quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Castelo FC - Cinquentenário do Sulino

A temporada do futebol sulino, tanto profissional, quanto amador, já terminou nesse ano de 2017. Os resultados foram positivos, no geral. O Atlético Itapemirim, único clube sulino a participar da primeira divisão estadual, conquistou os dois principais títulos profissionais do Estado: o campeonato capixaba e a Copa Espírito Santo. Na segunda divisão, onde três clubes sulinos disputaram o acesso para a série A, o Rio Branco de Venda Nova logrou êxito e conquistou uma vaga, embora tenha perdido o título para o Serra. Os outros dois clubes que disputaram a série B, Estrela e Castelo, foram semifinalistas da referida competição. Nas competições regionais sulinas amadoras, vimos o Prosperidade de Vargem Alta sagrar-se bi-campeão do campeonato sulino e, no último final de semana, o Cosmos de Viana conquistar o título de campeão da Copa Sul.

Mas o nosso foco, na presente matéria, é o Castelo Futebol Clube. Fora da série A desde 2015, e desde 2011 disputando competições profissionais no Estado, por muito pouco o Castelo não conquistou o acesso para a primeira divisão.

O ano de 2017 está chegando ao final, e acabou passando em branco uma importante efeméride do Castelo FC: a conquista de seu primeiro campeonato Sulino, que foi o primeiro título regional e profissional do clube castelense. Esse feito, conquistado em 1967, completou cinquenta anos no presente ano. Assim, comemoramos, nesse ano, seu cinquentenário.


UM POUCO DE HISTÓRIA
CASTELO CAMPEÃO DE 1967

Quando juntamos futebol e suas efemérides, forçosamente entramos no campo da história. 1967 foi um ano especial para o futebol sulino espírito-santense. Era o ano da comemoração do centenário da emancipação política do município de Cachoeiro de Itapemirim, e o presidente da Liga Desportiva de Cachoeiro de Itapemirim- LDCI, Paulo Fonseca, organizou um campeonato que foi muito elogiado pelos jogadores, pelos clubes, e pela imprensa contemporânea. Nessa época, o Campeonato Sulino era uma competição profissional, e os melhores colocados do certame garantiam vaga na disputa do campeonato estadual. O Estrela do Norte, de Cachoeiro, tri-campeão sulino (1964/65/66), buscava um inédito tetra-campeonato da competição. Criado em 1930, desde 1959 o campeonato sulino era organizado pela LDCI, e desde 1961 era uma competição profissional.

Ao chegar no final, o certame sulino de 1967 tinha quatro clubes disputando o título: Castelo, Cachoeiro FC, Muqui AC e Operário FC, de Muqui. Com uma bela vitória sobre o Estrela, o Castelo conquistou o título por antecipação. E o Muqui, após vencer o Cachoeiro, garantiu o vice-campeonato. Assim, Castelo e Muqui garantiram as duas vagas sulinas para a disputa do campeonato estadual de 1967; nessa competição, que foi a primeira ocasião que o Castelo disputou o campeonato estadual nos novos moldes pós-1961, o clube castelense não fez uma boa campanha: terminou na sexta colocação, à frente apenas do Vila Nova de Colatina. O título foi conquistado pela Desportiva Ferroviária, de Vitória.


O CASTELO ANTES DE 1967

O título sulino de 1967 foi a mais importante conquista do Castelo FC até então. O clube nunca havia conquistado o Sulino, nem na época amadora. Mas o Castelo já era um importante e tradicional clube de futebol do Espírito Santo.

Seu primeiro título foi conquistado quando o clube ainda nem possuía o nome atual. Fundado em 1928, o SC Alfaiate foi o precursor do Castelo FC. Quando foi criado, o Alfaiate tinha como rival o Comercial SC, clube fundado em princípios de 1927. Com a extinção do antigo SC Castello (fundado em 1916), o Comercial era o mais poderoso time castelense quando da fundação do Alfaiate. Em 1929, a nova municipalidade (o município de Castelo foi emancipado em 1928, e instalado em 1929) resolveu promover a disputa da primeira copa local, a Taça Castello. A copa seria realizada em um sistema muito comum à época, a "melhor de 4 pontos". Assim, o clube que primeiro atingisse quatro pontos, conquistava a Taça Castello (lembrando que, então, a vitória valia dois pontos).

Os jogos foram realizados em novembro e dezembro de 1929. Nos dois primeiros jogos, foi uma vitória para cada clube. A partida decisiva foi disputada em 15 de dezembro de 1929, no campo do Comercial. O jogo de desempate entre ambos foi atribulado, com muitas faltas violentas e com invasão de campo. Mas o Alfaiate venceu o Comercial por 3 x 0, e conquistou seu primeiro título: a Taça Castello, sendo portanto o primeiro campeão municipal castelense. A animação foi tão grande com a posse da Taça Castello, que o Alfaiate mudou até o nome do clube: em 01º de janeiro de 1930, tornou-se o Castello Foot-ball Club.

