domingo, 6 de junho de 2010

Satyro Ribeiro França - Biografia

Satyro Ribeiro França. Ou, mais comumente, Satyro França; como é hoje cognominada a rua onde estão situadas, atualmente, a Prefeitura e a Câmara Municipal de Muqui, cidade que fica no sul do Estado do Espírito Santo.

Ele é meu trisavô; sou um dos tantos, no meu caso da quarta geração, dos descendentes deste que foi um dos primeiros povoadores da região de Cachoeiro de Itapemirim, especificamente das terras hoje sitas no atual Distrito de Camará, antigamente São Gabriel, Município de Muqui.

Por um erro de grafia, algumas publicações (Telelistas, e inclusive a própria Prefeitura em alguns Editais) grafam o nome como "Satiro França", o que faz com que muita gente atualmente chame a rua de "Sátiro França"; mas a pronúncia correta é "SatYro", com sílaba tônica no "ty". Pode parecer bobeira, mas entendi por bem deixar isso aqui esclarecido.


BIOGRAFIA

NASCIMENTO E MUDANÇA

Satyro Ribeiro França nasceu em Paty do Alferes, então Freguesia (espécie de Distrito) do Munícipio de Vassouras, no Estado do Rio de Janeiro, no dia 12 de janeiro de 1858 (dia de São Satyro). Veio a luz na sede da Fazenda São Luís da Boa Vista, cuja casa-grande fora contruída pelo seu avô Luiz de França em 1840. Com a morte do avô e a abertura do inventário, em 1850, a grande fazenda de café é dividida anos mais tarde entre os herdeiros, cabendo a sede à Luiz de Moraes França.

Desde 1854 sua família havia adquirido terras no Rio Muquy, então mata virgem, na esteira de vários proprietários de Paty do Alferes que foram desbravar esta região sita no sul da então Província do Espírito Santo. Como no Vale do Paraíba, as fazendas eram cafeeiras. Satyro, ainda criança, só muda-se definitivamente para Muqui aos sete anos de idade, em 1865, quando as fazendas já estavam definitivamente formadas e suas edificações construídas.

A família Gomes Leal, muito ligada ao que é considerado o primeiro desbravador de Muqui, José Pinheiro de Souza Werneck, e ligada por laços de casamento com a família França, desbravou boa parte da região que atualmente pertence ao Distrito de Camará, chamado então de São Gabriel do Muqui. A viúva de Manoel Gomes Leal, Maria Victoria da Conceição Leal, também natural de Paty do Alferes, juntamente com seus filhos, filhas, genros e noras, dentre esses os França, fundaram várias fazendas: São Gabriel, São Luiz, Sant'Ana, Santa Rosa.


FAMÍLIA NA POLÍTICA

Abastados fazendeiros em Paty do Alferes, os Gomes Leal e os França envolviam-se fatalmente com a política em Vassouras. E não foi diferente em Muqui.

Até 1864, todas as terras recém colonizadas do médio vale do Itapemirim, incluindo aí o vale do Muqui, faziam parte da Freguesia e Município de Nossa Senhora do Amparo do Itapemirim, que hoje é a cidade litorânea de Itapemirim. Naquele ano, foi criada a Freguesia de São Pedro do Cachoeiro de Itapemirim, e em 1867 a Freguesia foi elevada à categoria de Município, com sede em Cachoeiro. As fazendas de Muqui passaram à fazer parte dessa nova Freguesia e Município.

O tio do menino Satyro, Antônio Gomes Leal, tornou-se "chefe político" da família, e foi por duas vezes Vereador na Câmara Municipal de Cachoeiro, nas legislaturas de 1871-1876 e de 1877-1882. Em 1880(?), Satyro França, já com 22 anos, casa-se com a filha de Manoel Gomes Leal, sua prima Emygdia França Leal. Seu pai havia falecido, quando seu sogro morre, em 1884. Satyro França "herda", então, e com o tempo, a "chefia política" da família. Torna-se um dos maiores proprietários da recém criada Freguesia de São João do Muqui, reunindo as fazendas que ele e sua esposa Emygdia herdaram (Sant'Ana, São Gabriel e São Luiz).


