terça-feira, 29 de setembro de 2015

São José das Torres - Histórias [Parte 6]

São José das Torres em meados do século XX
Fonte da foto: Mimoso in Foco [mimosoinfoco.com.br] - arquivo Jorge Fabelo

No último post (Parte 5), falamos um pouco sobre algumas das pessoas que fizeram parte daqueles tempos primevos da história de São José das Torres. Ao fundamentar nossa escolha pelos referidos nomes, informamos que um dos motivos que nos norteou foi o fato de serem, todos eles, dos primeiros povoadores e/ou das primeiras autoridades do distrito. Continuaremos falando deles, e de outros mais, no presente artigo; mas mudaremos o enfoque. Ao invés de focar nas pessoas, agora focaremos na localidade e em seu "desenvolvimento" político-administrativo.

Como já foi dito em artigo anterior, o distrito de Mimoso foi criado em 1892. Nessa época, a região da atual São José das Torres chamava-se, genericamente, de Rio Preto das Torres, e estava ocorrendo o início do processo de povoamento e exploração da localidade. Essa região, portanto, fazia parte do recém criado distrito de Mimoso, e uma picada que partia da Fazenda da Pratinha galgava a serra e servia como via de comunicação.

Importante fazer a distinção da nomenclatura dessas regiões. Isso porque, conforme as diferentes características geográficas das terras do atual distrito de São José das Torres, há dois timing's em seu processo de povoamento e exploração, como já vimos nos artigos precedentes. A porção mais baixa e próxima ao rio Itabapoana era chamada de "Rio Preto do Itabapoana". Como vimos, essa região teve seu início de exploração e povoamento ainda na década de 1830, mas o "impulso colonizatório" que veio por via fluvial estancou-se por lá mesmo. Já a porção mais alta das encostas e montanhas da serra das Torres era chamada de "Rio Preto das Torres", e é essa a região que nos importa agora, pois foi a sua ocupação e exploração que deu origem ao atual distrito de São José das Torres.

Assim, foi no princípio da década de 1890 que iniciou-se a colonização da região de Rio Preto das Torres. Pequenas propriedades, se comparadas com as grandes fazendas da região central da Freguesia de São Pedro do Itabapoana, visando principalmente o plantio de café, usando de mão de obra livre e com capitais limitados. Mas foi o suficiente para sedimentar o gérmen que daria origem ao distrito. Apesar da crise de preços do café, em 1895, e de não ocorrer novas formações de lavouras cafeeiras em todo o município de São Pedro de Itabapoana até cerca de 1910, esses primeiros habitantes do Rio Preto das Torres, sitiantes ou posseiros, iniciaram a formação de uma comunidade.

Em algum momento entre 1894 e 1901, provavelmente entre 1898 e 1900, os moradores da localidade construíram a primeira Capela da região, cujo orago era São José. Apesar de já estarmos na República, a mentalidade centenária de que, para a formação de um arraial, era necessário haver uma Capela levantada, ainda vigorava no costume dos contemporâneos. Informa-nos Grinalson Medina, em seu trabalho, que a Capela de São José foi inaugurada "(...) anteriormente a 1900, sendo seus principais fundadores os Srs. Manuel Corrêa Camargo, Eugênio Camargo, Felix Machado, Domingos de Souza Barbosa, Antônio Rolim Nunes de Azevedo (...)". Já discorremos um pouco sobre sobre eles no artigo anterior.

Ao redor dessa Capela surgiria o primitivo e diminuto arraial, que tomou o nome coloquial de "Capelinha". Inicialmente, pouquíssimas casinhas; talvez quatro ou cinco. Pouco tempo depois da inauguração da Capela, em 15 de setembro de 1901 a Câmara Municipal de São Pedro do Itabapoana, conforme nos assevera Grinalson Medina, criou o distrito de São José das Torres. Desmembrado do distrito de Mimoso, abarcando em seu território todas as vertentes do Rio Preto que estivessem sob a jurisdição do município de São Pedro, desde a serra das Torres até o rio Itabapoana. Unia-se o nome do orago da Capela, São José, com o nome da região, Torres. A sede do distrito era no povoado da Capelinha. Era o começo da "vida" político-administrativa do distrito.

Interessantemente, nessa época e pelo menos até o final da década de 1920, as pessoas não chamavam o recente povoado, ou o distrito, de "São José das Torres". A região era comumente chamada de "Torres" (costume ainda corrente nos dias de hoje), e a unidade administrativa era chamada de "distrito das Torres". Já o povoado era chamado de "Capelinha", conforme narramos acima. O nome "Capelinha" para o povoado, atual vila de São José das Torres, só deixou de ser usado no decorrer da década de 1930. É um processo semelhante com o que ocorreu em muitas outras localidades, como por exemplo Marapé (antigo nome de Atílio Vivacqua, e que mantém-se ainda hoje) ou Lagartos (antigo nome de Muqui, que foi eclipsado pela última nomenclatura).

As primeiras eleições para Juízes Distritais de São José das Torres ocorreram em 19 de julho de 1904. Foram eleitos o alferes João Franklin Gonçalves de Lima, Antônio Rolim Nunes de Azevedo, José Vieira de Souza Marques e Felix José da Silva. Nessa época, esses cargos eram disputados e de certa importância, pois os Juízes Distritais possuíam várias atribuições e competências relevantes naquele tempo, dentre elas o cobiçado "controle" das mesas eleitorais. Não se esqueçam que aquela época era a das eleições "no bico da pena"... Nesse mesmo ano, foi eleito o primeiro governador municipal (vereador) de São Pedro do Itabapoana com domicílio em Torres: o tenente Euclydes Moreira Camargo. O "chefe político" de São José das Torres era o capitão Manoel Corrêa Camargo, que em 1906 seria elevado à condição oficial de representante do distrito das Torres no diretório político municipal do Partido Construtor (então, o partido que estava no poder, tanto no município, quando no Estado). O primeiro Sub-delegado, cargo de nomeação por parte do presidente (Governador) do Estado, foi o alferes João Franklin, substituído em 1904 pelo capitão Felippe Sayd da Rocha.

Em 22 de setembro de 1905 foi criado, pela Côrte de Justiça do Estado, o cargo de Oficial do Registro Civil do distrito de São José das Torres e, portanto, o seu primeiro Cartório. Inicialmente foi nomeado um certo José Benedicto para exercer a função, sendo logo substituído por Eugênio Ribeiro Camargo, que exerceria esse cargo por cerca de trinta anos. Eugênio Camargo também foi o primeiro professor público de São José das Torres, da escola municipal criada pela Câmara de São Pedro do Itabapoana nesse mesmo ano de 1905, e também exerceria essa função por longos anos.

Assim, por volta de 1905, o distrito de São José das Torres já estava provido de todas as suas autoridades administrativas e das principais "repartições" distritais. O primitivo arraial, conhecido como Capelinha, agora povoado e sede do distrito, começou a crescer bem vagarosamente. Trinta anos depois, em 1935, quando o nome "Capelinha" já estava quase em desuso, o povoado sede de São José das Torres possuía vinte casas e, dentre elas, cinco estabelecimentos comerciais, com quase cem moradores.


Gerson Moraes França


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