Na década de 1930, o Castelo FC estruturou-se e sedimentou-se como clube de futebol local. Em 1931, seria fundado o Atlético Clube, que completaria a tríade de agremiações futebolísticas castelenses durante esse período, junto com o Castelo e o Comercial. Mas a disputa de copas municipais, após a "suruba" de 1929, não ocorreria mais por longos anos. O clube disputava jogos amistosos, e ao final de 1932 aprovou os seus estatutos. Desde 1930, era disputado no sul do Estado o campeonato sulino, à época organizado pela atual Federação de Futebol do Espírito Santo - FES, que naqueles tempos tinha o nome de Liga Sportiva Espírito-santense - LSES. E o Castelo organizou-se para disputar essa importante competição regional.

Filiado à LSES, o Castelo murou e inaugurou seu ground oficial em fevereiro de 1934, em cerimônia com a presença do Bispo Dom Luiz Scortegagna, que benzeu o campo. Nesse mesmo ano, disputou pela primeira vez o Campeonato Sulino, então organizado pela Associação Sulina de Esportes Atheticos - ASEA, órgão delegado pela LSES para organizar os campeonatos do Sul do Estado. O Castelo disputaria este campeonato até sua extinção em 1938, mas não conquistaria nenhum título. Veria, porém, o rival Comercial conquistar o certame de 1936, e ser vice-campeão do Estado.

Castello Foot-ball Club, em 1934, quando disputou seu primeiro campeonato sulino

O campeonato sulino só retornaria em 1948, organizado diretamente pela federação estadual. Nesses dez anos sem competições regionais oficiais no sul do Estado, foram disputados alguns campeonatos municipais, organizados pelas ligas locais. O Castelo FC conquistou o campeonato castelense de 1948, e credenciou-se para disputar o chamado "Torneio dos Campeões do Sul do Estado" desse mesmo ano, nome dado ao campeonato do sul do Estado na ocasião. E essa foi a primeira vez que o Castelo quase conquistou o campeonato sulino.

O rival Comercial, que também havia sido credenciado para participar da competição, foi eliminado pelo Muniz Freire que, por sua vez, disputou as semi-finais com o Castelo. Em marco de 1949 o Castelo venceu, em seu gramado, o Muniz Freire por 3 x 1, conquistando a vaga nas finais do Sulino contra o Cachoeiro FC, campeão da cidade de Cachoeiro do Itapemirim. Os jogos decisivos do campeonato sulino de 1948 foram disputados em março e abril de 1949. No primeiro jogo, o Cachoeiro venceu o Castelo, em Arariguaba (campo do Cachoeiro), por 4 x 2. No segundo jogo, em Castelo, o clube local venceu por 2 x 1. E na "negra", disputada em Arariguaba, o Cachoeiro venceu o Castelo por 3 x 2 e conquistou o título. O Cachoeiro FC, nesse mesmo ano, sagra-se-ia Campeão do Estado da temporada 1948, sendo o primeiro clube do interior do Espírito Santo a conquistar um título estadual. Restou ao Castelo contentar-se com seu primeiro vice-campeonato sulino.

Castelo FC, no final da década de 1940, quando conquistaria seu primeiro vice-campeonato sulino

Nos anos subsequentes, o Castelo continuou disputando os campeonatos do sul do Estado, mas sem conquistar o título. E, pior, viu o seu rival Comercial conquistar mais um Sulino em 1949 (sendo vice-campeão estadual), e ser finalista em 1950 conquistando o "campeonato da liga sulina", mas perdendo o título para o Cachoeiro, para o alívio da torcida do Castelo FC. Em 1951 o Castelo chegou às semifinais do sulino, mas foi eliminado pelo Comercial de Alegre, que seria o campeão daquele ano.

À despeito dos azares no que toca à conquista de títulos, o Castelo FC iniciou na década de 1950 um importante empreendimento que faria do clube um dos primeiros a possuir um grande estádio (considerando a época) no sul do Estado. Em 1953, seria dado início à construção do Estádio Emílio Nemer, que até hoje é utilizado pelo Castelo FC em suas partidas em casa. O estádio foi concluído em 1956, e sua inauguração foi no dia 10 de junho deste mesmo ano, em um amistoso com o Rio Branco de Vitória. Antes disso, em 1954, o Castelo havia se filiado à Liga de Cachoeiro e disputava o campeonato local, que credenciava seu vencedor diretamente na disputa das finais do Campeonato do Sul do Estado até 1956. Mas os títulos ainda não vinham.

Em 1961 foi organizado o primeiro campeonato sulino da categoria profissional "não amador", e o Castelo FC se faria presente no certame. Em 1963, com a proibição do "não amadorismo" pela CBD, o Castelo profissionalizou-se para continuar participando dos campeonatos sulinos, então organizados, conforme dissemos mais acima, pela LDCI. Até que, enfim, veio o seu festejado primeiro título em 1967.