NA GUARDA NACIONAL

A Guarda Nacional foi uma força de segunda linha, auxiliar e paramilitar, criada em 1831 no período Regencial, para salvaguardar a Constituição de 1824 e a ordem pública interna. Com sua criação, foram extintos os antigos Corpos de Milícias, as Ordenanças e as Guardas Municipais. O termo "coronelismo", cunhado para designar o ápice do poder das lideranças locais durante a República Velha, advém das patentes da Guarda Nacional passadas aos potentados locais, cujo posto máximo era o de Coronel. Seus oficiais, sempre homens de posses, deveriam manter prontas suas "tropas", que basicamente eram formadas por seus agregados e parentes, sem nenhuma remuneração. Somente em caso de mobilização ou missão qualquer é que o Governo reembolsava os custos e gastos efetuados.

"A Guarda Nacional tinha forte base municipal e altíssimo grau de politização. A sua organização se baseava nas elites políticas locais, pois eram elas que formavam ou dirigiam o Corpo de Guardas". A Guarda Nacional era subordinada ao Ministério da Justiça, tanto no Império, quanto na República. Em 1918 ela foi transferida ao Ministério da Guerra, sendo desmobilizada em 1922.

Satyro Ribeiro França foi nomeado oficial da Guarda Nacional em Decreto de 30 de setembro de 1892, quando foi designado Alferes da 3ª Companhia do 16º Batalhão de Infantaria, no Quarteirão de São João de Muqui. Em 1908 já era Capitão, e em 21 de outubro de 1914 tornava-se Coronel. Um de seus netos me relatou que, quando pequeno, na década de vinte, não podia entrar em um paiol que havia na Fazenda Chave do Satyro; mas, curiosas que são as crianças, acabou por entrar e entender o motivo da proibição - o Coronel Satyro França ali mantinha as antigas armas que serviam à sua "tropa" da Guarda Nacional.

Seus filhos também foram agraciados com postos no oficialato da Guarda Nacional. Quando foi elevado ao posto de Coronel, Satyro tinha três de seus rebentos na força: José Mattos e Abdenago, elevados na mesma ocasião à Capitães; e Zamith, designado Alferes. Mesmo após a dissolução da Guarda Nacional, em 1922, Satyro e seus filhos mantiveram as patentes em caráter honorário. Seu filho José Mattos, inclusive, após a sua morte, "herdou" essa "patente honorária" e passou à ser chamado de Coronel José Mattos França - como era usual na época do "coronelismo".


GALGANDO POSIÇÕES

Conforme dito acima, Satyro França era, no início da República, o "chefe político" das família Gomes Leal e França na região de São Gabriel do Muqui, então pertencente ao Município de Cachoeiro do Itapemirim. Seus rivais na política local eram da família Rosa Machado. Até 1908, e de acordo com as circunstâncias políticas estaduais, essas duas famílias se sucederiam, de tempos em tempos, na liderança política na região.

Com o rompimento havido entre Henrique Coutinho e Muniz Freire, Jerônimo Monteiro foi alçado à Presidência do Estado, indicado em 1907 pelo primeiro, sendo eleito em 1908. Em Cachoeiro e em Muqui, os reflexos dessa querela política, com suas consequentes reacomodações, também foram sentidos. É nessa ocasião que Satyro França torna-se o "chefe político" do distrito, sendo eleito Juiz Distrital de São Gabriel do Muqui em 02 de fevereiro de 1908, e empossado em 23 de maio do mesmo ano. Passa, então, a controlar as mesas eleitorais locais, que eram importante meio de manter sob controle as eleições no distrito.

Em 1912 é criado o Município de São João do Muqui, desmembrado de Cachoeiro do Itapemirim. Em novas reacomodações pós governo Jerônimo Monteiro, e para evitar ter que se escolher uma das lideranças locais, Marcondes Souza e Geraldo Vianna resolvem não privilegiar nenhuma das partes, e Satyro França não tem seu nome contemplado na chapa para vereadores das primeiras eleições muquienses. Consegue, porém, emplacar o nome de seu filho, Abdenago França, no cargo de 3º Juiz Distrital.


