terça-feira, 19 de outubro de 2010

A decadência de Limeira, contada pelo Correio

Muito já disse eu, no BLOG, sobre Limeira de Itabapoana. Vários posts. Talvez (quem tem saco pra ler o BLOG) já esteja enjoado; mas eu, não! =)

O povoado de Limeira, importante dizer, cresceu na margem fluminense do rio Itabapoana. A "Limeira espirito-santense" era, digamos, apenas um pequenino "apêndice" daquela; só que do nosso lado do rio, cem metros abaixo. O núcleo e o movimento ficavam na margem campista. No rio Itabapoana, outras vilas espírito-santenses nasceram desse mesmo modo: Bom Jesus do Norte, que nasceu por causa da Bom Jesus fluminense, e Ponte de Itabapoana, que surgiu por causa da proximidade com a "ponta de trilhos" em Santo Eduardo, também no Estado do Rio. Inclusive, por muitos anos, Ponte de Itabapoana foi chamada de Ponte de Santo Eduardo.

A distância entre as margens fluminense e espírito-santense do rio Itabapoana, nesses pontos, é de pouco mais que 50 metros. Nada mais natural, pois, que os povoados nascentes não respeitassem nenhuma divisa estatal imposta. Os arraiais surgiam e cresciam indiferentes à isso. Como a "Limeira campista" era o núcleo mais movimentado, sendo a "nossa Limeira" apenas um "entreposto" ligado àquela, informo que no presente post escrevo sobre os correios na "Limeira principal". Para a época, porém, tanto fazia aos moradores locais se estavam aquém ou além do rio. Para eles, Limeira era um só povoado e pronto.

Com a chegada da estrada de ferro em Santo Eduardo, em 1879, Limeira sofreu um duro baque. Sua existência e prosperidade devia-se ao fato de ser um entreposto comercial decorrente de seu porto fluvial. Quando os trilhos chegaram em Santo Eduardo, pouco mais de dez quilômetros rio acima, o porto perdeu sua preponderância no escoamento de produtos. Limeira ainda seguiu como pequeno povoado por muitos anos, mas desde então foi decaindo, até desaparecer.

E podemos contar um pouco sobre essa decadência com os Correios! Limeira tinha uma agência dos correios que acaba retratando o ocaso da vila.

Em 1892, por exemplo, o serviço de correios era executado três vezes por semana, ligando a agência de Itabapoana (atual Ponte de Itabapoana) à Limeira. À título de informação, a Freguesia de Limeira era chamada, nessa época, com o pomposo nome de São Luiz Gonzaga da Limeira do Itabapoana.

Temos até os nomes de alguns dos agentes e estafetas que prestaram serviço na Agência do Correio em Limeira. Em 1891, era Manoel Machado da Silva o estafeta e condutor de malas do correio, entre Santo Eduardo e Limeira de Itabapoana, ocasião que foi exonerado à pedido. Em 1901, o agente do correio em Limeira era Antônio G. Maia de Azevedo. Em 1906, o agente Antônio Maia, de mudança, pede exoneração do cargo, e para seu lugar é nomeado Joaquim Lopes Pereira.

Mas este último sequer chegou à tomar posse. Sua nomeação foi declarada sem efeito, e a partir de 01 de agosto de 1906 "foi mandado cessar o funcionamento da Agência do Correio de Limeira do Itabapoana", e passou a ser "a correspondência encaminhada para a Agência de Santo Eduardo". Um estafeta continuou à executar esse serviço, pegando a correspondência deixada na caixa do correio que ficava na antiga Agência de Limeira e levando para Santo Eduardo. Mas a demanda era muito pequena para a despesa. Em 1913, foi definitivamente "suprimida a linha postal de Santo Eduardo à Limeira de Itabapoana, no Estado do Rio".

Assim, resta claro que, em 1913, não havia em Limeira número suficiente de moradores que justificasse a manutenção nem mesmo do serviço de estafeta e condução de malas. E isso sete anos depois de ter sido fechada a Agência do Correio local. Limeira, porém, não foi abandonada assim de "sopetão". Em 1927, quando Phocion Serpa escreveu seu romance ambientado numa já decadente Limeira, o povoado ainda tinha uns poucos habitantes. Em 1932, inclusive, no lado espírito-santense foram reformados dois armazéns de estoque, por causa da crise que abaixou o preço do café e aumentou o preço do transporte ferroviário. O rio Itabapoana chegou a ser desobstruído, e naquele ano alguns barcos levaram parte da produção de café rio abaixo, até a Barra do Itabapoana.

Mas esse foi apenas o último suspiro de esperança para Limeira. Já no ano seguinte, com a Leopoldina adequando o preço do frete, o escoamento do café volta todo para os trilhos. Para azar do empresário Carlos Larica, que reformou os referidos armazéns e executou ele mesmo o serviço de desobstrução do rio.

Hoje, de Limeira só restam ruínas (foto de 2002, do autor)

Gerson Moraes França

Nenhum comentário:

Postar um comentário