sábado, 12 de dezembro de 2009

Equívoco da Vila da Rainha chega ao Espírito Santo

E, mais uma vez, cá estou escrevendo sobre o erro que os pesquisadores do Museu Nacional / UFRJ estão cometendo acerca das ruínas "inéditas" "descobertas" na região de Limeira do Itabapoana.

Os fundamentos para a nossa posição estão pululados em vários posts, demonstrando de forma clarividente que as ruínas, além de não serem "inéditas" e serem de conhecimento de todos os que moram na região de Campos e Mimoso do Sul (e arredores), não são os restos da quinhentista Vila da Rainha; muito menos o que sobrou do Engenho de Pero de Góes. São, sim, as ruínas do Povoado de Limeira do Itabapoana, porto que escoava toda a produção cafeeira produzida na alta e média bacia do antigo Camapuan.
Vide:
Pesquisadores confundem Limeira com Vila da Rainha (1)
(Vila da Rainha e Limeira do Itabapoana - Mais um erro sendo construído - 19/11/2009 - com fotos)
Pesquisadores confundem Limeira com Vila da Rainha (2)
(Serpa, estão transformando Limeira do Itabapoana em Vila da Rainha! - 20/11/2009 - com fac-simile's)
Pesquisadores confundem Limeira com Vila da Rainha (3)
(Engenho, Sim - Vila da Rainha, Não - 03/12/2009)


A polêmica tese de que as ruínas seriam da quinhentista Vila da Rainha foi trazida a público após a reportagem do jornal O Globo na edição de 19/09/2009, quando os pesquisadores do Museu Nacional "atestaram categoricamente" que tinham "descoberto" a antiga Vila da Capitania de Pero de Góes. Após, a reportagem repercutiu em outros periódicos, que também publicaram matérias no mesmo teor.

Tal tese, porém, foi logo rebatida e/ou contestada por outros jornais, principalmente os de Campos, com pareceres de historiadores locais, demonstrando que aquelas ruínas não eram as da Vila da Rainha; no máximo, poderiam ser as ruínas do Engenho construído por Pero de Góes na região. A jornalista Jacqueline Deolindo, da "Folha da Manhã", foi a primeira à levantar o provável equívoco da tese, enquanto o pesquisador Arthur Soffiati tecia um elaborado Parecer demonstrando o erro dos pesquisadores do Museu Nacional, publicado em sites e no Jornal "O Rebate" (veja links abaixo).

Vide:
Matéria de Jacqueline Deolindo -
http://www.fmanha.com.br/blogs/oficioparalelo/?p=373&cpage=1
Parecer de Arthur Soffiati -
http://www.jornalorebate.com.br/site/index.php?option=com_content&task=view&id=4454&Itemid=95
http://www.portaldomeioambiente.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2174:vila-da-rainha&catid=932:arthur-soffiati&Itemid=642

Sem querer insinuar nada, mas é fato que na época a repórter Jacqueline Deolindo não conseguiu entrevistar e questionar os pesquisadores do Museu Nacional/UFRJ sobre o possível equívoco, pois os mesmos não puderam dar entrevista à mesma.
A alguns dias, a tese da "descoberta inédita" das ruínas da Vila da Rainha chegou à imprensa capixaba, na edição de "A Tribuna" de 29/09/2009. Nossa imprensa, porém, foi louvadamente mais cautelosa, publicando a tese, mas abrindo espaço para o fato de que existem pesquisadores que se posicionam contra o equívoco dos pesquisadores do Museu Nacional. Todavia, o destaque maior foi dado à tese da "Vila da Rainha".



Não entendo os motivos da insistência dos arqueólogos e pesquisadores do Museu Nacional. Segundo os relatos dos que os entrevistaram, eles "têm certeza absoluta" que as ruínas são da antiga Vila da Rainha. Mas todos os estudiosos antigos, que se debruçaram sobre a matéria com documentos diversos, e muito mais fundamentados dos que as parcas referências primárias que o Museu Nacional usa para fundamentar a hipótese, são patentes ao afirmar que a Vila da Rainha ficava nas proximidades da foz do rio Itabapoana, chamado de Managé pelos silvícolas locais no século XVI. Os iminentes Augusto de Carvalho e Alberto Lamego, que escreveram talvez as melhores obras tratando da Capitania de São Thomé, são claros ao afirmar que a Vila da Rainha ficava para as bandas do mar, próxima a embocadura do Itabapoana, na região da Enseada do Retiro. Carvalho, cuja parte dos seus Apontamentos segue abaixo, esteve inclusive ele mesmo nas ruínas:
"Fundada no decurso do anno de 1538, no logar denominado — Barreiras do Retiro — nao muitas braças ao Sul da barra do rio de Manage (que depois tomou o nome de Camapuana ou Cabapuana e por ultimo o de — Itabapoana) que ainda hoje conserva, — foi a primeira povoaçao d'esta Capitania. Constava de uma capellinha consagrada a S. Catharina, de dois engenhos tocados a cavallos, moinho e alg'uns casebres em que se arranchava a comitiva de Pero de Goes. Para o centro, em logar até hoje ignorado, existiu um outro engenho tocado a agua." (Apontamentos para a historia da Capitania de S. Thomé, por Augusto de Carvalho, 1888)

As ruínas "inéditas descobertas", no máximo, poderiam ser as do Engenho d'água que ficava na região, que foi Povoação por cerca de apenas um ano, não sendo erigida em Vila. Nos Apontamentos de Carvalho, escritos em 1888, ele afirma que esse engenho d'água ficava em "logar até hoje ignorado"; isso porque, nessa data, o Povoado de Limeira do Itabapoana estava construído exatamente em cima de qualquer resto que poderia ter sobrado desse Engenho que, segundo vimos em outro post, não chegou a ser terminado e nunca moeu uma cana.

Por que a insistência? - pergunto eu. "Vergonha" de voltar atrás na tese que foi tão amplamente divulgada na imprensa como sendo descoberta inédita? Por que estão assim tão peremptórios em afirmar que as ruínas são da quinhentista Vila da Rainha, não abrindo sequer espaço para debate?

Sei que seria muito mais "chique" que as ruínas fossem da Vila da Rainha, e/ou também do Engenho quinhentista de Pero de Góes. Dá mais "glamour"; seriam do século XVI, dos primórdios de nossa colonização - "coisa bem antiga". Até porque estão transformando o sítio das ruínas em Parque Arqueológico e Histórico. Isso incrementará o turismo na região, onde os visitantes poderão acompanhar, in loco, os trabalhos dos arqueólogos. Mas, "infelizmente", essas ruínas são os restos do finado Povoado e porto de Limeira do Itabapoana. Por mais que queiram "fabricar" esse erro, cedo ou tarde a história verdadeira será devidamente recomposta. Não é possível "enganar" a história real por muito tempo.


Gerson Moraes França

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