ESTRADA DE FERRO

Episódio interessante a ser citado é a construção da linha da estrada de ferro que ligava Santo Eduardo, no norte do Rio de Janeiro, à Cachoeiro do Itapemirim. Em 1902 foi inaugurada a estação no Arraial dos Lagartos (atualmente a cidade de Muqui), que passou à ser chamado então de Muqui, nome dado à referida estação. Nessa época, a contrução da via férrea já estava a cargo da Leopoldina Railway. No prolongamento da estrada, que em demanda à Cachoeiro passaria pelas terras de Satyro França, foi celebrado um contrato entre este e a Cia. Leopoldina.

E o fato pitoresco é que Satyro, ao assinar o contrato, e em virtude das plantas aprovadas que exigiam a "limpeza" das áreas contíguas à estrada de ferro, fez uma exigência, que foi aceita e cumprida pela empresa: não aceitava ele o corte de uma grande árvore que ficava defronte à sede de sua fazenda São Gabriel. Por esse motivo, a linha foi, naquele ponto, deslocada ligeiramente uns poucos metros, de modo à permitir a "sobrevivência" da árvore, sob o compromisso que seria "vistoriada permanentemente" pelo proprietário da fazenda; isso porque a mesma ainda estava dentro da "área de segurança" da linha.

Em 23 de julho de 1903 o trecho que ligava Muqui à São Felipe (Atualmente Atílio Vivacqua, ex-Marapé), e que passava pelas terras de Satyro França, já estava concluído. No contrato também estava prevista a construção de uma "parada", ou "chave", para que as locomotivas pudessem "fazer aguada". A partir de então sua propriedade passou a ser chamada de "Chave do Satyro", e o mesmo transformou a simples parada numa verdadeira Estação, com plataforma para embarque e desembarque, casa para negócio e armazém para café e cargas.


POLÍTICA - QUERELAS E SEDIMENTAÇÃO

A "acomodação" levada a efeito em Muqui, por ocasião das eleições municipais de 15 de novembro de 1912, deixou Satyro França insatisfeito. Sentindo-se desprestigiado, e mesmo injustiçado, Satyro vê-se envolvido nas "lutas políticas" e querelas pela liderança de sua região. Achava ele que, por sua atuação local nas eleições que deram a vitória à Jerônimo Monteiro e à chapa monteirista para Vereadores em Cachoeiro em 1908, bem como à Marcondes Souza em 1912, merecia o devido reconhecimento e uma posição mais destacada nas composições quando da criação do Município de Muqui; e da querela à intriga, o passo é curto.

Tais "incômodos e desassossego de espírito", como ele próprio diria em 29 de janeiro de 1913, faz com que Satyro abandone as lides políticas; chega a anunciar a intenção de vender sua grande fazenda, pois sua vontade era apenas "o desejo de tranquilidade, simplesmente". Em agosto de 1913, numa reunião com o Marcondes de Souza e Geraldo Vianna, os desentendimentos são acertados. Marcondes compromete-se a criar um Distrito em São Gabriel do Muqui, e entregá-lo ao controle e liderança de Satyro, bem como contemplar um vaga na Câmara de Vereadores para um representante de sua família. E tal acordo é cumprido, na íntegra.


E SE TORNA UM CORONEL

Conforme dito mais acima, em 21 de outubro de 1914 Satyro Ribeiro França era nomeado Coronel da Guarda Nacional, coroando a sedimentação de sua liderança como "chefe político" da região de São Gabriel. Oficial da referida força desde 1892, agora era, "oficialmente", um Coronel.

Honrando o compromisso firmado, durante o governo de Marcondes Souza é criado o Distrito de São Gabriel do Muqui, 2º Distrito e parte integrante do Município, juntamente com o distrito sede. Foi criado pela Lei estadual n.º 986, de 24 de dezembro de 1914. Em 15 de agosto de 1915 são realizadas as primeiras eleições distritais, sendo José Mattos, filho de Satyro, eleito para o cargo de 1º Juiz Distrital. A posse dos Juizes Distritais e a instalação do Distrito foi executada em 18 de setembro de 1915, em cerimônia solene realizada na casa de José Mattos, contando com a presença das autoridades municipais.

