quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A Proclamação da República em São Pedro do Itabapoana

O 15 de novembro chegou no dia 16, e foi festejado no dia 20


Leitor, o título do presente post pode não ser muito apropriado. Não houve proclamação de república alguma em São Pedro do Itabapoana. Escrevo aqui sobre a Proclamação da República no Brasil, e como foi que esse fato se passou naquela povoação. Acredito que o leitor certamente entendeu o título mas, pelo sim, pelo não, entendi por bem iniciar com esse intróito elucidativo.

São Pedro do Itabapoana, em novembro de 1889, era ainda uma Freguesia do Município de Cachoeiro do Itapemirim. Apesar de haver uma Lei  datada de 1887, criando o Município  de São Pedro e separando as vertentes do Itabapoana das do Itapemirim, não havia ocorrido a instalação do nova municipalidade. Isso porque a legislação imperial e provincial exigiam que, para haver a instalação do Município, era necessário, antes, que o povo local levantasse o Paço da Câmara, em subscrição corrida na Paróquia. Assim, dois anos depois da Lei que criara o ente municipal e apesar da prosperidade local, por não haver ainda sido concluída a edificação que serviria de câmara, São Pedro do Itabapoana seguia como parte do Município de Cachoeiro do Itapemirim.


PROCLAMA-SE A REPÚBLICA NO BRASIL ...

Aristides Lobo, em carta escrita na tarde do dia 15 de novembro, publicada em forma de artigo no dia 18 no jornal carioca "Diário Popular", assim diz em certo trecho, quando faz referência ao golpe cívico-militar que derrubou a Monarquia:
"O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava".

Em São Pedro do Itabapoana, também, não houve manifestação popular alguma. Manifestação popular maior aconteceu em setembro de 1888, por engano, quando o campista Nilo Peçanha esteve em São Pedro para fazer uma conferência sobre a forma republicana de governo; na ocasião, os negros supuseram que a reunião se tratasse do retorno da escravidão, e criaram um "ligeiro incidente" que fez a sessão "correr apreensiva", segundo as palavras de Grinalson Medina em sua obra. Desfeita a confusão, os negros voltaram à suas pacatas e suadas vidas de jornadas e serviços. Os mesmos negros que, pouco mais de um ano depois, iriam se refestelar com o banquete público - rega bofe, no coloquial da época - promovido pelo Clube Republicano sãopedrense em comemoração ao advento da República.

Houve, sim, e é claro, comemorações por parte da elite sãopedrense que havia aderido ao movimento republicano pouco mais de um ano antes de 1889. Os dois Clubes Republicanos da Freguesia de São Pedro do Alcântara foram fundados em agosto de 1888, um na Paróquia de São Pedro, então sede da Freguesia, e outro na Paróquia de Conceição do Muqui, que havia sido sede da mesma Freguesia até o ano de 1880. A maioria dos grandes proprietários que aderiram ao republicanismo o fizeram somente após a abolição da escravatura, em maio de 1888.

Mas, mesmo assim, o ideal republicano já estava penetrando, e bem penetrado, nas mentes de muitos dos locais, e isso antes mesmo da Lei Áurea. Em abril de 1888, por exemplo, e antes da abolição da escravatura - destaque-se -, houve eleição para deputado geral. Na Freguesia de São Pedro de Alcântara houve "perturbação da ordem pública", no jargão de então, e o Presidente da Província teve que nomear um Sub-delegado e remeter um destacamento de três praças para "auxiliar as autoridades policiais na manutenção da ordem pública, principalmente na sede do distrito, que de certo tempo em diante tem sido alterada". Mas, mesmo com a "pressão das autoridades", na Paróquia de Conceição de Muqui o republicano e cachoeirense Bernardo Horta venceu o seu rival monarquista do Partido Conservador, Costa Pereira, embora por pequena diferença. Em São Pedro, Costa Pereira foi vitorioso por ampla margem de votos - "livre e expontânea pressão das autoridades policiais na sede do distrito?".