Castelo Futebol Clube, em fins de 1960, quando disputaria o primeiro sulino profissional
Fonte: jornal Folha Capixaba, nº 1264, 31/12/1960, p. 8

O CASTELO DEPOIS DE 1967

A presente matéria trata da efeméride do cinquentenário do título sulino de 1967, conquistado pelo Castelo FC. Mas, como também tratamos um pouco sobre a história do Castelo até essa data, importante também tratar um pouco sobre o Castelo após a conquista desse seu primeiro título sulino e profissional.

O campeonato sulino profissional foi disputado, sem interrupções, até 1969. Em 1970, devido à série crise econômica vivida no sul do Espírito Santo, bem como com a mudança nas regras de participação do campeonato estadual, o sulino profissional não foi disputado; retornou em 1971, como um último suspiro. De 1972 em diante, o Campeonato Sulino nunca mais seria uma competição profissional. Mas continuava sendo o principal certame regional do sul do Estado. Até porque, desse ano em diante, todos os clubes de futebol sulinos deixaram o profissionalismo e passaram a disputar competições amadoras, tal como era antes de 1961; inclusive os clubes cachoeirenses. Somente em 1977 é que um clube do sul do Estado retornaria ao profissionalismo, para disputar o campeonato estadual que, então, só possuía a primeira divisão.

Nessa época, houve uma desorganização no que toca à disputa dos campeonatos sulinos. Até então, como dissemos, era a LDCI quem organizava os certames. Após o retorno ao amadorismo, o sulino foi organizado também por outras ligas, e houve anos que tivemos a realização de dois sulinos ao mesmo tempo, organizados por ligas diferentes. Foi somente em 1978 que a LDCI conseguiu retomar o controle da organização do Sulino, doravante uma competição amadora.

Mas foquemos no Castelo FC. Porque essa década de "crise" e um tanto "desorganizada" foi uma época de ouro para o clube, quando falamos de títulos. Em 1973, o Castelo conquistou seu segundo título sulino, pela LIDEG. E depois conquistou um tri-campeonato sulino (1975/76/77), pela LDCI e pela LIDEG, faturando seu quinto campeonato sulino e fazendo do Castelo um dos maiores campeões do certame. Esses bons resultados, em uma época que todos os clubes do sul do Estado disputavam competições amadoras, estimulou o Castelo a retornar ao profissionalismo. Assim, em 1978 o Castelo FC deixou as competições amadores e retornou às competições profissionais. Nessa época, no sul do Estado, apenas o Estrela do Norte, de Cachoeiro (em 1977) e o Ordem e Progresso, de Bom Jesus do Norte (1978), haviam retornado ao profissionalismo.

Castelo FC na década de 1970, quando foi quatro vezes campeão sulino e
campeão do Torneio Incentivo

E em 1978 veio o segundo título profissional. Numa emocionante final disputada com o Estrela, o Castelo sagrou-se campeão do Torneio Incentivo, competição regular então organizada pela federação de futebol com a participação de todos os clubes profissionais do Estado, exceto aqueles que disputavam o campeonato brasileiro (na ocasião, o Rio Branco e a Desportiva). Era quase que uma Copa Espírito Santo, atualmente disputada. Disputou, desde então, o campeonato estadual e o torneio incentivo até 1981.

Castelo Futebol Clube, campeão sulino de 1982, quando conquistou seu sexto título do certame

Em 1982, porém, o Castelo deixaria novamente o profissionalismo, retornando ao amadorismo em grande estilo: sagrou-se campão sulino desse ano, pela LDCI. E repetiu o feito nos dois anos posteriores, sagrando-se tri-campeão sulino em 1982/83/84. Em 1987 retornou às disputas profissionais, agora participando do campeonato estadual da segunda divisão, instituído em finais da década de 1980 para permitir o acesso dos clubes à primeira divisão. Em 1988, conquistou seu terceiro título profissional de importância: o campeonato estadual da segunda divisão, garantindo o acesso à primeira divisão no ano seguinte. Disputou a primeira divisão do estadual de 1989 a 1995, retornando depois ao amadorismo.

Castelo Futebol Clube, campeão da segunda divisão estadual em 1988

Em 2001 e 2002, o Castelo disputou novamente o campeonato profissional da segunda divisão, mas não conseguiu o acesso. E, como de outras vezes, voltou a disputar competições amadoras. Em 2004 a LDCI deixou de organizar os campeonatos sulinos, e a Liga Desportiva Castelense tomou a frente na organização do certame. E o Castelo conquistaria mais um campeonato sulino, pela LDC, em 2005. Sua última disputa exclusiva do campeonato sulino, antes de retornar ao profissionalismo, foi em 2011, quando o Castelo chegou à final mas foi derrotado pelo Independente, de Cachoeiro, que conquistou o título pela LDC.

E nesse mesmo ano (2011) o Castelo, novamente, retorna ao profissionalismo e disputa a segunda divisão do estadual. Conquista o acesso à primeira divisão em 2013, quando foi vice-campeão da série B, perdendo a final para o Colatina. Disputou a séria A em 2014 e 2015, sendo rebaixado nessa última temporada. Disputou a série B em 2016 e 2017. E, interessantemente, o Castelo manteve equipe disputando alguns campeonatos sulinos amadores: o clube disputou os sulinos organizados pela LDPK de 2015 e 2016, ano de sua última participação.