Nesse ínterim, foi fundado o Cartório de Registro Civil, e foi construída a primeira Capela da Paróquia, cujo padroeiro não poderia deixar de ser o anjo São Gabriel. Em dezembro, o Coronel Satyro França foi nomeado Delegado do Distrito. Em 23 de março de 1916 são realizadas as eleições municipais: Satyro França é eleito Vereador à Câmara Municipal de Muqui, e seu filho Abdenago é eleito 1º Juiz Distrital de São Gabriel. Ambos tomaram posse em 23 de maio do mesmo ano.


ARMAS AZEITADAS

Em 1916 as eleições no Espírito Santo foram bem tensas. Dois grupos políticos digladiavam-se pelo controle da política estadual. Os Monteiro, cujo candidato era o irmão de Jerônimo, Bernardino, ambos ligados à Marcondes, tiveram que enfrentar uma dura eleição contra Pinheiro Junior, este apoiado pelo Governo Federal e por praticamente toda a representação federal do Estado. Cada grupo dizia ter vencido as eleições, e em várias seções eleitorais houve duplicata de atas. Após a tensão, o tumulto; e após o tumulto, a guerra civil. Batalhas em Alegre, em Cachoeiro, em Vitória, em Afonso Cláudio. O Estado está dividido em dois governos; Pinheiro Junior, que não conseguiu tomar de assalto o Palácio do Governo, transfere a "sua" capital para Colatina, enquanto Bernardino controla Vitória após dura resistência. Há constante ameaça de Intervenção Federal.

Em Muqui, os pinheiristas tem vários partidários. Na fazenda Santa Rita, recém adquirida pelo mineiro João Lobato Galvão, há concentração de um pequeno grupo armado, chamados pelos monteiristas de "capangas do Lobato". A situação em Muqui é tensa, durante a após as eleições de 23 de março. Delegado de São Gabriel, o Coronel Satyro França reúne sua tropa para manter a ordem no distrito. Os pinheiristas chamam-nos de "jagunços do Satyro". Após os ataques pinheiristas de abril à Alegre e à Cachoeiro, todos ficam em "prontidão"; mas com o recuo dos partidários de Pinheiro Junior nessas cidades, após ter o Governo do Estado mandado uma numerosa tropa da Força Pública, a situação vai se acalmando. Os "capangas do Lobato" são desmobilizados, enquanto os "jagunços do Satyro" continuam garantindo a ordem em São Gabriel do Muqui. No início de julho, com a situação tranquilizada, tudo volta ao "normal".

Essa foi a última vez que a tropa da Guarda Nacional comandada pelo Coronel Satyro França foi mobilizada, e também a última vez que as armas do paiol foram azeitadas e municiadas. Quando seu neto, alguns anos mais tarde, entrou no "paiol proibido", as armas deveriam estar guardadas tal como foram após a desmobilização dos "jagunços do Satyro" naquele ano de 1916.


DÉCADA DE VINTE

Nas eleições de 1920 novamente houve racha na política estatual. Dessa vez, porém, no seio do próprio "monteirismo": os irmãos Jerônimo e Bernardino entram em séria divergência, o que leva à novos combates, mas dessa vez circuscritos principalmente à capital do Estado. Em Muqui, a chapa para vereadores havia sido formada antes do rompimento, e Satyro emplacou o nome de seu filho José Mattos como Vereador à Câmara Municipal. Outro filho seu, Zamith, foi eleito Juiz do 2º Distrito (São Gabriel), mantendo o controle do mesmo.

Com as acomodações advindas na nova ordem "bernardinista", após a vitória da corrente de Bernardino sobre a de Jerônimo em nível estadual, José Mattos renuncia à vereança; Satyro então indica o nome de seu filho Abdenago para ocupar a vaga que era "de sua família". Em julho de 1923, com a elevação de Muqui à categoria de Cidade (até então, detinha a categoria de Vila), as vagas na Câmara aumentam de cinco para sete Vereadores; e Satyro França é eleito para ocupar uma das duas novas cadeiras na Câmara. As correntes políticas do Município não aceitariam a indicação de outro de seus filhos, de modo que Satyro França, que já estava "passando o bastão" para sua prole, teve de voltar à ocupar um cargo público.

