quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Corrigindo a História

É muito comum, em localidades que não preservam sua memória, que alguns assuntos de natureza histórica sejam subvertidos, esquecidos ou construídos artificialmente. Forma-se uma tradição sedimentada, uma espécie de mitologia que se transforma em realidade incontestável. O passar dos anos muitas vezes deturpam ou fazem embaçar os acontecimentos do passado. Os fatos passam à ser repetidos sempre na mesma vertente, sem a necessidade de se apurarem novas fontes. Essas repetições orais da tradição são, depois, colocadas em livros e trabalhos históricos, e criam uma característica de realidade. Novos escritores não mais procuram pela essência, e apenas repetem o que alguém escreveu antes.

Em Mimoso do Sul essa premissa também se repetiu. Foram criadas versões, modificadas pelo tempo e pelos interlocutores, que se transformaram em realidades incontestáveis. Uma vez colocadas em formato de texto, sedimentaram-se.

Comecei a reparar que havia alguns equívocos na historiografia mimosense assim que iniciei minhas pesquisas em fontes primárias. Muitos erros e/ou omissões são apenas pontuais, não interferindo muito no desenvolvimento da nossa verdadeira história. Alguns outros são mais relevantes, transformando um equívoco ou uma construção fictícia em realidade que muda a essência dos fatos históricos.

Cito um exemplo do primeiro caso, um erro apenas pontual, mas que é, do ponto de vista do pesquisador, erro grosseiro. Nas primeiras eleições realizadas em Mimoso do Sul pós-1930, a historiografia local dizia que o candidato vencedor - Pedro José Vieira - era do PL (Partido da Lavoura). Verifiquei que Pedro Vieira era de outro Partido, e que o candidato do PL havia sido derrotado. Guardadas as devidas proporções, seria como se um historiador, quarenta anos no futuro, escrevesse que o vencedor das eleições presidenciais de 1994 havia sido Fernando Henrique Cardoso, do PT (Partido dos Trabalhadores)...

Desse modo, sempre pautado em documentos primários, comecei à desmistificar certas realidades históricas que eram tratadas como fatos incontestes.

O calçamento em pedra "pé-de-moleque" de São Pedro do Itabapoana foi construído no século XIX por escravos, como afirmam os folhetins?

Mimoso era getulista, e São Pedro era prestista; por isso a Comarca foi transladada em 1930. Isso realmente corresponde à verdade, conforme rezam todos os trabalhos que se debruçaram sobre a matéria?

O Coronel Paiva Gonçalves foi realmente o responsável pela mudança da sede da Comarca, como afirmam todos os entendidos?

Essas são apenas umas poucas das perguntas que eu respondi em minhas pesquisas, e que aqui elenquei por serem relevantes. Outros assuntos foram corrigidos e desmistificados; e omissões foram trazidas de volta à história.

Consegui apurar também algumas curiosidades interessantes. Algumas poucas delas seguem abaixo.

É conhecida de todo mimosense a famosa história do dia 02 de novembro de 1930, quando treze caminhões, escoltados por soldados, entraram em São Pedro do Itabapoana e "roubaram" a Comarca. Você sabia que esses treze caminhões eram TODOS os caminhões então existentes em Mimoso, Torres e D. América?

Você sabia que a porta de entrada da Igreja de São Pedro é a mesma à mais de cem anos? E que o famoso chafariz, esculpido em pedra em formato de jacaré, que ficava em São Pedro, foi surrupiado e levado para Guarapari?

Você sabia que uma viagem à cavalo de Cachoeiro à Mimoso demorava oito horas em 1895, quando os trilhos da Leopoldina chegaram até nossa cidade? E que de São Pedro à Mimoso, na mesma época, uma viagem à cavalo demorava quatro horas?

Enfim. Alguns assuntos são pouco relevantes, sendo mais simples curiosidades. Outros são muito relevantes, pois modificam a versão tradicional da história que vem sendo divulgada, anos à fio, sobre nossa Mimoso do Sul.

3 comentários:

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  2. Eu já andei e viajei muito a cavalo.Fiz vários percussos. O que mais fiz foi de Muqui à fazenda Aliança do Seu Jair de Carvalho. A fazenda ficava na divisa de Muqui c/ Jeronimo Monteiro.Saía por volta de 5 horas e chegava lá pelas 10:30. Será que de Cachoeiro a Mimoso se levava, em média, só 8 horas a cavalo?Fica a ressalva que eu andava devagar para não maltratar o animal.

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