Para o ano que vem, o Castelo já confirmou que disputará o campeonato estadual da série B, novamente, lutando pelo acesso à elite do futebol capixaba. 2018 será, também, o cinquentenário da participação do Castelo FC em campeonatos estaduais, pois a temporada estadual de 1967 foi disputada em 1968.

E o Castelo Futebol Clube, antigo Alfaiate, primeiro campeão municipal de Castelo em 1929, sete vezes campeão sulino (1967, 1973, 1975/76/77, 1982, 2005), campeão do Torneio Incentivo de 1978 e campeão da segunda divisão em 1988, terá a chance de retornar à série A do campeonato estadual e, quicá, um dia conquistar o único título regional importante que ainda lhe resta vencer: o campeonato estadual da primeira divisão.


Pesquisa e texto: Gerson Moraes França

Fontes das fotografias não citadas:
Blog Memória do Futebol Capixaba
https://memoriafutebolcapixaba.blogspot.com.br

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

2017 - Ano do Centenário do Futebol em Mimoso (1ª Parte)

Saudações, desportistas mimosenses!

Escrevi, em 2014, dois artigos que tratavam do mais popular esporte brasileiro em terras mimosenses. O primeiro, em fevereiro, quando tratei sobre os princípios da história do futebol em Mimoso do Sul; e o segundo em outubro, quando foquei na figura de Helcio Paiva, um dos maiores jogadores de futebol do Brasil, em seu tempo. Ambos os artigos podem ser lidos clicando-se nos link's abaixo:

De lá, para cá, passaram-se três anos. E, como apaixonado que sou tanto pelo futebol, quanto pela pesquisa da história, continuei garimpando fontes que pudessem preencher as lacunas desse tema, e dessa época, na gênese do futebol mimosense. A história, como se sabe, é uma eterna construção...

Pois bem. Até a pouco tempo, em virtude das fontes que tive disponíveis, e fundamentado em pesquisas e argumentos, eu concluí que a primeira agremiação de futebol de Mimoso do Sul, o Mimosense Foot-ball Club, fora fundado provavelmente em 1920. E que as primeiras pelejas de futebol, no então povoado de Mimoso, havia ocorrido em 1917.

Passados esses três anos de novas pesquisas, posso afirmar com certa dose de veracidade: as primeiras partidas de futebol, em Mimoso, foram realizadas em meados do ano de 1917, quando "Todo sábado, pelo noturno da Leopoldina, chegavam do Rio uns holandeses que costumavam ir à São José das Torres para explorar turfas. Hospedavam-se no hotel do Deoclécio Paiva e enquanto esperavam condução, (naquele tempo animais), ficavam batendo bola na rua, para grande admiração do povo que juntava em volta".

Conforme escrevi em outro artigo, foi a partir de março de 1917 que esses holandeses passaram a frequentar o povoado de Mimoso e, enquanto aguardavam sua condução para Torres, batiam pelada na rua. Assim, faz cem anos que Mimoso do Sul viu suas primeiras partidas de futebol.

Mas encontrei outro fato muito interessante: a fundação da primeira agremiação de futebol em Mimoso não ocorreu depois que terminou a primeira guerra, conforme asseverei nos outros artigos, fundamentado nas fontes então disponíveis. A fundação do Mimosense FC, então simples ajuntamento inorgânico dos aficionados pela novidade que era o esporte bretão, ocorreu ainda nesse ano de 1917. Desse modo, completamos nesse ano de 2017 o centenário do futebol em Mimoso do Sul.

Importante informar, porém, que o futebol já havia feito seu ingresso em outras localidades do antigo município de São Pedro do Itabapoana, à qual o distrito de Mimoso fazia parte. A sede do município, São Pedro, já possuía clube fundado em 1913; e na atual Apiacá, também então distrito assim como Mimoso, havia um clube fundado em 1915. Nesse caso, o centenário que tratamos é referente à prática do futebol e à fundação de agremiação especificamente na atual cidade de Mimoso do Sul.

Encontramos o registro de duas partidas realizadas pelo Mimosense FC no final de 1917. Uma delas, cuja data e resultado desconhecemos, mas provavelmente realizada em novembro de 1917, foi entre o FC São Pedrense e o Mimosense FC. Talvez tenha sido a primeira partida entre agremiações realizada pelo time mimosense, mas desconhecemos até o local onde se realizou a pugna.  O outro registro é mais detalhado: uma partida realizada no dia 08 de dezembro de 1917, em Mimoso, entre o Mimosense FC e o Alavanca FC, de Muqui. O time muquiense, reforçado por jogadores de Cachoeiro de Itapemirim, venceu o jogo pelo score de 4 x 0; o clube mimosense também jogou reforçado, por jogadores do FC São Pedrense, de São Pedro do Itabapoana.