Em 1924, novas eleições municipais. Satyro França é reeleito Vereador, e seu filho José Mattos é eleito Juiz do 2º Distrito (São Gabriel). A família França, chefiada pelo Coronel Satyro, continua controlando a situação em sua região, e mantendo sua vaga na Câmara e o controle do Distrito e das mesas eleitorais de São Gabriel do Muqui.


NA OPOSIÇÃO LOCAL

Em 1927 acontecem algumas reviravoltas na política estadual, impostas por circustâncias em nível federal. A reacomodação das forças políticas que dirigiam o Estado, como sempre, refletiam nos seus Municípios, e isso não era diferente em Muqui. E em São Gabriel do Muqui, o Coronel Satyro vê-se alienado do processo político eleitoral. Os antigos acordos são rompidos, e Satyro França é excluído na formação da chapa para Vereadores na eleição de 15 de novembro de 1927.

Em 1928 adere, então, à oposição que estava se formando em torno do nome de João Vieira da Fraga, em rivalidade com a corrente situacionista local chefiada por Gerando Vianna. São realizadas eleições para o cargo de Prefeito Municipal em 02 de dezembro de 1928; há duplicidade de atas, e denúncias de fraude por ambas as partes. As duas correntes proclamam-se vencedoras do pleito. Após uma série de decisões e recursos, e com a Prefeitura ocupada pelos partidários de Geraldo Vianna e Argemiro de Macedo, o Presidente do Estado manda empossar o candidato João Vieira Fraga como Prefeito Municipal; este tomou posse no dia 03 de janeiro de 1929.

João Vieira da Fraga, porém, estava em minoria na Câmara. Seus partidários, então, usando a legislação eleitoral, conseguem cassar ainda em 1929 o mandato de um Vereador alinhado com seus opositores, e passam à deter a maioria. Após tal fato, os outros Vereadores alinhados à Geraldo Vianna abandonam seus mandatos em 1930. Nessa ocasião, Satyro França volta à Câmara, eleito Vereador para preenchimento de uma das vagas abertas. Seu novo mandato, porém, não duraria muito: com o estouro e vitória da Revolução de Outubro de 1930, as Câmaras Municipais foram todas dissolvidas.

DÉCADA DE TRINTA

Com a vitória da Revolução de 1930, o controle político de Muqui retorna às mãos de Geraldo Vianna, que indica o nome de seu filho, Alcides Vianna, para ocupar o cargo de Prefeito, nomeado pelo comando revolucionário no Estado. Mas as rivalidades entre Geraldo e o recém empossado Interventor estadual João Punaro Bley logo refletem-se em Muqui. Em abril de 1931, definitivamente rompidos, Bley exonera Alcides do cargo de Prefeito, nomeando uma pessoa de fora para governar a "politizada e complicada" Muqui.

Nesse período pós-revolucionário, o Coronel Satyro manteve-se um tanto equidistante das lides políticas. Durante as lutas em outubro de 1930, permaneceu "neutro", sem tomar maiores ações em prol de nenhuma das partes, mantendo posição de neutralidade. Seu filho Abdenago, inclusive, era membro da Aliança Liberal em Mimoso, para onde havia mudado sua residência em 1924; seu neto Jadyr, estudante em Vitória na época, era simpático à causa revolucionária e tenentista. Há relato até de que um dos "tenentes" havia estado na Chave do Satyro pouco tempo antes de estourar a revolução, sondando Satyro e avaliando as condições políticas locais.

Essa "reaproximação oficiosa" com os Vianna e a "neutralidade" mantida por Satyro em 1930 foi "recompensada" em homenagem feita por Alcides Vianna, que em 1931 abriu a rua que foi batizada com seu nome, via onde atualmente estão sediadas a Prefeitura e a Câmara Municipal de Muqui. Alguns mais extremados passaram a chamar o Coronel Satyro de "adesista de última hora", enquanto eles próprios eram cognominados pela imprensa local, ligada à Vianna, de "carcomidos".


