quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Respondendo ao Questionamento

Amigos, colegas, parentes, conhecidos e desconhecidos.

Obviamente, leio todos os comentários que são postados em cada um dos tópicos abertos aqui no Blog. Se não respondo algum dos comentários no próprio site, não fiquem desapontados; o importante é que eu leio os mesmos, com muita satisfação. E, mais importante ainda (ao menos para mim), vejo que o que escrevo foi lido por alguém. Para mim, é um enorme prazer compartilhar essas "notas históricas" com todos que se interessam pelos temas aqui colocados.

Um assíduo leitor do Blog, que é o meu pai, postou um comentário n'um dos posts que publiquei na terça-feira, 17 de novembro de 2009, post esse intitulado de Corrigindo a História. Abaixo segue o comentário e o questionamento elaborados pelo nosso estimado leitor:

Maerson disse...
Eu já andei e viajei muito a cavalo.Fiz vários percussos. O que mais fiz foi de Muqui à fazenda Aliança do Seu Jair de Carvalho. A fazenda ficava na divisa de Muqui c/ Jeronimo Monteiro.Saía por volta de 5 horas e chegava lá pelas 10:30. Será que de Cachoeiro a Mimoso se levava, em média, só 8 horas a cavalo?Fica a ressalva que eu andava devagar para não maltratar o animal.


Assim, no dia de hoje "inauguramos" a nova "seção" do Blog, chamada com grande "originalidade" de "Respondendo ao Leitor". Respondamos, pois, a esse primeiro comentário.

Primeiramente, antes de iniciar o escrito, é importante aqui colocar que eu, como pesquisador, embora possa levantar algumas teses fundamentadas apenas em indícios (embora sempre consistentes), procuro sempre me pautar em documentos para tecer afirmações.


Respondendo ao Leitor -
QUANTAS HORAS DE CAVALO DEMORAVA
UMA VIAGEM ENTRE CACHOEIRO E MIMOSO
NO FINAL DO SÉC. XIX?

Eu havia dito, no post questionado, que eram oito horas de viagem. Como fiz aquele tópico baseado em informações documentais que guardava eu em minha cabeça, acabei errando as horas. Tenho que, urgentemente, parar de confiar sempre na memória, como se esta infalível fosse. Quando for postar qualquer novo informe, irei antes compulsar meus documentos, para, somente após, aqui o colocá-lo com certeza absoluta.

Errei, mas errei por pouco. Errei por uma hora. Na verdade, uma viagem à cavalo entre Cachoeiro e Mimoso no final do século XIX demorava sete horas, e não oito como eu havia dito.

A informação foi coletada no jornal "O Cachoeirano", impresso em Cachoeiro de Itapemirim, em seu número 19, ano XVIII, datado de 26 de maio de 1895. Abaixo segue o texto da nota d'O Cachoeirano:

"ESTAÇÃO DO MIMOSO -
[Nota nossa: sim, Mimoso com "s", e não com "z"]
Sabemos que a estação do Mimoso, da Estrada de Ferro de Santo Eduardo à esta cidade, será innaugurada a 30 do corrente mez. Sendo assim, com uma viagem de 7 horas a cavalo, terá esta cidade promtas communicações com a Capital Federal."

A título de curiosidade, a inauguração foi adiada. E por duas vezes. Na edição de 09 de junho do mesmo ano, o jornal O Cachoeirano informava:

"ESTAÇÃO DO MIMOSO -
Por carta particular, sabemos que essa estação da E.F. Carangola será inaugurada a 15 do corrente."


Por fim, no dia 01º de julho de 1895, foi finalmente inaugurada a estação do Mimoso, com grande festejo local, com direito à banda de música e discursos diversos. A edificação que então servia de estação ainda era provisória, e em 22 de agosto de 1895 o Decreto n.º 2077 do Governo Federal "approva as plantas para modificação da estação do Mimoso". Em 13 de setembro do mesmo ano o jornal O Cachoeirano informava que as obras seriam iniciadas; a edificação ficou totalmente pronta somente em 1896.


MAIS CURIOSIDADES SOBRE VIAGENS
A CAVALO E COM TROPA E CARRO DE BOI


A distância que separava a cidade de Cachoeiro de Itapemirim da estação do Mimoso era, no final do século XIX, de menos de dez léguas terrestres, cerca de cinquenta quilômetros. A estrada que ligava os dois núcleos era carroçável e de rodagem, como se falava na época, e tinha sido inteiramente reformada e melhorada em 1885, com manutenções periódicas posteriores. O trecho fazia parte da estrada Itabapoana à Cachoeiro do Itapemirim, e era conhecida nesse "pedaço" como "estrada do Cachoeiro do Itapemirim à Ponte do Mimoso".

Se fizermos as contas, observaremos que um viajante à cavalo percorria pouco mais de sete quilômetros por hora para completar o percurso entre Cachoeiro e Mimoso, considerando as sete horas que O Cachoeirano informou que se demorava entre os dois núcleos.

Convenciona-se que, entre os séculos XVII e XIX, um cavalo podia andar até oito horas por dia, com pouca carga, mantendo o ritmo sem afetar o animal. Sem carga, um cavalo poderia alcançar a velocidade média máxima de nove e meio quilômetros por hora, em dez horas; com uma carga de 100 Kg, essa média máxima caía para cerca de sete quilômetros por hora, em oito horas.

Assim, o informe d'O Cachoeirano está conforme as médias auferidas para viagens a cavalo, em estradas carroçáveis, no século XIX, segundo os estudiosos da matéria.

Para terminar, apenas a título de curiosidade: as tropas de burros e mulas ou as juntas de carros de bois, que eram os principais meios de escoamento da produção cafeeira das fazendas até os portos e/ou estações, se deslocavam a uma velocidade média de dois à três quilômetros por hora quando carregadas de mercadorias (até 400 Kg nos carros de boi, 250 Kg nas mulas e 70 Kg nos burros). Quando estavam sem carga, esses animais nunca passavam de cinco quilômetros por hora; todavia, era possível viajar com eles até dez ou doze horas ao dia sem os afetar, dependendo da estrada e da natureza do terreno.


CONCLUINDO

Estimado e querido pai:

A distância entre a fazenda Aliança e o núcleo urbano de Muqui, atualmente, é de cerca de dez quilômetros. Demoravas tu cinco horas e meia para, a cavalo, sair da cidade e chegar à fazenda. É certo que o terreno é montanhoso, mas a média de velocidade que fazias era de menos de dois quilômetros por hora! Até as tropas de burros carregadas de carga eram mais rápidas que tu!

Quase todos os dias, quando o sol começa a baixar, eu faço uma caminhada rápida de três quilômetros, e os faço em pouco menos de uma hora. Até eu estou mais rápido que a tua antiga montaria! Realmente, é bem verdade quando diz que "andava devagar para não maltratar o animal"!


Gerson Moraes França



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