Uma imagem vale mais do que mil palavras, reza o jargão. E, decerto, uma fotografia antiga encerra, em si própria, uma gama de informações que, se devidamente analisadas e metodizadas, contribuem de forma significativa para o estudo da História. Neste tempo de amplo compartilhamento de fotos antigas nas ferramentas mais populares da internet, resolvi escrever esse pretenso artigo.
Uma fotografia antiga é, portanto, uma fonte histórica. Serve para responder perguntas, para sacramentar sentenças e, também, serve para formular novas perguntas e levantar novas problemáticas. Mas a foto, como fonte histórica, precisa ser "combinada" com outras fontes para que ela tenha um significado. Uma foto "perdida", sem datação e sem informações, é até interessante para o leigo, mas "cutuca" historiadores ou memorialistas que desejam entendê-la em seu contexto, datá-la e interpretá-la.
E por isso é importante que as fontes sejam combinadas, e contextualizem a foto. Assim, talvez uma imagem não valha mais que mil palavras, quando se trata de História. Uma foto vale tanto quanto as outras fontes, pois mesmo ela (a foto) é isso: uma das fontes para pesquisa e estudo. Uma foto e um telegrama são, ambos, muito importantes, e um "vale" tanto quanto o outro. Todos são "ricos tesouros" para o pesquisador.
Abro um "adendo" para esclarecer: todo trabalho de memorialistas e de historiadores, mesmos os positivistas, merecem crédito e louvor. Os trabalhos somam-se, e a duvida de um pode ser respondida pela pesquisa de outro. O simples fato de colecionar fontes é importante, porque sem as fontes é difícil "produzir" História. Escrevi esse "adendo" para, desde logo, dirimir quaisquer imputações de que estou relativizando pejorativamente o trabalho de outrem; pelo contrário: louvo qualquer trabalho sério, seja de memorialistas, seja de leigos, desde que o façam com responsabilidade na apuração de dados.
E agora vamos para dois exemplos práticos, ocorridos em um grupo de Facebook, recentemente criado, que tem como escopo a divulgação de fotos e fatos antigos de Mimoso do Sul. Pois é, leitor: não esqueça-se de que eu sempre descambo para as terras dos meus cantados Itabapoana e Muquis, do norte e do sul. Esses dois exemplos mostram como a soma dos trabalhos dirime dúvidas e, mesmo, desfaz equívocos. E como é importante a "intercalação" das fontes fotográficas com as outras fontes históricas. Fotos, fatos e fontes complementam-se.
No dia primeiro de abril do corrente ano, o memorialista e pesquisador Renato Pires Mofati postou, no referido grupo, a seguinte fotografia antiga, complementada pela informação que abaixo segue:
Essa foto, do acervo particular de Mofati, encerra em si uma gama de informações que, no entanto, necessitam de contextualização. E foi o que o memorialista fez ao complementar com dados, informando que a foto era de 1935. Como pesquiso a história de Mimoso do Sul já faz quase vinte anos, logo me lembrei que eu possuía, em meu acervo de pesquisas, fontes primárias no que toca a inauguração da retratada ponte metálica. E, puxando de memória na ocasião, lembrava-me que a inauguração teria ocorrido por volta de 1932; antes, portanto, de 1935. No caso, a foto antiga seria, então, anterior ao ano de 1935. Peguei meus papéis (meu acervo, quase todo, é "anotado à mão", pois na época que iniciei as pesquisas uma câmera digital era muito cara, e o material antigo era proibido de ser reproduzido em cópia xerox) e, folheando-os, encontrei os dados. Dois telegramas e um Relatório da Secretaria de Estado da Agricultura, todos datados de 1933, que digitei e digitalizei, e que seguem abaixo:
No caso concreto, complementou-se a fonte fotográfica com as fontes primárias escritas, e a fotografia antiga foi contextualizada. A ponte metálica foi inaugurada no dia 05 de fevereiro de 1933. A foto, portanto, e considerando que a ponte ainda estava em construção quando de seu registro, deve ser temporalizada como sendo de fins de 1932 ou início de 1933. As fontes escritas ainda trazem a informação que a ponte metálica foi construída com recursos próprios do Município de Mimoso do Sul, que na época se chamava João Pessoa.
