As baixadas do rio Preto, tendo ao fundo a silhueta da serra das Torres Fonte da foto: Prefeitura de Mimoso do Sul [mimosodosul.es.gov.br] |
Nos post's anteriores (Partes 1 a 4) construímos todo o pano de fundo para se compreender os princípios e a continuidade do processo histórico de São José das Torres. O início de sua exploração, colonização e povoamento, as conjunturas sociais e econômicas vigentes, o desenvolvimento de suas vias de comunicação, dentre outras informações que entendi serem importantes para se escrever a história da localidade.
Agora, vamos falar de pessoas e de lugares. Pessoas que participaram desse processo, em tempos diferentes. Lugares que surgiram desse processo, em localidades distintas. Como essa série de artigos já se estendeu muito além do que, em princípio, eu imaginei, ficarei adstrito às pessoas que fizeram parte dessa história em seus períodos mais recuados ou importantes, segundo a minha ótica. E, é claro, restringir-me-ei a falar das pessoas que participaram da ocupação ou desenvolvimento da "porção cafeeira" da região. Afinal, foram os fazendeiros, sitiantes e posseiros das zonas de montanha e das encostas que deram início ao processo que culminaria com a criação do distrito de São José das Torres.
Desse modo, esqueçam de Antônio Gomes Guerra e de Justino de Sá Vianna, os primeiros e maiores fazendeiros da margem do rio Itabapoana em terrenos hoje pertencentes à São José das Torres. As regiões ocupadas por suas fazendas não influenciaram na posterior exploração e povoamento da parte norte e oeste de Torres, que foram as regiões que nuclearam a formação do distrito e do povoado primitivo que hoje lhe serve de sede. Esqueçam, também, da Fazenda da Muribeca, cuja sede ficava no atual município de Presidente Kennedy e que, em teoria, tinha suas terras se estendendo até regiões hoje torrenses. Tanto esqueçam, que nem tratei da Muribeca nos artigos anteriores. Isso porque, apesar de "legalmente" as terras da Muribeca se estenderem por oito léguas terra adentro (quase 50 quilômetros), de fato os proprietários dessa fazenda nunca exploraram ou mediram as terras para além das regiões mais próximas do mar. Se a influência dos primeiros fazendeiros sanjoanenses ou campistas nas margens do rio Itabapoana foi pequena na posterior colonização das Torres, a influência da Muribeca foi praticamente nula. Serviu apenas para tentar embaraçar aqueles primeiros posseiros, mais tarde fazendeiros, que se estabeleceram às margens do rio Itabapoana; sem sucesso, porém.
No início dos anos 1890, foi aberta a primeira picada que dava acesso às águas vertentes do rio Preto, acessando-o a partir das águas vertentes do rio Muqui do Sul. Nos anos subsequentes, um pequeno punhado de posseiros e sitiantes fez, na região das Torres, as primeiras abertas e as primeiras derrubadas para a formação de lavouras cafeeiras. Essas primeiras situações estavam localizadas, principalmente, no curso do ribeirão Paraízo, estendendo-se ao norte pelos vales dos córregos das Flores, do Pharol e do Sabão, estendendo-se ao sul até os córregos Bandeira e Santa Rosa, e ao leste até o Cajú e o próprio rio Preto em sua parte mais alta. Como disse o Dr. Monteiro da Silva em 1898, essas abertas e pequenas derrubadas pareciam ilhas no meio de um oceano de matas.
Dos primeiros que lá chegaram, fizeram abertas, derrubadas e formaram lavouras cafeeiras, destacaram-se alguns que, mais tarde, tornaram-se bem sucedidos fazendeiros e lideranças políticas em São José das Torres. Talvez os mais importantes nesses primeiros tempos tenham sido os Camargo. Não consegui precisar o ano exato que chegaram em Torres, mas em 1894 já tinham posses abertas na região, fazendo-nos presumir que chegaram entre 1892 e 1893, e talvez até antes. É certo que foram dos primeiros, se não "os" primeiros. O "chefe" da família era o capitão Manoel Corrêa Camargo, e os terrenos da atual vila de São José das Torres, então inexistente, ficavam encravados no meio de suas propriedades. Posteriormente, adquiriu por compra algumas terras de requerentes que não exploraram suas áreas, bem como formou algumas posses que, mais tarde, foram compradas e legitimadas. Seus filhos e alguns parentes, como o tenente Euclydes Moreira Camargo, Eugênio Ribeiro Camargo e Procópio Moreira Camargo também foram proprietários na região de Torres.