Possuímos, também, a escalação do primeiro time do Mimosense FC, cujo registro creio ser importante. O Mimosense FC, em fins de 1917, formava com Themístocles, Calill e Custodio; Tinoco, Leão e Antônio; Juca, Zuquito, Duka, Horácio e Jorge.

A partir de março de 1920 começamos a encontrar, cada vez mais, fontes sobre atividades do clube; foi quando o Dr. Esperidião de Queiroz Lima "assumiu" a agremiação, dando grande incentivo para a atividade futebolística em Mimoso. É nessa época que o Mimosense FC começa a realizar, com mais frequência, partidas com clubes de outras cidades, tanto em casa, quanto no campo dos adversários. Também foi nessa época que jogadores como Ibrahim, Nassour e Helcio Paiva, este então em 17 anos, formavam no elenco titular do time. Para efeito de registro, já encontramos escalada a famosa dupla de zagueiros Ibrahim-Helcio, em partida realizada no dia 09 de maio de 1920, um domingo, quando em Muqui o Mimosense FC (reforçado por jogadores de Bom Jesus, Campos e Apiacá) bateu o Muquyense FC pelo placar de 2 x 1.

O Mimosense Foot-ball Club teve uma longa atuação nos gramados do sul do Estado, tendo inclusive realizado partidas na capital Vitória, conforme narramos em outro artigo. Nunca disputou, porém, campeonatos do Sul do Estado, o famoso "Sulino" que foi realizado a partir de 1930: essa honraria coube ao SC Ypiranga em 1935. Esteve em atividade até 1936 quando, após quase vinte anos de vida, foi extinto para dar origem ao Independente AC.


Gerson Moraes França

terça-feira, 27 de junho de 2017

Crônicas da História de Mimoso (II)

Uma das boas coisas de se escrever crônicas históricas é a liberdade de contar a história em diferentes recortes temporais ou espaciais, sem seguir, necessariamente, um roteiro ou uma sequência lógica. Posso falar sobre um distrito, depois falar sobre algum acontecimento relevante, dar seguimento com os primórdios, e terminar falando de uma personalidade. Posso tratar de um fato específico e depois fazer análises de cunho macro. Não há regra que não seja a da seriedade com o meu trabalho e a busca pela veracidade (tanto quanto for possível) das informações, bem como a busca por fazer o leitor compreender e entender o processo histórico que, com rupturas e continuações, deu no que conhecemos e vivemos hoje.

Outra coisa boa é que posso usar dessa plataforma de internet para iniciar um trabalho historiográfico científico, visando uma futura e difícil publicação. Aqui difundo minhas pesquisas e propago o conhecimento, enquanto vou organizando, usando dos textos, uma obra que possa ser classificada como de História. Mas desde já aviso: essas crônicas não são memorialistas: são historiográficas. Nada do que aqui colocarei foi inventado ou imaginado por mim. E todas as presunções, quando e se houver, são fundamentadas em análises que venho executando, com muito critério, há anos. Aqui não haverá "achômetro" nem versões resgatadas de antigos sem a devida contextualização no tempo e no espaço; afinal, memórias são fonte, mas são falhas e precisam ser muito, muto bem analisadas, para que possam ser aproveitadas.

Por fim, não sou um teimoso imaleável. O bonito da história é a sua dinâmica. A "descoberta" de novos documentos podem reverter todo um entendimento ou uma versão. Ao historiador cabe essa frequente busca, essa revisitação e (re)construção da história. Não me entendo como o senhor da verdade, mesmo que aqui fundamente todos os fatos e versões com documentação rigorosamente analisada. Não sou monolítico a ponto de defender teses indefensáveis à luz de novas informações relevantes e confiáveis. A história está em frequente edificação. E é dessa edificação que não desejo, nunca, me afastar.

Gerson Moraes França

Crônicas da História de Mimoso

Certa feita e faz muitos anos, acho que na Biblioteca Pública Estadual, tive acesso à obra "Crônicas de Cachoeiro", do renomado autor Levy Rocha. O livro trata, em formato de crônicas, de várias passagens da história de Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. Apesar do formato, o trabalho era fundamentado, na maioria das informações, com fontes primárias. Não sei se seria considerado, hoje, um "trabalho científico historiográfico"; mas a narrativa, fulcrada na seriedade, metodologia e preocupação histórica do autor, ficou maravilhosa: história regional séria, confiável e, melhor, gostosa de se ler.

Quem começou a fazer história regional de Mimoso do Sul usando de um formato parecido, mas com verve toda própria, foi nosso maior cronista contemporâneo, Gilberto Braga Machado. Inspirado em ambos, e tentando resolver um problema "logístico" (a escrita da história demanda muito tempo, e sua publicação é difícil e onerosa), resolvi tentar fazer o mesmo. A crônica me permite tratar da história de Mimoso do Sul sem a rigorosa (e necessária, reconheço) metodologia científica historiográfica. Posso escrever para quem lê, e fazer o que mais desejo: divulgar uma história séria e comprometida com a documentação primária de forma mais agradável e palatável ao leitor. Afinal, penso, é preciso difundir o conhecimento. Guardá-lo para si não faz muito sentido.

