sexta-feira, 18 de junho de 2010

Construindo Mitos Fictícios - Parte 3

Continuando.

Não é nossa intenção ferir egos, muito menos desmerecer a contribuição que nossos historiadores locais deram para a preservação de nossa memória. Se ainda temos pouca coisa, ao menos temos alguma coisa: e isso é fruto da dedicação e do trabalho que algumas pessoas desprenderam em prol da história de Mimoso do Sul. Antes algo, do que nada. Inclusive, tecemos alguns comentários acerca desses heróis que preservam nossa história; tal escrito pode ser lido clicando nesse LINK.

Mas, a despeito das palavras supra aludidas, não podemos fechar nossos olhos e deixar de corrigir equívocos, erros ou omissões. Se novos documentos trazem fatos novos à luz, se novas pesquisas trazem a tona algo que corrija alguma coisa, é nosso dever de pesquisador reproduzir esses achados, e acertar o que está desvirtuado. Obviamente, desde que devidamente fundamentado. Assim, estaremos dando nossa contribuição de forma benéfica, pois a busca da verdadeira história é o objetivo maior de qualquer pesquisador.

Mas não tratarei aqui dos fatos em si. Esses documentos, esses fatos, essas correções, são objeto de um trabalho que estou presentemente escrevendo, e que em breve será publicado. Desse modo, não posso explicitá-los neste espaço, porque, se assim eu fizer, estarei adiantando a essência e o objeto principal de minha futura obra. Minha intenção é publicar o livro no dia 26 de novembro de 2010, data referencial de Mimoso do Sul, pois se trata da data em que foi devidamente formalizada a nossa situação político-administrativa pós movimento de 1930. No corrente ano estamos completando o 80º aniversário dos acontecimentos.

Para adentrar na seara que pretendo expor, é preciso deixar claros alguns conceitos. Embora, na década de 1980, tenha sido feito um esforço para transformar a "Mudança da Comarca" em um acontecimento de continuidade, como se São Pedro e Mimoso fossem simplesmente parte de um processo uno e de transição, o fato é que houve ruptura traumática. Essa ruptura, levada a efeito pela força, é característica que permanece entranhada na tradição e no consciente (e também no inconsciente) coletivo mimosense. Tal ruptura, pelo fato em si, tornou-se algo tão cristalizado e sedimentado, que não houve quem conseguisse transformá-la em algo brando. O jargão de que "todo mimosense era um são-pedrense até 1930, e que todo são-pedrense tornou-se um mimosense após 1930", construído intelectualmente na década de 1980 para fomentar uma identidade coletiva e fundamentar um processo histórico de continuação e transição, não conseguiu sepultar a noção de ruptura traumática.

A historiografia mimosense subverteu alguns fatos e papéis de protagonistas, mas nunca logrou êxito em sedimentar novo "sentimento" em relação ao fato "Mudança da Comarca". As expressões "roubo da Comarca", por parte dos são-pedrenses, e "tomada da Comarca", por parte dos mimosenses, são marcas visíveis dessa dicotomia. Embora hoje, de fato, passados tantos anos, são-pedrenses e mimosenses sejam parte de um ente uno e compartilhem uma identidade comum, essa dicotomia mantém-se firmemente viva na memória da sociedade local.
.
Continua no próximo post.

Nenhum comentário:

Postar um comentário