sábado, 21 de novembro de 2009

Serpa, estão tranformando Limeira do Itabapoana em Vila da Rainha!

Você sabe quem foi Phocion Serpa?

Talvez, principalmente se você for da área da medicina, o conheça. Ele, além de médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, escreveu uma famosa biografia de Oswaldo Cruz; e ele foi também Secretário Geral do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) na década de trinta. Se você for natural de Campos/RJ, talvez também o conheça. Ele é natural deste Município, onde nasceu em 1892.

Serpa, onde quer que esteja hoje (ele faleceu em 1967), não deve estar satisfeito com a recém "descoberta" das "inéditas" ruínas que os pesquisadores do Museu Nacional "acharam". Afinal, Serpa nasceu ali, na antiga e hoje desaparecida Limeira do Itabapoana, da qual só sobraram as ruínas. Estão dizendo que o seu torrão natal, que por muitos anos quedou enterrado sob sedimentos e mato, seria a antiga e quinhentista Vila da Rainha, edificada por Pero de Góis provavelmente em 1536.

O que deve deixar Serpa mais triste é o fato de que ele foi Secretário do Conselho Nacional de Cultura, no final da década de trinta. Como pesquisador e escritor que foi, ligado à área da cultura, deve estar pensando: "como podem os pesquisadores do Museu Nacional confundirem as ruínas da antiga Limeira do Itabapoana como se fossem da extinta Vila da Rainha?"


Documentos sobre a existência do povoado e porto de Limeira de Itabapoana são fartos. Todos os trabalhos sobre a geografia e história do Espírito Santo elaborados no século XIX, contemporâneos à existência do núcleo, citam Limeira como povoado e porto, informando que ficava este até onde o Itabapoana era navegável desde a foz.

Quando os mineiros e fluminenses penetraram na região do vale do Itabapoana, no final da primeira metade do século XIX, e iniciaram a colonização local abrindo fazendas de café, o porto de Limeira acabou se tornando escoadouro natural para toda a produção cafeeira do médio e alto Itabapoana. Toda a produção regional era transportada por tropas até os arraiais de Bom Jesus e de Limeira, descendo desta última em pequenas embarcações até a Barra do Itabapoana, de onde seguia para a cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império.


História e Estatistica da Prov. do Esp. Santo - José Marcellino P. Vasconcellos - 1858


O arraial se transformou em povoado, e cresceu. Com o passar do tempo, foi erigida uma Capela (da qual ainda hoje existem as ruínas), foi estabelecido posto fiscal e de arrecadação, foi construída uma escola, e até uma linha de navegação à vapor ali operou. Obviamente que os povoados interioranos do século XIX não podem ser comparados às nossas cidades interioranas de hoje; mas, para a época e para a região, Limeira era um povoado relativamente próspero.

Narrativa do Dep. Affonso Celso na Sessão da Câmara dos Deputados - 04/06/1864


E agora, por desconhecimento de nossa história local, estão sepultando de vez o povoado e porto de Limeira do Itabapoana, imputando aos seus restos, única coisa que sobrou de um rico passado, a alcunha de Vila da Rainha.

Por favor, não façam essa desfeita para com Phocion Serpa!
E, pensando bem, Pero de Góis também não deve estar muito satisfeito...

Gerson Moraes França


Fontes -

Biografia de Phocion Serpa:
http://www.coc.fiocruz.br/areas/dad/guia_acervo/arq_pessoal/phocion_serpa.htm

Ensaio sobre a História e Estatistica da Provincia do Espírito Santo
Por José Marcellino Pereira de Vasconcellos - 1858

Anais da Câmara dos Deputados, Volume 2, 1864

Arquivo pessoal

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