Pois é... final de março. Desde novembro do ano
passado, quando postei meu último "artigo", muita coisa aconteceu em
minha vida. Enfim, aproxima-se o final das "férias" (ou recesso, como
a UFES denomina essas "férias extemporâneas"), e eis que reapareço por
aqui.
O assunto de hoje é daqueles que são insignificantes para os "leigos". Para os leitores de história que não são envolvidos com a "Academia", via de regra, tanto faz o que abaixo colocarei. Mas para aqueles que se envolvem mais diretamente com a historiografia do Município de Mimoso do Sul e do antigo Município de São Pedro de Itabapoana, o assunto é relevante, em minha opinião. Ao menos para mim, um (pretenso) historiador de nossas plagas, a matéria é interessante.
Trata-se da data real de publicação da obra "História do antigo município de São Pedro do Itabapoana, Estado do Espírito Santo: páginas de nossa terra, 1534-1931", de autoria do escritor e jornalista são-pedrense Grinalson Francisco Medina. Confesso que, quando eu ainda não estava na "Academia", para mim esse era um assunto pouco importante e até de fácil resolução: afinal, a data 1961 encontra-se impressa logo na capa na obra. Mas...
Mas eu topei com as obras de escritores e historiadores, todos sérios,
competentes e reconhecidos no meio, que traziam dúvida no que toca à data de
publicação da obra objeto do presente "artigo".
A primeira obra que me deixou confuso foi "O Vale do Itabapoana e a História de São Pedro do Itabapoana e São José do Calçado" (EDUFES, 1997), de autoria conjunta do jurista e historiador Milton Teixeira Garcia e da historiadora Maria Lúcia Teixeira Garcia. Nas referências bibliográficas do livro, aparece apenas um (s.n.), deixando transparecer que a obra de Medina não trazia elementos para sentenciar referência de editora e de data, embora no texto do livro fosse feita a referência de 1941. Tive contato com essa obra no final de 1998.
Pouco mais de dez anos depois, em 2009, foi lançada a obra "São Pedro do Itabapoana: Patrimônio, Memória e Identidade Sul Capixaba", do escritor Marcelo Pedrosa Pereira. Nesta, a referência é específica e conclusiva: editora Viper, Rio de Janeiro, 1961. Tal como eu havia visto na obra original que, por sinal, possuo uma cópia. Até citei-o em um artigo que publiquei em dezembro de 2009, adotando a data de 1961 para a publicação da obra de Medina. Mas (sempre o "mas")...
Mas em 2010 foi publicado o livro "O
Espírito Santo na Era Vargas (1930-1937) - Elites políticas e reformismo
autoritário" (FGV Editora), do historiador Fernando Achiamé. E lá, nas
referências bibliográficas, estavam um [s.l.] e um [s.n],
afora um [1932?],
demonstrando através de um sine
nomine e de um sine loco que
tanto a editora, quanto o local, eram desconhecidos; idem em relação ao ano de
publicação, com uma interrogação e o ano de 1932.
Ora, os mestres Teixeira Garcia e Achiamé, para mim, são referências que devem ser muito respeitadas. Se ambos levantaram dúvida acerca da data de publicação, é porque algo precisava ser elucidado ou apurado. Teixeira Garcia, que publicou a primeira obra trazendo essa dúvida, tinha ainda um plus no que toca à questão: foi ele quem recebeu os "arquivos" de Grinalson Medina pouco antes desse último falecer, na década de 1980. Esses documentos estão hoje, salvo engano, guardados na sede do IHGES, conforme o próprio narrou-me em conversa por telefone, anos atrás.
Por fim, até o Google alimentava a confusão. Há duas referências no "catálogo" de livros do Google, em relação à data da publicação da obra de Medina. Uma está [196?] e a outra está [193?], embora nessa última traga a informação da editora: Viper Artes Gráficas.
Pois é, leitor. Essa "bobeira" me incomodava. Afinal, quando foi publicada a obra de Medina, trabalho pioneiro e referência obrigatória para quem pesquisa e estuda a história de São Pedro do Itabapoana? 1932? 1941? 1961?
E nessa semana eu consegui, finalmente, e ao menos
em tese, chegar a um veredito. Veredito temerário, mas que parece verossímil. E
esta sentença está fundada em um discurso feito pelo então deputado federal
muquiense Dr. Dirceu Cardoso, da tribuna da Câmara dos Deputados, que abaixo
reproduzo na íntegra:
Anais da Câmara dos Deputados - 1961 - Volume 35 - Página 697
296ª sessão, em 14 de dezembro de 1961(...)
O SR. DIRCEU CARDOSO (para uma comunicação)*
Sr. Presidente, Srs. Deputados, enriqueceram-se as letras de meu Estado, com a vinda a lume, na semana passada, da monografia "A História do antigo Município de São Pedro do Itabapoana", de autoria do publicista, jornalista e poeta Grinalson Francisco Medina. São Pedro do Itabapoana era um velho município de meu Estado, que perdeu sua sede municipal e a cabeça da comarca, com a transferência desses serviços para o próspero e grande Município de Mimoso do Sul, de que ele se tornou distrito.
Assim, Sr. Presidente, foi com indizível satisfação que relemos as páginas de São Pedro de Itabapoana, página de nossa terra, de autoria de Grinalson Medina. E daqui quero enviar minhas saudações ao povo de São Pedro de Itabapoana, que perdeu as regalias da sede municipal e de sua comarca e hoje se transformou no Município de Mimoso do Sul. Mas hoje a cêpa das famílias é a mesma, o heroísmo da gente que rasgou a civilização no Sul do meu Estado é o mesmo daquela população progressista, que tem os olhos voltados para a grandeza de nossa terra e de nosso Estado.
Assim, as minhas congratulações ao povo de São Pedro pela revivência, pela relembrança, pela homenagem que seu ilustre filho Grinalson Medina prestou àquele povo, lançando a lume páginas de nossa história, através de São Pedro de Itabapoana.
Mas, Sr. Presidente, quero narrar um episódio que nas páginas históricas de outros povos seria, de fato, registrado. No dia em que as forças da Revolução de 30 foram buscar os papeis para a transferência da sede do município e da comarca, o sino da igreja deveria chamar os fieis para a última missa do Município e Comarca de São Pedro. E parece que foi a voz de Deus que quis falar pela voz do sino. No primeiro repique o sino da Igreja de São Pedro rachou e não transmitiu sua voz ao povo chamando-o para assistir à última missa da sede do Município e da velha Comarca que se transferia. Aqui ficam, pois, Sr. Presidente, as minhas saudações a Grinalson Medina, pela homenagem que prestou ao glorioso, ao progressista povo de São Pedro de Itabapoana, no Estado do Espírito Santo. (Muito bem).
Resta clarividente, ao menos para mim, diante do discurso
acima e da data da sessão, que o livro "História do antigo município de São
Pedro do Itabapoana, Estado do Espírito Santo: páginas de nossa terra,
1534-1931", de 134 páginas, foi publicado no ano de 1961, conforme
referenciou o autor Marcelo Pedrosa em seu trabalho. A editora também não seria
mais mistério: Viper Artes Gráficas, Rio de Janeiro. Assim, caro escritor ou
acadêmico, ao referenciar a obra de Grinalson Medina em alguma bibliografia, o
faça do seguinte modo:
- MEDINA, Grinalson Francisco. Historia do antigo município de São Pedro do Itabapoana, Estado do Espirito Santo - páginas de nossa terra. Viper Artes Gráficas: Rio de Janeiro, 1961.
Gerson
Moraes França
parabéns por decifrar este "mistério"
ResponderExcluirObrigado, Gilber!
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