E agora passo para o segundo caso concreto. Ser "salvador" é legal... acima, fui eu quem "desvendou o segredo" da data específica da foto. E então retrato uma situação que eu fui o "salvado", e o memorialista e pesquisador Renato Pires Mofati foi o "salvador". Trata-se da publicação da foto que segue abaixo, também feita no já mencionado grupo de Facebook:
Essa foto eu encontrei por acaso, na revista Vida Capixaba, quando pesquisava sobre Jones dos Santos Neves, ex-Interventor e ex-Governador do nosso Estado, em trabalho que eu estava executando para o historiador Fernando Achiamé no ano de 2012 ou 2013. Resolvi "clicar" (Sim, leitor! No século XXI, consegui adquirir uma câmera digital!) e guardar, até que a publiquei na internet. E logo o Renato Mofati, com seu olho clínico, percebeu que essa foto não era da Igreja de Mimoso do Sul. Pesquisador e estudioso da memória fotográfica mimosense, Mofati levantou vários detalhes demonstrando que, apesar da revista ter citado essa foto como sendo de João Pessoa (o contexto da publicação dessa foto, na revista, era o da visita do Interventor Federal à atual Mimoso do Sul), tal informação estava equivocada. A revista teria errado no clichê e, para mim, ficou patente que Renato Mofati estava certo. Desfez-se um equívoco que eu havia reproduzido.
Assim, com esses dois exemplos citados, pretendi mostrar como é importante essa soma de esforços e de trabalhos, bem como de experiências. E como é necessário contextualizar as fotos antigas com informações de outras fontes. Sem minhas pesquisas em fontes primárias, aquela primeira foto estaria sem a real contextualização; e sem as pesquisas fotográficas de Renato Mofati, estaria eu reproduzindo um erro fotográfico naquela segunda foto até o presente.
Por fim, aproveito o ensejo da publicação para esclarecer sobre uma outra foto que, pelo que notei nos últimos tempos, tem sido muito reproduzida na internet. É a foto que segue abaixo, que retrata o "complexo da Fazenda Mimozo", sem data:
Essa foto foi publicada pela primeira vez neste meu BLOG, no dia 03 de outubro de 2010, no artigo intitulado "O Início da História de Mimoso do Sul", que pode ser acessado clicando-se no link infra:
http://gerson-franca.blogspot.com.br/2010/10/o-inicio-da-historia-de-mimoso-do-sul.html
Logo ela acabou se "espalhando" pois, no "mundo da internet", o "copy-paste" é uma "praga" difícil de se extirpar. Em pouco tempo já estava, inclusive, na seção de fotos antigas do antigo portal "Mimoso On Line" que, como é muito comum, não citou a fonte onde a encontrou, nem deu crédito ao pesquisador que a alocou na internet. E data daí a criação do "mistério" dessa "rara" fotografia da antiga Fazenda Mimozo. De quando seria? Onde estaria a original?
E na semana passada, quando estava ajudando na revisão de uma obra que será publicada pela memorialista e pesquisadora Sandra Mary, deparei-me com a dita foto no corpo do trabalho. Detalhe: a fonte era citada, mas como sendo do acervo de uma outra pessoa, da qual a escritora teve acesso. Quando observei o que acabei de narrar, entendi por bem esclarecer o que está "por trás" dessa foto.
Pois agora revelo o "segredo". Em 2010, quando eu estava escrevendo o artigo aonde coloquei essa fotografia, eu queria anexar uma imagem que pudesse fazer o leitor visualizar e imaginar o que seria a antiga "Fazenda Mimozo". Não havia na época, na internet, nenhuma foto da sede da antiga fazenda; daí lembrei-me que possuía (e ainda possuo) cópias físicas, em duas fotografias, de uma panorâmica de Mimoso do Sul, em preto e branco, feita no final da década de 1940 ou início da década de 1950. Essa duas cópias fotográficas me foram gentilmente dadas pela historiadora Rosângela Marques Guarçoni, por volta de 1998 ou 1999, em uma espécie de "troca", pois na ocasião eu a cedi três fotografias antigas que eu havia conseguido recentemente, uma de Mimoso e as outras duas de São Pedro do Itabapoana, datadas de 1910.
Nessas citadas fotografias dos anos 1940 ou 1950, ainda existia a imagem da antiga sede da Fazenda Mimozo que, embora abandonada, ainda estava de pé. Então, para "ilustrar" o meu artigo, fiz uma foto digital da fotografia física, e depois a recortei de modo a deixar somente o que seria o "complexo da fazenda", com sua Casa Grande, a antiga Senzala, o "armazém" e a edificação das máquinas de beneficiar o café, além do terreiro de secar o café e da "banqueta" que armazenava á água que movia parte do maquinário e que fazia gerar a energia que abastecia a fazenda.
Pois é isso, leitor. Revelado o "segredo" e desfeito o "mistério".
Gerson Moraes França
Parabéns meu cara. Sentimos sua falta.
ResponderExcluirObrigado, Bruno! =)
ExcluirAdorei no texto!
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado, Thiago! =)
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