Assim, em meus próximos escritos, tratarei da história de Mimoso do Sul em crônicas que, espero, não sejam (muito) massantes. Será, todavia, um trabalho sério; mesmo que falhe na citação das fontes que fundamentam as assertivas, posso a qualquer momento trazê-las para provar minhas teses e comprovar os fatos. Demorei anos, mas cataloguei, em meus arquivos, cada uma delas. É também preciso registrar: conforme aprendi em Metodologia e Teoria da História, na UFES, fiz a crítica de todas as fontes, comparando-as, analisando-as, compreendendo o geral e o específico, dentre outros afazeres metodológicos que são obrigação para o historiador sério e comprometido.

Minhas pesquisas sobre a história de Mimoso do Sul, São Pedro do Itabapoana, do sul espírito-santense e do Espírito Santo em geral, já duram vinte anos e provavelmente vão durar tantos anos quantos ainda restam-me no mundo. É um vício apaixonante e um tesão incontrolável que me move. Inexplicável. E espero que seja útil de alguma forma. Ou, no mínimo, que seja uma leitura agradável aos que gostam de história regional.

Gerson Moraes França

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

1930 - Só os Telegrafistas Resistiram

À direita, a casa onde funcionava a repartição dos Correios e Telégrafos em Mimoso.
Pertencente à municipalidade, foi demolida ainda na década de 1930.

Fonte da foto: Mimoso in Foco

Duas são as personalidades que tornaram-se as mais simbólicas e conhecidas quando se trata da resistência dos moradores de São Pedro do Itabapoana à tomada da sede do município e da comarca: Rosa Caroli, professora que resistiu à espoliação do patrimônio público da antiga Prefeitura de São Pedro, e Grinalson Medina, comerciante, político e jornalista que, usando do papel e da pena, tentou por anos restabelecer o status quo ante da municipalidade sãopedrense.

Mas essas duas personalidades, tão identificadas com a resistência sãopedrense, atuaram em momentos posteriores à mudança da sede para Mimoso, então rebatizada de João Pessoa. Cumpriram importante papel. Rosinha, simbolizando a resistência física pela indignação do povo local contra a espoliação, representada pela retirada de móveis e objetos do prédio da antiga Prefeitura em 1931; e Grinalson, representando a mobilização dos moradores pela revogação do ato que consideravam uma grande injustiça, recorrendo à publicações jornalísticas e confecção de documentos encaminhados às mais altas autoridades do país.

Ambos foram reativos post factum : até porque, naquele outubro de 1930, quando as forças revolucionárias provenientes de Minas Gerais tomaram todo o sul do Estado do Espírito Santo, ninguém em São Pedro ou em Mimoso imaginava que um ato como esse, mudar a sede de um município via ato discricionário e decreto, pudesse ocorrer. Até então, o que ocorria era um movimento armado para derrubar o governo federal e, via reflexa, fazer cair os governos dos Estados alinhados com o Presidente da República. Igualmente, derrubar os governos municipais situacionistas nesses Estados. Esse era o caso do Espírito Santo e de seus municípios, cujos governos eram todos solidários ao Presidente Washington Luís.

No Espírito Santo, houve resistência ao avanço das tropas revolucionárias mineiras. Houve um renhido combate em Baixo Guandu, então distrito de Colatina lindeiro à Aimorés/MG, no eixo da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Nessa peleja, que ficou conhecida como "Batalha do Guandu", as tropas espírito-santenses foram derrotadas pelas forças mineiras, havendo alguns mortos e muitos feridos. No sul do Estado, na estação de Coutinho, entroncamento da estrada de ferro que demandava Carangola e Castelo, também houve um combate; menos feroz que em Baixo Guandu, e que se resumiu a um intenso tiroteio, procedido da retirada das tropas capixabas para Cachoeiro de Itapemirim. Os revolucionários avançavam em todas as frentes, dentro do Estado do Espírito Santo.

Em São Pedro e em Mimoso, o que corriam eram os boatos. Legalistas e revolucionários proclamavam suas vitórias, e era difícil saber exatamente o que estava se passando no resto do país. Até que os fatos suplantavam os boatos. Já à alguns dias, sabia-se que uma tropa revolucionária havia tomado a cidade de Itaperuna, no norte do Rio de Janeiro, e que um pequeno destacamento havia ocupado Bom Jesus, do outro lado do rio Itabapoana. Sabia-se, também, que uma tropa mais numerosa havia ocupado Veado (hoje, Guaçuí) e Alegre, e que marchava para Cachoeiro pelo eixo da Estrada de Ferro Leopoldina. Mas também sabia-se que uma numerosa tropa legalista operava para resistir à esses avanços no rumo de Cachoeiro.