... E A NOTÍCIA CHEGA EM SÃO PEDRO

Assim está no livro de Grinalson Medina, na página 26, acerca da chegada da notícia da Proclamação da República em São Pedro do Itabapoana:
"Em 16 de novembro de 1889, às 8 horas da manhã, chegou à freguesia, via S. Eduardo, o seguinte telegrama: Presidentes Clubes Republicanos, S. Pedro de Alcântara e Saldanha Marinho, S. Pedro do Itabapoana e Conceição do Muqui. Espírito Santo. REPÚBLICA PROCLAMADA. Abraços - Nilo Peçanha".

No mesmo dia, ainda pela manhã, a notícia chegou em Conceição do Muqui. O Clube Republicano local se reuniu e apressou-se em organizar diversos festejos, com grande baile improvisado na noite daquele dia 16 de novembro. Em São Pedro, o Clube Republicano também se reuniu, marcando e organizando uma reunião solene e um banquete público para o dia 20 de novembro. Nesse dia, os festejos foram realizados sob a presidência do médico Olegário Ribeiro da Silva, genro do fazendeiro Olimpio Ribeiro de Castro, discursando os médicos José Coelho dos Santos e Carlos Augusto May. Eram os médicos sãopedrenses "remediando, com a república, os males da monarquia" em seus discursos.

Exatamente um ano depois, em 20 de novembro de 1890, seria finalmente instalado o Município de São Pedro do Itabapoana, e o povoado seria elevado à condição de Vila. Prêmio recebido pelas mãos das novas autoridades republicanas estaduais, que mantiveram vigente a Lei provincial de 1887 que criou o Município, mas fizeram vista grossa ao dispositivo que obrigava a instalação à edificação do prédio da Câmara. Por sinal, o prédio da Câmara só seria inaugurado em 15 de dezembro de de 1896, seis anos após a instalação da municipalidade, e quando a Vila já até tinha foros de Cidade.

No ato da instalação, foram empossados os membros do Conselho de Intendência, nova denominação das Câmaras, cujo Presidente exercia também o poder executivo municipal. Eram cinco os Intendentes, sendo nomeados três republicanos de São Pedro do Itabapoana (Olegário Ribeiro da Silva, designado também Presidente, José Coelho dos Santos e Silvério Francisco Medina) e dois republicanos de Conceição do Muqui (Domingos José de Almeida e Antônio Batista Sobrinho).


Pronto. Foi aqui explanado um pouco sobre o Movimento Republicano e a Proclamação da República em São Pedro do Itabapoana, bem como um pouquinho mais em seu desdobramento. Para quem chegou até aqui e já está satisfeito, o assunto se encerra. Mas, caro leitor que ainda contua a ler essas linhas, que tal algo mais? Tão lacônico o telegrama que comunicou aos sãopedrenses a queda da Monarquia e o advento da República, não concordam? A República chegou em São Pedro, assim, por telegrama insosso. Não estou satisfeito; falta algo. Ocorre que o presente post já está longo. Então, esse "algo mais" virá no próximo post, cujo título é "A Trajetória de um Telegrama".


Gerson Moraes França

7 comentários:

  1. Muito bom. Você tem talento! Invista nele!
    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Pesquisa convincente! Um Historiador que se desdobra para os enigmas de nossa terra. Parabéns.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pelas palavras, Alci! Esse é o "combustível" que nos "alimenta" a vontade para continuar!

      Excluir
  3. Tenho interessa e curiosidade sobre o que aconteceu em Itabapoana durante o Governo de Floriano Peixoto. Se puder faça contato comigo no endereço gutembergmatos@uol.com.br

    ResponderExcluir
  4. Bom dia Gerson!
    Coincidência, fiquei duas horas ao telefone com meu irmão, a maior parte da conversa foi sobre a República Velha, Estado Novo × Muqui

    ResponderExcluir
  5. Acesso o celular e vejo essa publicação sua de 2014...Muito interessante! PARABÉNS!

    ResponderExcluir
  6. Sou nascido em São Pedro. Muito bom o histórico. Leio tudo, principalmente bem feito como faz. Parabéns. Grande abraço. Luiz Gonzaga Guedes dos Santos. De Vitória.

    ResponderExcluir