Que tal retornarmos, agora, aos tempos mais antigos, antes mesmo dos primórdios da colonização do hinterland das terras que atualmente pertencem ao Município de Mimoso do Sul?
Em outro post, aqui falamos sobre a "fundação" da pequenina aldeia de índios tupis, sob a direção dos jesuítas de Neves e Muribeca, no século XVII, chamada de São Pedro Apóstolo. Importante salientar que nunca houve uma "fundação oficial" para essa aldeia. Seu estabelecimento foi decorrente da "espalhada" dos índios tupis que foram levados, pelos jesuítas, quando estes fundaram a Fazenda Muribeca e a Capela de Nossa Senhora das Neves, no baixo Itabapoana, que atualmente ficam em terras do Município de Presidente Kennedy.
Assim, a aldeia de São Pedro não foi Missão, nem Fazenda, nem Sesmaria, sem nada congênere. Foi apenas um pequeno "arraial", formado quando os jesuítas reiniciaram com o cultivo de cana-de-açúcar na região. Logo e rapidamente, porém, o cultivo da cana foi abandonado, especializando-se a posterior fazenda da Muribeca na criação de gado, que abastecia o Colégio jesuíta de Vitória. Esses índios que inicialmente povoaram a região das primeiras cachoeiras do Itabapoana, que séculos depois seria chamada de Limeira, eram todos provenientes da Aldeia de Reriritiba, atual cidade de Anchieta.
À exemplo de muitos povoados formados por índios aculturados e "caboclos mamelucos", como Piúma, Itaipava/Itaoca, Perocão, Meaípe, Santa Cruz e Riacho, São Pedro era um pequeno arraial onde os seus moradores praticavam pequena agricultura de subsistência, e que se dedicavam à pesca. Quando o eixo da atividade econômica da fazenda Muribeca deslocou-se definitivamente para a criação de gado, mais próximo ao litoral, alguns desses índios continuaram vivendo naquela aldeia. No século XVIII, os jesuítas acabaram adquirindo escravaria negra para as atividades da fazenda.
Sem nenhuma tutela formal, os moradores da aldeia de São Pedro lá sobreviveram em suas atividades de subsistência por cerca de dois séculos. Eram poucos; não mais que cinquenta, em seu início. Seu arraial parece ter sobrevivido à expulsão dos jesuítas, e até mesmo às investidas dos puris. Mas não parece ter sobrevivido aos posseiros, quando o médio e alto Itabapoana foram ocupados por fazendeiros fluminenses e mineiros. Por volta de 1.800, sua pequena comunidade não tinha mais que cinco casas; em 1.850, estavam já esbulhados pelos posseiros. Os caboclos que não se adequaram à nova realidade foram embora.
Existe um registro muito interessante, que foi "garimpado" por Márcia Malheiros e publicado em sua tese de doutorado, "Homens da Fronteira - Índios e Capuchinos na ocupação dos Sertões do Leste, do Paraíba ou Goytacazes", de 2008. Discorrendo sobre a chegada de índios de outras localidades da aldeia de São Fidélis, predominantemente puri, cita na página 294:
"Há também o registro de batismo de Geralda, 'índia', cuja mãe, Claudina do Espírito Santo, foi identificada como proveniente da 'Aldeia de São Pedro do Norte'. Ainda que não tenha sido possível localizar essa Aldeia, pergunto-me o que esta mulher, vinda provavelmente de outro aldeamento, 'mãe solteira', estava fazendo na Aldeia de São Fidélis, em 1840.
Esta, sem dúvida, é mais uma pergunta de difícil resposta. Não há menção sobre os avós maternos de Geralda, filha de pai também incógnito. Os padrinhos escolhidos por sua mãe, registrados sem identificação étnica, também não fornecem qualquer pista. (...)"
É apenas hipótese, claro, mas é plausível crer que Claudina, apelidada "do Espírito Santo", e proveniente da "Aldeia de São Pedro do Norte", sem identificação étnica que não "índia" (assim como se classificavam os antigos índios tupis aculturados), já presente na Aldeia de São Fidélis em 1840 (quando gerou Geralda), tenha lá chegado alguns anos antes, vinda da aldeia de São Pedro. A data também é bem sintomática - a primeira posse, já no hinterland das terras atualmente de Mimoso do Sul, data de 1.837.
O nome "São Pedro" acabou sendo preservado no rio que deságua perto da antiga aldeia, rio no qual, em suas cabeceiras, surgiria anos depois o primitivo arraial de São Pedro do Alcântara, que se transformaria posteriormente na sede do antigo Município de São Pedro do Itabapoana.
No curso da década de 1.840, a localidade passaria a ser chamada de Limeira. Há registro dos proprietários da localidade, na década de 1.850: Manoel Marques de Souza (do lado do Estado de Rio de Janeiro) e a viúva Maria Angélica de Abreu Lima (do lado do Espírito Santo). Tornou-se o porto de onde se escoava, rio abaixo até a barra, toda a produção de café do médio e alto Itabapoana. Cresceu, e de arraial tornou-se povoado e paróquia.
Ainda não se pode afirmar o porquê do nome "Limeira". Seria porque haviam muitas limeiras na localidade? Não é impossível; afinal, foram quase dois séculos de ocupação por famílias de pescadores que tinham pequenas lavouras de mantimentos e subsistência. Mas é apenas mera hipótese. A fazenda de Manoel Marques de Souza já era classificada como sendo em "Limeira do Itabapoana", mas ainda não é possível saber se foi ele quem cognominou, ou não.
