Capela de São José das Torres, reformada em 1937, nos dias atuais Fonte da foto: Google Street View |
Chegamos à parte décima dessa série de artigos sobre as Histórias de São José das Torres. Não imaginei que contar parte da história de um distrito do município de Mimoso do Sul tomaria tantas linhas. E, acreditem, ainda há muitas e muitas informações, fatos e histórias que podem ser narradas. Assim, é claro que estou selecionando o que entendo ser mais importante, ou mais interessante, para construir e dar sentido a um naco da história dessa localidade, que cresceu em torno da Capela de São José e que fica no sopé da majestosa serra das Torres.
Já narramos em pormenores como foi o povoamento e a exploração da região, a construção da Capela de São José e a formação do povoado da Capelinha, a criação do distrito, as primeiras obras de infra-estrutura, sobre os seus primeiros povoadores e autoridades, as lides políticas, e até um caso de assassinato e assombração. Isso tudo se passou naqueles cerca de vinte anos iniciais, aproximadamente entre 1892 e 1912. Agora vamos embarcar em uma nova fase da história do distrito. Uma fase de boom que viu sua população quadruplicar, que teve suas terras todas demarcadas e que observou o surgimento de novas lideranças políticas. Vamos discorrer um pouco sobre o período que iniciou-se em 1909, com a nova política do Estado para facilitar a aquisição de terras e o povoamento de São José das Torres e que deu origem ao surgimento de centenas de novos sítios e novas lavouras de café durante as décadas de 1910 e 1920, e que terminou por volta de 1930, logo após crise econômica que assolou o mundo todo. São vinte anos de história, aproximadamente.
A partir de 1909, como já dissemos, o número de requisições para adquirir terrenos ou legitimar posses na região cafeeira de São José das Torres cresceu substancialmente. Nas décadas de 1910 e 1920, na medida que o café ficava cada vez mais "valioso" e, consequentemente, atraente para se investir, novas lavouras e novos sítios foram se formando no distrito. Na metade desse última década, alguns proprietários já tinham formado grandes fazendas, algumas com mais de 500 hectares. Essa exploração "tardia", se comparada com a exploração da zona central do município de São Pedro do Itabapoana, seria responsável pela preservação de uma grande porção de matas remanescentes que, no final da década de 1960, deixariam de ser desbastadas após a execução da política de erradicação dos cafeeiros pouco produtivos. E, hoje, a Unidade de Conservação da Serra das Torres agradece esse "capricho" do processo histórico de povoamento e exploração das terras do distrito de São José das Torres.
Já vimos que, desde 1912, o distrito de São José das Torres integrou-se comercialmente com a estação férrea de Muqui. Desde então, praticamente toda a produção cafeeira torrense era exportada por aquela localidade. Eram os compradores de café estabelecidos em Muqui que retiravam os lucros que o capital comercial proporcionava, e eram os comerciantes deste mesmo núcleo que abasteciam Torres com os mais diversos gêneros. Era um agrimensor estabelecido em Muqui quem coordenava a distribuição e a medição de várias porções das terras ainda devolutas e virgens em Torres. Nessa mesma época, porém, o povoado de Mimoso iniciou o processo de crescimento de seu núcleo urbano. Tanto as terras ainda virgens de Mimoso, quanto as de Torres, passaram a ser procuradas cada vez mais por novos fazendeiros.
E um dos que chegou em Mimoso, nessa época, por volta de 1920, foi Joaquim de Paiva Gonçalves, conhecido como "Gamboa". Aliado inicialmente de alguns políticos de Muqui, que lhe facilitaram o acesso à terras e lhe concederam capital, Gamboa foi adquirindo vários pedaços de terra, tanto de privados quanto do Estado que, a partir da Fazenda da Paulicea, tomaram o rumo das vertentes ao oeste da serra das Torres, tornando-se um dos maiores fazendeiros de Mimoso. Mais tarde, seu cunhado Rubens Rangel adquiriu terras em São José das Torres, na região de Santa Rosa. Um outro fazendeiro, chamado de Alfredo Gomes de Almeida, presente na região desde 1917, tornou-se na década de 1920 o maior proprietário da região das Torres, dono de quase 400 alqueires de terras. Ambos se aliaram e, aproveitando a conjuntura política surgida após o rompimento dos irmãos Jerônimo e Bernardino Monteiro, em 1920, bem como a política apaziguadora do Presidente do Estado, Nestor Gomes (1920-1924), conseguiram ser eleitos para a Câmara de São Pedro do Itabapoana em 1924, como os dois únicos membros da oposição ao coronel Clarindo Lino da Silveira, então maior liderança política do município de São Pedro.
Já nesse ano de 1924, conseguia que fossem concluídas as obras de algumas estradas carroçáveis em Mimoso, como a que ligava a Paulicea ao Vinagre, e a que ligava Mimoso à Torres e Santa Rosa, financiadas pelo Governo do Estado. Nessa época, o café estava em um período "áureo" de preços, com a produção aumentando ano a ano, gerando muita riqueza e, também, tributos. Com essas estradas foi novamente atraído para o povoado de Mimoso, depois de quase quinze anos, a maior parte da produção cafeeira e do comércio do distrito de São José das Torres. Grandes firmas de compradores de café instalaram-se, nesses tempos, em Mimoso. A década de 1920 foi uma época de "ouro" para a região.
Já nesse ano de 1924, conseguia que fossem concluídas as obras de algumas estradas carroçáveis em Mimoso, como a que ligava a Paulicea ao Vinagre, e a que ligava Mimoso à Torres e Santa Rosa, financiadas pelo Governo do Estado. Nessa época, o café estava em um período "áureo" de preços, com a produção aumentando ano a ano, gerando muita riqueza e, também, tributos. Com essas estradas foi novamente atraído para o povoado de Mimoso, depois de quase quinze anos, a maior parte da produção cafeeira e do comércio do distrito de São José das Torres. Grandes firmas de compradores de café instalaram-se, nesses tempos, em Mimoso. A década de 1920 foi uma época de "ouro" para a região.
Em 1930 o povoado da Capelinha, sede do distrito de São José das Torres, tinha cerca de 20 boas edificações, com 5 casas comerciais e quase uma centena de moradores. A população total do distrito passava dos três mil e quinhentos habitantes. Na segunda metade da década de 1920, os primeiros automóveis, caminhões pequenos, começaram a transitar pelas estradas do distrito, ajudando a escoar o café produzido na região. O primeiro proprietário de um caminhão em Torres, em 1928, foi o fazendeiro e vereador Alfredo Gomes de Almeida. Nesse mesmo ano, o distrito possuía quatro máquinas de beneficiar café, vários moinhos e olarias, e muitos lotes de tropas de burros.
Em 1928, o coronel Joaquim de Paiva Gonçalves, que já era o "chefe político" de Mimoso, tornava-se a principal liderança política do município de São Pedro do Itabapoana, consolidando a posição de Alfredo Gomes de Almeida e de Rubens Rangel em São José das Torres. Neste mesmo ano, Paiva Gonçalves, juntamente com Alfredo Gomes, davam início às obras de melhoramentos da estrada entre Mimoso e Torres, transformando-a em uma estrada para automóveis. Mas a crise de 1929 e a Revolução de 1930 iriam mudar toda a conjuntura econômica e política do Município. Só que aí entramos em uma outra história...
Gerson Moraes França