Continuando.
Como se processou essa subversão da história mimosense? Ela foi conscientemente construída? Ou foi apenas obra do acaso e do esquecimento? Quando foi que ela se sedimentou? E por que conseguiu suplantar os verdadeiros fatos, tornando-se "realidade histórica"?
Responder a essas perguntas não é tarefa fácil, até porque envolve conceitos subjetivos. Mas, através da pesquisa empírica, tanto de documentos primários, quanto em entrevistas com os que viveram a época, é possível chegar à uma hipótese plenamente plausível.
Basicamente, na atualidade, considera-se o seguinte: Mimoso se desenvolveu por causa da estrada de ferro e, em 1930, pelo fato de ser getulista, enquanto São Pedro era "anti-getulista", foi criada a situação para se transferir a sede da Comarca, sacramentada pela força e ratificada pela Revolução. E determinadas personalidades foram elevadas à condição de "patrocinadores" desse ato. Esse é o resumo dos fatos hoje tidos como realidade histórica local.
Através de minhas pesquisas, constatei que as coisas não correram bem assim, nem em relação aos fatos, nem em relação aos protagonistas. Mas, como disse eu no post anterior, minha tese completa será revelada apenas quando da publicação da obra que presentemente estou escrevendo. Fato é que, ao que tudo indica, essa "mudança da realidade histórica" não foi construída propositalmente - foi fruto de uma soma de fatos, combinando a morte dos protagonistas com a falta de trabalhos históricos mais específicos sobre a matéria, passando pela extensão da realidade histórica vivida nas décadas de 1940 e 1950 que foi "transferida" e, mesmo, "transmutada retroativamente" para os longínquos anos 1930.
Retornemos ao foco.
Nas décadas de 1950 e 1960, muitos dos principais protagonistas dos acontecimentos de 1930 em São Pedro / Mimoso ainda estavam vivos. Nesta época, o principal historiador do Município era o Dr. Olympio de Abreu, que chegou a ser Prefeito Municipal, Secretário de Estado da Fazenda e encerrou sua atividade política no CADE, já na década de 1970. Nos escritos históricos sobre Mimoso, nessa época, ainda não havia sido lançada ou construída a subversão histórica hoje considerada. A explicação para isso é muito simples: pessoas que viveram os fatos de 1930 estavam vivas, muitas delas atuantes politicamente, e subverter a realidade historiográfica seria tarefa praticamente impossível. Não havia sequer intenção de mudar ou construir nova realidade. O próprio Dr. Olympio de Abreu estava com 17 anos quando houve a mudança da Comarca, e seu pai foi um dos protagonistas políticos naquela época.
As coisas começaram a mudar a partir da segunda metade da década de 1970. Com todos os protagonistas já falecidos, e sem trabalhos retratando em pormenores o movimento de 1930 no Município, criou-se uma espécie de "vácuo", que precisava ser preenchido. A falta de novas pesquisas em documentos primários era suprida por novas "traduções" de fontes secundárias, como a famosa "Revista de 1951". Foi quando se construiu, sem propósito escuso - ressalte-se -, a nova "realidade histórica". Estou convencido que essa subversão não se deu de forma arquitetada e consciente, mas sim de modo bem intencionado e meramente especulativo. Por fim, entrevistas realizadas com descendentes dos protagonistas, alguns que nem nascidos eram ainda em 1930, acabaram por dar forma e cristalizar a nova "tese interpretativa", que se sacramentou como realidade histórica na década de 1980, na época da criação do Sítio Histórico de São Pedro do Itabapoana.
E assim passamos a ter uma "nova verdade" para os pouco conhecidos e estudados fatos históricos locais de 1930.
Continua no próximo post.
Como se processou essa subversão da história mimosense? Ela foi conscientemente construída? Ou foi apenas obra do acaso e do esquecimento? Quando foi que ela se sedimentou? E por que conseguiu suplantar os verdadeiros fatos, tornando-se "realidade histórica"?
Responder a essas perguntas não é tarefa fácil, até porque envolve conceitos subjetivos. Mas, através da pesquisa empírica, tanto de documentos primários, quanto em entrevistas com os que viveram a época, é possível chegar à uma hipótese plenamente plausível.
Basicamente, na atualidade, considera-se o seguinte: Mimoso se desenvolveu por causa da estrada de ferro e, em 1930, pelo fato de ser getulista, enquanto São Pedro era "anti-getulista", foi criada a situação para se transferir a sede da Comarca, sacramentada pela força e ratificada pela Revolução. E determinadas personalidades foram elevadas à condição de "patrocinadores" desse ato. Esse é o resumo dos fatos hoje tidos como realidade histórica local.
Através de minhas pesquisas, constatei que as coisas não correram bem assim, nem em relação aos fatos, nem em relação aos protagonistas. Mas, como disse eu no post anterior, minha tese completa será revelada apenas quando da publicação da obra que presentemente estou escrevendo. Fato é que, ao que tudo indica, essa "mudança da realidade histórica" não foi construída propositalmente - foi fruto de uma soma de fatos, combinando a morte dos protagonistas com a falta de trabalhos históricos mais específicos sobre a matéria, passando pela extensão da realidade histórica vivida nas décadas de 1940 e 1950 que foi "transferida" e, mesmo, "transmutada retroativamente" para os longínquos anos 1930.
Retornemos ao foco.
Nas décadas de 1950 e 1960, muitos dos principais protagonistas dos acontecimentos de 1930 em São Pedro / Mimoso ainda estavam vivos. Nesta época, o principal historiador do Município era o Dr. Olympio de Abreu, que chegou a ser Prefeito Municipal, Secretário de Estado da Fazenda e encerrou sua atividade política no CADE, já na década de 1970. Nos escritos históricos sobre Mimoso, nessa época, ainda não havia sido lançada ou construída a subversão histórica hoje considerada. A explicação para isso é muito simples: pessoas que viveram os fatos de 1930 estavam vivas, muitas delas atuantes politicamente, e subverter a realidade historiográfica seria tarefa praticamente impossível. Não havia sequer intenção de mudar ou construir nova realidade. O próprio Dr. Olympio de Abreu estava com 17 anos quando houve a mudança da Comarca, e seu pai foi um dos protagonistas políticos naquela época.
As coisas começaram a mudar a partir da segunda metade da década de 1970. Com todos os protagonistas já falecidos, e sem trabalhos retratando em pormenores o movimento de 1930 no Município, criou-se uma espécie de "vácuo", que precisava ser preenchido. A falta de novas pesquisas em documentos primários era suprida por novas "traduções" de fontes secundárias, como a famosa "Revista de 1951". Foi quando se construiu, sem propósito escuso - ressalte-se -, a nova "realidade histórica". Estou convencido que essa subversão não se deu de forma arquitetada e consciente, mas sim de modo bem intencionado e meramente especulativo. Por fim, entrevistas realizadas com descendentes dos protagonistas, alguns que nem nascidos eram ainda em 1930, acabaram por dar forma e cristalizar a nova "tese interpretativa", que se sacramentou como realidade histórica na década de 1980, na época da criação do Sítio Histórico de São Pedro do Itabapoana.
E assim passamos a ter uma "nova verdade" para os pouco conhecidos e estudados fatos históricos locais de 1930.
Continua no próximo post.
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