Em outro post, aqui falamos sobre a "fundação" da pequenina aldeia de índios tupis, sob a direção dos jesuítas de Neves e Muribeca, no século XVII, chamada de São Pedro Apóstolo. Importante salientar que nunca houve uma "fundação oficial" para essa aldeia. Seu estabelecimento foi decorrente da "espalhada" dos índios tupis que foram levados, pelos jesuítas, quando estes fundaram a Fazenda Muribeca e a Capela de Nossa Senhora das Neves, no baixo Itabapoana, que atualmente ficam em terras do Município de Presidente Kennedy.
Assim, a aldeia de São Pedro não foi Missão, nem Fazenda, nem Sesmaria, sem nada congênere. Foi apenas um pequeno "arraial", formado quando os jesuítas reiniciaram com o cultivo de cana-de-açúcar na região. Logo e rapidamente, porém, o cultivo da cana foi abandonado, especializando-se a posterior fazenda da Muribeca na criação de gado, que abastecia o Colégio jesuíta de Vitória. Esses índios que inicialmente povoaram a região das primeiras cachoeiras do Itabapoana, que séculos depois seria chamada de Limeira, eram todos provenientes da Aldeia de Reriritiba, atual cidade de Anchieta.
À exemplo de muitos povoados formados por índios aculturados e "caboclos mamelucos", como Piúma, Itaipava/Itaoca, Perocão, Meaípe, Santa Cruz e Riacho, São Pedro era um pequeno arraial onde os seus moradores praticavam pequena agricultura de subsistência, e que se dedicavam à pesca. Quando o eixo da atividade econômica da fazenda Muribeca deslocou-se definitivamente para a criação de gado, mais próximo ao litoral, alguns desses índios continuaram vivendo naquela aldeia. No século XVIII, os jesuítas acabaram adquirindo escravaria negra para as atividades da fazenda.
Sem nenhuma tutela formal, os moradores da aldeia de São Pedro lá sobreviveram em suas atividades de subsistência por cerca de dois séculos. Eram poucos; não mais que cinquenta, em seu início. Seu arraial parece ter sobrevivido à expulsão dos jesuítas, e até mesmo às investidas dos puris. Mas não parece ter sobrevivido aos posseiros, quando o médio e alto Itabapoana foram ocupados por fazendeiros fluminenses e mineiros. Por volta de 1.800, sua pequena comunidade não tinha mais que cinco casas; em 1.850, estavam já esbulhados pelos posseiros. Os caboclos que não se adequaram à nova realidade foram embora.
Existe um registro muito interessante, que foi "garimpado" por Márcia Malheiros e publicado em sua tese de doutorado, "Homens da Fronteira - Índios e Capuchinos na ocupação dos Sertões do Leste, do Paraíba ou Goytacazes", de 2008. Discorrendo sobre a chegada de índios de outras localidades da aldeia de São Fidélis, predominantemente puri, cita na página 294:
"Há também o registro de batismo de Geralda, 'índia', cuja mãe, Claudina do Espírito Santo, foi identificada como proveniente da 'Aldeia de São Pedro do Norte'. Ainda que não tenha sido possível localizar essa Aldeia, pergunto-me o que esta mulher, vinda provavelmente de outro aldeamento, 'mãe solteira', estava fazendo na Aldeia de São Fidélis, em 1840.
Esta, sem dúvida, é mais uma pergunta de difícil resposta. Não há menção sobre os avós maternos de Geralda, filha de pai também incógnito. Os padrinhos escolhidos por sua mãe, registrados sem identificação étnica, também não fornecem qualquer pista. (...)"
É apenas hipótese, claro, mas é plausível crer que Claudina, apelidada "do Espírito Santo", e proveniente da "Aldeia de São Pedro do Norte", sem identificação étnica que não "índia" (assim como se classificavam os antigos índios tupis aculturados), já presente na Aldeia de São Fidélis em 1840 (quando gerou Geralda), tenha lá chegado alguns anos antes, vinda da aldeia de São Pedro. A data também é bem sintomática - a primeira posse, já no hinterland das terras atualmente de Mimoso do Sul, data de 1.837.
O nome "São Pedro" acabou sendo preservado no rio que deságua perto da antiga aldeia, rio no qual, em suas cabeceiras, surgiria anos depois o primitivo arraial de São Pedro do Alcântara, que se transformaria posteriormente na sede do antigo Município de São Pedro do Itabapoana.
No curso da década de 1.840, a localidade passaria a ser chamada de Limeira. Há registro dos proprietários da localidade, na década de 1.850: Manoel Marques de Souza (do lado do Estado de Rio de Janeiro) e a viúva Maria Angélica de Abreu Lima (do lado do Espírito Santo). Tornou-se o porto de onde se escoava, rio abaixo até a barra, toda a produção de café do médio e alto Itabapoana. Cresceu, e de arraial tornou-se povoado e paróquia.
Ainda não se pode afirmar o porquê do nome "Limeira". Seria porque haviam muitas limeiras na localidade? Não é impossível; afinal, foram quase dois séculos de ocupação por famílias de pescadores que tinham pequenas lavouras de mantimentos e subsistência. Mas é apenas mera hipótese. A fazenda de Manoel Marques de Souza já era classificada como sendo em "Limeira do Itabapoana", mas ainda não é possível saber se foi ele quem cognominou, ou não.
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Gerson Moraes França
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