MORTE

No dia 25 de julho de 1932, com 74 anos de idade, faleceu o Coronel Satyro Ribeiro França, em sua casa na Chave do Satyro. Seu velório e enterro foram muito concorridos pelas pessoas das circumvizinhanças, estando presentes várias importantes personalidades da região. Os jornais do Estado prestaram as últimas homenagens, classificando-o como "abastado fazendeiro e chefe de família exemplar". Foi sepultado no dia seguinte, no cemitério de São Gabriel do Muqui, tendo discursado o amigo José Olympio de Abreu quando "baixava-se o corpo à sepultura, enaltecendo as qualidades do finado".


PROLE

Ao falecer, Satyro deixou viúva sua mulher Dona Emygdia França Leal, e sete filhos: Anthero, Eloya (casada com Alexandre Martins), José Mattos, Abdenago, Maria Marinha (casada com Zildo Nery), Ermida (solteira) e Zamith. Anthero e José Mattos eram casados com senhoras da família Caiado, de São Felipe (Marapé, hoje Atílio Vivacqua), dando origem à família Caiado França, que foi tradicional em Cachoeiro do Itapemirim. Abdenago era casado com uma senhora de São Pedro do Itabapoana, descendente da família cearense Cavalcati que havia migrado para a região. Ermida se casaria depois com um Duarte, e Zamith com uma Carvalho, ambas as famílias de Muqui.

Alguns de seus descendentes são até hoje lembrados pelas atividades que exerceram. José Mattos passou a chefiar politicamente a família, tendo sido dirigente do PSD em Muqui, sendo também um importante representante classista da lavoura na década de trinta e quarenta. Zamith também foi do PSD, foi Vereador em Muqui e esteve, interinamente, exercedo a Prefeitura local na década de trinta e quarenta. Seu neto Cely Carvalho França foi um conhecido médico em Muqui e Mimoso, e outro neto Jadyr França Martins um politizado advogado que fez parte da UDN nas décadas de quarenta e cinquenta, tendo sido Procurador Geral do Município de Vitória na década de sessenta e setenta. Jadyr foi irmão de Jurandy, professora que hoje dá o nome ao Jardim de Infância da cidade.


DESCENDENTES

Seguindo a linha de descendência, meu bisavô Abdenago França (chamado em Muqui de "Seu Bené França") voltou para Muqui em 1933, após ser aliancista em Mimoso e ter exercido, por lá, o cargo de membro do Conselho Consultivo nomeado em 1931 - as Câmaras estavam dissolvidas. Era casado com Gervizina Cavalcanti, natural de São Pedro do Itabapoana, e tiveram oito filhos, dentre eles meu avô Gerson, que fez o ginasial em Muqui em 1933. Em sequência decrescente de idade, seguem todos os filhos do casal: Ary, Cecy, Orly, Gerson, Ilza, João Baptista, Jésus e Maria Amélia.

Meu avô Gerson entrou no Banco de Crédito Rural na década de quarenta, e foi viver em Vitória, capital do Estado. Casou-se com minha avó Mariana David, filha de Carlos Paes David, que foi Vereador em Muqui nas décadas de quarenta e cinquenta. Meu avô Gerson faleceu em 1974, e em sua homenagem meu pai me deu seu nome quando nasci, em 1975; assim, não conheci o meu avô, mas com minha avó Mariana eu tive muito contato - ela faleceu em 2006. Gerson e Mariana tiveram dois filhos: Cora, hoje casada com Juracy Bassini, e Maerson, meu pai, que nasceu em Vitória no ano de 1949.

Meu pai estudou em Vitória e tornou-se engenheiro em 1973; casou-se em 1974 com minha mãe, Selma Moraes, natural de Muqui. Maerson e Selma tiveram dois filhos: eu, nascido em 1975, e minha irmã Gabriela, nascida em 1978. Separados meus pais em 1987, em 1989 meu pai juntou-se com Liege Guarçoni, natural de Mimoso do Sul, filha de Domingos Guarçoni, falecido em 1999 e que foi Prefeito em Mimoso na década de setenta. Meu pai e minha madrasta mudaram-se de Vitória para Mimoso em 1991, e se separaram em 2010; minha mãe vive em Vila Velha desde a mesma data.


