terça-feira, 29 de setembro de 2015

São José das Torres - Histórias [Parte 7]

São José das Torres em meados do século XX
Fonte da foto: Mimoso in Foco [mimosoinfoco.com.br] - arquivo Jorge Fabelo

No artigo anterior, tratamos do desenvolvimento político-administrativo de São José das Torres que, antes de ser distrito, era parte do distrito de Mimoso e era chamada de Rio Preto das Torres. Provavelmente por volta de 1898/99 foi inaugurada a Capela de São José, nas terras do capitão Manoel Corrêa Camargo. O pequeno arraial tomava o nome de Capelinha, que foi nome corrente do povoado até inícios da década de 1930. Em 1901, era criado o distrito de São José das Torres, unindo o nome do orago da Capela com o nome da região, com sede na localidade de Capelinha. Em 1904 já estavam eleitas e/ou providas todas as suas autoridades, e no ano seguinte era criada a primeira escola pública municipal e o cartório de registro civil. Capelinha, sede do distrito, ainda um diminuto arraial, tomava ares de pequeno povoado.

A partir de 1910, houve novo e substancial incremento no povoamento do distrito de São José das Torres, que duraria até cerca de 1930. Em 1909, o governo do Estado facilitou a aquisição de terras em Torres, e a crescente valorização do café fez com que afluíssem centenas de pessoas para a região. A partir dessa época, começaram a ser formados novos sítios e novas lavouras de café. Em 1920, a população total do distrito chegava a dois mil e trezentos habitantes. Em 1930, a região tinha sido praticamente toda "repartida", embora ainda houvesse grandes porções inexploradas de matas. O incremento populacional recrudesceria na segunda metade dos anos 1940. Em 1950, a população de Torres atingia quase cinco mil habitantes, e a vila pouco menos de duzentos moradores. Em 1960, passaria dos seis mil habitantes, com pouco mais de duzentos moradores na vila. A partir de então, com a erradicação dos cafezais improdutivos no Espírito Santo, houve grande evasão de população; em 1970, a população do distrito havia recuado para pouco mais de três mil e quinhentos habitantes, tendo a sede permanecido com a população estagnada. Atualmente, São José das Torres possui pouco menos de dois mil e quinhentos habitantes, e a vila tem cerca de setecentos e cinquenta moradores.

Mas aí acabamos avançando demais no tempo, novamente. Recuemos, e voltemos ao começo do século XX.

Já narramos em artigos anteriores que um dos principais "problemas" de São José das Torres, no princípio de seu povoamento e exploração, era a ausência de estradas. Até 1910, o que havia era um caminho que ligava Torres à Pratinha e Mimoso, e diversas picadas interligando as demais localidades. Transporte de cargas, só no lombo de burros. O aumento populacional e o crescimento da produção cafeeira verificada a partir dessa época demandavam melhorias na infra-estrutura viária que servissem de comunicação entre a região e as estações férreas da Estrada de Ferro Leopoldina. E então vai ocorrer um fato interessante, colocando em "competição" duas estações de dois municípios distintos, ambas as mais próximas de São José das Torres.

Até 1895, as comunicações da região de Rio Preto das Torres se dava com o porto do Prata, nas proximidades da Fazenda Pratinha, de onde era exportada a produção local e importados gêneros diversos. Com a inauguração da estação férrea em Mimoso, nesse mesmo ano, esse contato passou a ser feito com essa localidade. Mas ainda não havia nada que pudesse ser chamado de estrada. Em 1902, é inaugurada a estação férrea em Muqui, então pertencente ao município de Cachoeiro de Itapemirim. Ao contrário de Mimoso, que permaneceu estagnada nos sete anos que as pontas dos trilhos terminavam na localidade, Muqui começou a prosperar assim que a linha alcançou o povoado. Logo algumas boas firmas de compradores de café lá estavam instaladas.

Com a crise econômica vivida em finais do século XIX e inícios do século XX, em virtude da queda dos preços do café, as municipalidades ficaram desprovidas de recursos para investirem em grandes obras de infra-estrutura. Assim, até o princípio dos anos 1910, a região de Torres continuou sem boas estradas que escoassem sua produção. Em 1908, foi construída uma boa estrada que ligava Muqui à Taquarussú, região não muito longe de Torres.

Em 1909, a demanda por boas estradas estava na "ordem do dia" entre os fazendeiros e sitiantes de São José das Torres. Nesse mesmo ano, vários lavradores de São José das Torres, capitaneados pelo capitão Felippe Sayd, então Sub-delegado do distrito, pediram ao governo do Estado que prolongasse até Torres a estrada que ia de Muqui à Taquarussú. Era necessária apenas a construção de um trecho de sete quilômetros, ao passo que a construção de uma estrada no caminho até Mimoso demandaria mais que o dobro da distância. Jerônimo Monteiro, presidente (governador) do Estado, cachoeirense e muito ligado à vários dos novos comerciantes de Muqui, como Marcondes Alves de Souza (que também viria a ser presidente do Estado), aprovou o pleito dos moradores de Torres e imediatamente deu início às obras. O "filão" que representava o aumento da produção cafeeira em Torres enchia os olhos de todos, e era visto como fator importantíssimo para incrementar ainda mais o movimento comercial em Muqui. Sem muitos recursos, restou à Mimoso e ao município de São Pedro do Itabapoana apenas observar...

Em 1910, apesar do início das obras da estrada Muqui - Torres, o capitão Felippe Sayd concluiu um trecho de cerca de dois quilômetros de estrada carroçável, ligando Torres aos limites com o distrito de Mimoso. Mas, daí em diante, permanecia o antigo caminho que só podia ser percorrido por tropas de mulas. Ainda em 1910, os moradores de Santa Rosa, capitaneados pelo professor Eugênio Camargo, também fazendeiro naquela região, pedem a construção de uma estrada ligando a localidade à sede do distrito. O tenente Euclydes Camargo, fazendeiro em Torres e ex-vereador de São Pedro, agora funcionário da Coletoria de Ponte do Itabapoana e também agrimensor, era o responsável pela fiscalização dessas obras. Em 1912 a estrada Muqui - Torres estava totalmente concluída, entroncando-se com o trecho construído por Felippe Sayd. E, com a conclusão dessa estrada, todo o comércio de São José das Torres foi deslocado para a estação férrea de Muqui. A abertura dessa estrada também incrementou o povoamento da região, e era o agrimensor Geraldo Vianna, residente em Muqui, quem "comandava" a distribuição e medição dessas novas terras.

Até o final da década de 1920, essa infra-estrutura viária e logística que ligou Torres à Muqui seria a vigente no distrito. Toda a exportação de sua produção cafeeira, bem como a importação de gêneros, era feita através da estação férrea muquiense e de seus comerciantes e compradores de café. Essa situação manter-se-ia até que um administrador são-pedrense, então morador em Mimoso, resolvesse integrar Torres à aquele povoado por uma boa estrada. Trata-se de Joaquim de Paiva Gonçalves, então presidente da Câmara de São Pedro do Itabapoana. Mas, essa história, contaremos mais para frente.


Gerson Moraes França


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