Com o início da revolução, o grosso do pequeno destacamento policial em São Pedro e em Mimoso foi retirado para o Quartel do Regimento em Vitória. Isso também ocorreu em vários municípios do Estado onde a presença dos destacamentos não era tão necessária. Algumas municipalidades criaram os chamados "batalhões patrióticos", tropas irregulares e mal armadas que serviam para policiar as cidades e vilas e, caso necessário, resistir à alguma investida dos revoltosos. Não foi o caso de São Pedro e Mimoso. As autoridades locais, confiantes de que o governo debelaria essa revolução, assim como já havia derrotado outras durante a década de 1920, não tomaram nenhuma providência para criar uma Guarda Municipal, muito menos um batalhão patriótico. O Município não possuía limites com Minas Gerais, e acreditava-se não haver necessidade disso.

Fiaram-se, porém, no decreto do governo federal que convocou os reservistas do Exército. Essa "tropa" é a que foi utilizada, por alguns dias, para fazer a segurança de São Pedro e de Mimoso, na medida que os reservistas iam sendo "incorporados" e remetidos ao Rio de Janeiro. Armando alguns dos que se apresentaram, e "cassando" os que não queriam se apresentar - alguns até se esconderam em casas de parentes ou se refugiaram em fazendas ou sítios -, o Prefeito, que também era o Presidente da Junta de Alistamento Militar, tinha a sua "tropa". À eles se somavam alguns dos seus "capangas", empregados de sua Fazenda que ficava próxima a Mimoso e era servida até por uma parada da Estrada de Ferro Leopoldina, e que faziam a sua segurança pessoal.

Até que a realidade chegou. Na metade do mês de outubro, as comunicações entre Mimoso e a capital do Estado, via Cachoeiro, foram caladas. Tropas revolucionárias haviam ocupado a cidade vizinha de Muqui. Os boatos começaram a correr. No dia seguinte, começa a circular a notícia de que o Presidente do Estado, Aristeu Aguiar, havia fugido, e que Cachoeiro havia caído e sido ocupada pelas tropas comandadas pelo Major revolucionário Joaquim Barata. Ato contínuo, as comunicações de São Pedro e Mimoso com Campos e a capital federal também se calaram: o entroncamento de Murundu, no município campista, havia sido ocupado por tropas revoltosas. São Pedro de Itabapoana e o distrito de Mimoso estavam isolados.

Nesse momento, as autoridades trataram de cuidar, cada qual, de si. O Prefeito deixou o povoado de Mimoso e se refugiou em sua propriedade próxima, a Fazenda Pauliceia. A segunda turma de reservistas, que se preparava para embarcar para o Rio de Janeiro, foi dispersada e mandada de volta para suas casas. Tiveram sorte melhor que a primeira turma, em número de trinta, que havia sido despachada dias antes. Alguns políticos e vereadores também deixaram os núcleos urbanos, em demanda à alguma Fazenda própria, ou de parentes ou amigos. Outros, fecharam-se em suas casas e aguardaram o desenrolar dos acontecimentos. Aguardava-se a chegada, à qualquer momento, das tropas revolucionárias. Os mesmos que bradavam em alto e bom som que tudo fariam para derrotar o impatriótico movimento, e que prestavam incondicional solidariedade aos Presidentes da República e do Estado, agora se protegiam da melhor forma que podiam, temendo algum excesso que pudesse ocorrer por parte dos revolucionários. De todo modo, naquelas circunstâncias, seria uma temeridade qualquer tipo de resistência armada: se havia alguns fuzis e carabinas, havia muito pouca munição; e os homens eram poucos também. Melhor seria aguardar uma eventual, mas improvável, investida das poderosas tropas legalistas, formadas pela Polícia Fluminense e pelos Fuzileiros Navais, que se encontravam em Campos, no caso de serem despachadas para retomar Cachoeiro do Itapemirim.

Poucos dias se passaram, e nada de tropas. Nem revolucionárias, nem legalistas. Os políticos liberais de São Pedro e de Mimoso, já encorajados pela fuga das autoridades, mas sem coragem suficiente para depor o governo e ocupar os prédios públicos, estavam a aguardar a chegada dos revolucionários; tentavam acalmar a população temerosa, pois os boatos de excessos e saques corriam soltos. A expectativa era grande. E aí surgem as figuras das únicas pessoas que, ao que temos conhecimento, resistiram de algum modo à ocupação de São Pedro e de Mimoso pelas tropas revoltosas.

Em São Pedro, após as notícias ou boatos de que os revolucionários haviam ocupado todos os municípios do entorno, e com a debandada das autoridades e das pessoas ligadas à legalidade, um grupo de políticos liberais também acalmavam a população. O Delegado da cidade, um dentista, sem que nada pudesse fazer, e assim como outros, estava trancado em sua casa. Enquanto os revolucionários iam vindo, o então o agente dos Correios e Telégrafos, Yvonne Feitosa de Aguiar, não se fez de rogado: pegou o aparelho do telégrafo e retirou-o da Agência, que também era a sua residência. Enfiou-se em um cafezal próximo, escondendo a aparelhagem. Quando as tropas revolucionárias chegaram para tomar e ocupar São Pedro, vindas pela estrada do distrito de Antônio Caetano (atual Apiacá), não puderam se comunicar com Itaperuna, então "quartel general" do Major revolucionário Otto Feio e de onde haviam sido despachadas sob ordens deste último.