Outro importante proprietário na região foi Antônio Rolim Nunes de Azevedo, pai do poeta Lauro de Azevedo Rolim, que foi citado na Parte 1 das presentes Histórias. Fazendeiro e comerciante, Antônio Rolim talvez tenha sido o primeiro que se dedicou ao comércio de compra e venda do café produzido na região das Torres. Constituiu uma empresa cuja razão social denominava-se Rolim Moreira & Cia, junto com o filho e com Nilo Alves Moreira, cuja sede ficava no povoado de Mimoso. Suas terras ficavam no Rio Preto das Torres, e mais tarde posseou e adquiriu terras na localidade de Nova Descoberta. Em suas terras havia uma grande jazida de turfa, que começou a ser explorada por volta de 1916 e 1917, sendo mais tarde abandonada essa atividade. Também não consegui apurar a data exata de sua chegada na região. Suas terras no rio Preto só foram legitimadas em 1905, mas há referência de sua presença em Torres desde pelo menos 1897. Em 1931, a sua família deixou a região e mudou-se para o Estado do Rio de Janeiro.
Outro fazendeiro de relevo em São José das Torres foi Domingos de Souza Barbosa. Suas terras estavam situadas no rio Preto, e também possuíam grandes turfeiras exploradas na mesma época que as de Antônio Rolim. Eram ambos, inclusive, sócios na empresa que explorou essas jazidas entre 1916 e 1919. Domingos, porém, mudou-se de Torres para o município de Ponte de Itabapoana em 1919, e lá foi elemento de destaque: exerceu os cargos de delegado de polícia, vereador e prefeito municipal na década de 1920. Como os outros, é difícil precisar a data da chegada desse cidadão em Torres. Teria chegado antes de 1900, segundo podemos aferir do livro de Grinalson Medina.
Também podemos citar Felix José da Silva, cujo requerimento de compra de terras em São José das Torres só foi protocolado em 1909. Teria chegado quanto tempo antes na região? Segundo Grinalson Medina, estabeleceu-se antes de 1900. Felix José faleceu entre 1916 e 1921, endividado com a Fazenda Nacional e correndo o risco de perder a suas terras.
Por fim, o capitão Felippe Sayd da Rocha. Tinha uma posse no córrego do Sabão, que foi comprada, medida e legitimada em 1911. Há registros de que já se encontrava em São José das Torres desde pelo menos 1903. Foi quem iniciou a cultura intensiva e comercial de arroz em Torres. Foi um dos principais impulsionadores da construção de boas estradas que ligassem Torres às estações férreas. Em 1909, entregou para trânsito público um trecho de dois quilômetros de estrada carroçável, ligando o distrito de Torres aos limites do distrito de Mimoso, entroncando a via com uma estrada já existente. Ainda nesse ano, conseguiu que o governo do Estado iniciasse as obras de prolongamento da boa estrada que ligava Muqui à Taquarussú, e que deveria atingir Torres. Essa estrada ficou totalmente concluída em 1911, e foi a primeira boa estrada propriamente dita que ligou Torres à uma estação férrea. Também em 1911, requereu a concessão de um prêmio ofertado pelo governo do Estado, por ter produzido grande quantidade de arroz. Infelizmente, não pôde presenciar esse tão importante melhoramento para Torres, e nem receber o tão merecido prêmio: Felippe Sayd foi assassinado no dia 27 de fevereiro de 1911.
Escolhi esses cinco cidadãos por várias razões. Uma delas, no que toca aos quatro primeiros citados, é que participaram ativamente da construção e fundação da primeira Capela erguida na região: a Capela de São José, que nuclearia a formação do primeiro arraial (hoje vila e sede do distrito) e emprestaria o nome de seu orago para nominar o distrito que seria criado em 1901: São José das Torres. Outra razão é o fato de que foram, todos eles, as primeiras lideranças e/ou autoridades do distrito de Torres quando este foi criado, além de terem sido dos seus primeiros moradores e fazendeiros. No que toca aos dois primeiros e ao último citado, além de lideranças políticas, propugnaram ativamente pelo desenvolvimento de Torres em seus primórdios.
Gerson Moraes França
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