COMPLEMENTOS E CORREÇOES MAIS TARDE
EDIT - complementos e correções
Um bispo missionário: dom Fernando de Sousa Monteiro, C.M.
Maria Stella de Novaes - 1951 - 266 páginas
"Do próprio punho de Dom Fernando, encontramos a descrição dessa Visita: — "Ao sairmos da mata, em São Felipe, "veio-nos ao encontro o Ilmo Sr. Satiro Ribeiro França, que "nos acompanhou até a sua residência que nos foi generosamente franqueada e onde grande número de nobres (...)"

11 comentários:

  1. Gerson, tudo bem?
    Minha familia materna tem o sobrenome França e nasceram na Fazenda Boa vista em Paty do Alferes.
    sds
    leandro@shipbrokers.com.br

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  2. Gerson, muito interessante a história de seu trisavô. Ele e meu avô paterno foram contemporâneos.
    Meu avô paterno chamava-se Tertuliano Gomes de Moraes e viveu sua vida entre Valença, Alegre, Muqui, Cachoeiro e Valla do Souza.
    Teve algumas fazendas e muitos filhos.
    Faleceu em 1924 e seus primeira filha nasceu em 1866. Meu pai, Sebastião Moraes (mudou o sobrenome para Morais), era filho do segundo casamento e nasceu em 1918.
    Estou tentando reconstituir vários fatos de sua vida, juntamente com um primo distante.
    Se você tiver conhecimento de algum fato ou citação do sobrenome Moraes, Gomes de Moraes ou Carmo Moraes, agradeceria ser informado. Muito obrigado e parabéns pelo seu relato. Edison Morais (ermorais@uol.com.br)

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  3. Olá Edison! Só vi seu post hoje.
    Qualquer informação que eu possuir, remeter-lhe-ei!
    Grande abraço,
    Gerson

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  4. Francisco Carlos Caiado França16 de março de 2012 às 13:58

    Parabéns Gerson, sou filho de Lélio Caiado França e neto de José Mattos França,mais conhecido por Zeca França. Muito boa sua biografia,abraços Francisco Carlos Caiado França.

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  5. Olá, Francisco!
    Fico feliz que tenha gostado do artigo!
    Meu avô conhecia o vosso pai, Lélio; isso segundo informe de meu pai.
    Abraço,
    Gerson

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  6. Olá Gerson,
    Acabo de chegar de Muqui, onde estive tirando muitas fotos da casa de meu bisavô.
    Sou estudante de arquitetura e pretendo fazer um trabalho sobre a família. Sou neta de Ary França.
    Muito bom o artigo.
    Sds
    Mônica França de Aragão

    22 de junho de 2014 20:02

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  7. Olá Monica! Obrigado por ter gostado do artigo.
    Muito legal seu interesse em fazer um trabalho sobre a nossa família.
    Abraço!

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  8. Olá Gerson,

    Parabéns pelo Artigo. Me encontrei nos lugares em que visnumbravam as histórias que me contavam minha mãe e minhas tias. Tenho um descendente chamada Rosa Alexandrina Ribeiro França. Minha família é de Marapé, Cachoeiro e Muqui, onde em Marapé ainda temos a casa da Família ao lado da Antiga Escelsa, onde meu avó trabalhava, o Jandir Roza Moreira. Minha Família tem Ribeiro França, Pereira Moreira, Roza Moreira, Bueno Correa.

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    1. Obrigado! É provável que tenhamos parentesco! Muitos França tiveram propriedades em Atílio Vivacqua (Marapé). Particularmente os Caiado França. Abração!

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  9. Olá ! Eu me chamo Fabíola Conte França e meu avô é filho de Chico Gomes e Mercilia Ribeiro França. Ele fala que passeava na fazenda do Satyro França e que eram parentes de seu tio Milton Ribeiro França. Qual será o parentesco ?

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    1. Que são parentes, certamente são! O grau precisamos pesquisar!

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