Os revolucionários, então, tomaram algumas medidas e providências mais urgentes e rápidas, antes de partirem para Mimoso, que era o ponto final daquela operação militar. Tomaram o prédio da Prefeitura, dissolveram a Câmara (onde não havia nenhum vereador para entregar o prédio) e depuseram o Prefeito (que se encontrava refugiado em sua fazenda próxima à Mimoso), constituindo um novo governo e empossando um deles como Interventor do município de São Pedro do Itabapoana, de acordo com ofício assinado pelo Major Feio.

Partiram então, pela estrada do Catuné e Palestina, para ocupar o povoado de Mimoso. Assim que chegaram, tomaram as medidas que eram comuns quando uma tropa revoltosa ocupava alguma localidade: ocuparam a Estação ferroviária, que constituíram em "quartel general" e, depois, encaminharam-se para controlar a Agência dos Correios e Telégrafos. O agente, Antônio Bonifácio de Castro, conhecido como "ABC", decidiu não entregar a repartição aos revoltosos. Iria resistir à ocupação, e trancou as portas da Agência que, assim como em São Pedro, também era a residência do agente. Uma esquadra de soldados revolucionários foi mandada para resolver a situação: posicionaram-se defronte à Agência, com os fuzis apontados para a mesma. Curiosos encheram o entorno da rua. Após algumas negociações, o telegrafista cedeu, e entregou a repartição. No dia seguinte, os revolucionários iriam "decretar" a mudança do nome da localidade, de Mimoso para "João Pessoa", em uma homenagem ao "mártir" dos liberais.

Quanto à algumas das autoridades decaídas, o novo Interventor municipal determinou que fossem "buscadas" aonde estivessem, e ficassem sob custódia em Mimoso. Assim, o Juiz de Direito e o Promotor Público foram "hospedados" no Hotel Amorim, próximo da Agência Municipal de Mimoso, órgão da Prefeitura de São Pedro e sede provisória do governo civil da nova Cidade de João Pessoa. O antigo Prefeito foi buscado em sua Fazenda, e entregou-se aos revolucionários com as chaves da Agência Municipal. Ficou "hospedado" na Estação Ferroviária, e depois foi "colocado" dentro de um vagão de passageiros de uma composição de trens. Vitoriosa a revolução, tiveram todos as suas "custódias" relaxadas.

E aí, o resto, é outra história; história que muitos de nós já conhecemos. Os revolucionários, junto com os liberais locais de Mimoso e alguns adesistas, decidiram mudar definitivamente a sede do município e comarca, retirando-a de São Pedro e alocando-a em Mimoso, agora chamada de João Pessoa. Vitoriosa a revolução e constituídos os novos governos federal e estadual, os atos locais foram ratificados pela Interventoria do Estado. E as autoridades federais lavaram as mãos para os reclames dos sãopedrenses.

Eis aí a história dos únicos que, de alguma forma, praticaram algum ato de resistência às tropas revolucionárias que avançavam inexoravelmente para tomar e ocupar todo o sul do Estado do Espírito Santo e norte do Estado do Rio de Janeiro. Dois funcionários públicos federais. Dois telegrafistas chefes das Agências dos Correios e Telégrafos de São Pedro e de Mimoso. Não de armas em mãos, mas apenas com atitudes.

Yvonne Feitosa de Aguiar havia iniciado na profissão como auxiliar de estação, na Agência de São Pedro. Em 1927 foi promovido à praticante diplomado e admitido na Repartição Geral dos Telégrafos, assumindo como telegrafista a chefia de sua Agência. Teve a ajuda de Clarindo Lino e de Abner Mourão para efetivar-se no cargo. Depois da mudança da sede, permaneceu ainda por anos à frente da repartição.

Antônio Bonifácio de Castro, o ABC (apelido adquirido pelo costume que tinha de assim assinar seu nome quando transmitia os telegramas), era funcionário antigo da repartição. Havia antes sido conferente de uma estrada de ferro no Rio de Janeiro, entrando como telegrafista praticante na Estrada de Ferro Central em 1910. Com o passar dos anos, foi fazendo carreira e sendo promovido. Em 1919, ao ser promovido para telegrafista de 3ª classe, foi removido para servir em Vitória, capital do Estado. Em 1923, foi removido para Vila Velha e, em 1925, estava servindo como encarregado da estação telegráfica de Cachoeiro do Itapemirim. Com a criação da Agência do Telégrafo Nacional em Mimoso, em 1929, para lá foi transferido. Após o episódio de 1930, foi removido para Salvador, na Bahia e, depois, também serviu em Feira de Santana e no Estado de São Paulo. Aposentou-se no final de 1939, após trinta anos de serviço.


Por: Gerson Moraes França

Em frente aos passantes, a casa onde funcionou a Agência dos Correios e Telégrafos em São Pedro.
Ainda hoje existente, e tombada como patrimônio histórico pelo Conselho Estadual de Cultura.

Fonte da foto: JR Notícias