Mimoso do Sul em crônicas que, espero, não sejam (muito) massantes. Será, todavia, um trabalho sério; mesmo que falhe na citação das fontes que fundamentam as assertivas, posso a qualquer momento trazê-las para provar minhas teses e comprovar os fatos. Demorei anos, mas cataloguei, em meus arquivos, cada uma delas. É também preciso registrar: conforme aprendi em Metodologia e Teoria da História, na UFES, fiz a crítica de todas as fontes, comparando-as, analisando-as, compreendendo o geral e o específico, dentre outros afazeres metodológicos que são obrigação para o historiador sério e comprometido.

Minhas pesquisas sobre a história de Mimoso do Sul, São Pedro do Itabapoana, do sul espírito-santense e do Espírito Santo em geral, já duram vinte anos e provavelmente vão durar tantos anos quantos ainda restam-me no mundo. É um vício apaixonante e um tesão incontrolável que me move. Inexplicável. E espero que seja útil de alguma forma. Ou, no mínimo, que seja uma leitura agradável aos que gostam de história regional.

Gerson Moraes França