sexta-feira, 6 de outubro de 2023

O Ocaso das Minas do Castello

Recorte de mapa de 1846, com a localização das antigas minas do Castelo.

No dia 25 de maio de 1786, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Amparo de Itapemirim, foram crismadas nove ou dez crianças pelo reverendo visitador Vicente José da Gama Leal, comissionado pelo Bispo do Rio de Janeiro e que ali estava em viagem pelas paróquias do norte do Bispado. Nessa época, as freguesias da Capitania do Espírito Santo integravam aquela circunscrição eclesiástica. Uma dessas crianças crismadas se chamava [Seba]stiana (assim presumiu quem registrou), de cinco anos de idade, filha de Sebastião e de Maria, escravos de um certo Domingos Ra[mos](sobrenome presumido pelo autor dessas linhas). Sebastiana era natural e batizada na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Castelo.

Sempre me fascinou a história dessas célebres minas de ouro situadas nos contrafortes a oeste da serra que corre, mais ou menos, de sul a norte entre o rio Castelo (afluente do rio Itapemirim) e a costa do Espírito Santo. Apesar de não muito conhecidas, muito já se escreveu, e ainda se escreve, sobre as Minas do Castelo. É surpreendente conhecer seus primeiros tempos e notável estudar seu desenvolvimento; e é intrigante saber como foi o seu ocaso. Imaginar que essas minas foram povoadas e formaram (segundo a tradição) quatro arraiais e uma povoação que foi sede de uma Freguesia, e que depois tudo isso foi abandonado para ser enterrado pela vegetação e esboroado em ruínas.

Essas fascinantes minas nunca foram, porém, muito povoadas se comparadas com outras tantas minas de ouro que existiram na história do nosso Brasil. Segundo o grande pesquisador Alberto Lamego, que estudou esse assunto e teve acesso a então inéditas fontes primárias e documentos, no seu período de maior prospecção as Minas do Castelo chegaram a abrigar cerca de 400 mineradores; não é um número elevado de pessoas, mesmo para a época que a população do Espírito Santo e do Brasil era uma ínfima fração do que é nos dias de hoje. Sua existência, do início ao ocaso, se remete ao século XVIII; descobertas e inicialmente povoadas por paulistas e seus bandos que percorriam o interior do continente, incrementadas depois por povoadores campistas após estabelecidas as minas, e depois e abandonadas pelo esgotamento das jazidas e pela pressão dos indígenas. Tudo isso ocorreu no recorte temporal de menos de um século.

Apesar das teorias de que as Minas do Castelo já eram exploradas muito tempo antes da chegada dos paulistas  (as datas variam conforme as construções teóricas e os agentes envolvidos), qualquer historiador e pesquisador mais criterioso e fiel à metodologia da ciência histórica desconsidera essa remotíssima possibilidade. O próprio Lamego, sempre fiel à pesquisa histórica em fontes primárias e à análise crítica das fontes, considera que foram os paulistas seus incontestes descobridores. Outros estudiosos da história das Minas do Castelo endossam essa assertiva, como Tristão Araripe; e alguns poucos, como o memorialista Gomes Netto, entendem que as minas já eram exploradas por indígenas e jesuítas no século (ou séculos, dependendo do memorialista) anterior; meras teorias sem embasamento documental e simples conclusões eivadas de vício. De todo modo, esse imbróglio não é o foco do presente artigo e não interfere em nossas conclusões.

O ocaso das Minas do Castelo é assunto bastante tratado pela historiografia espírito-santense. Mas não há nenhum documento contemporâneo aos fatos que tenha sido até hoje encontrado e/ou publicado por algum pesquisador, seja memorialista ou historiador. O que temos são algumas presunções, e datas mais ou menos aproximadas fundadas em algum fato específico. No Espírito Santo, foram os memorialistas positivistas de finais do século XIX, como Basílio Daemon, que começaram a tentar encontrar uma data para o abandono das Minas do Castelo; Daemon chegou a entrevistar, "em 1865, uma velha moradora daquele lugar" que o relatou episódios da luta com os indígenas. Fatos narrados que não há motivos para serem postos em cheque, mas que acabaram criando a imagem de que o abandono dos arraiais e povoado das Minas do Castelo tenham ocorrido em um único, ou principal, evento de combate entre moradores e indígenas.

Em princípio, firmou-se o ano de 1771 como tendo sido o do abandono das minas. Essa data foi a do provimento de um vigário para a Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Itapemirim, recentemente criada. Como desde o século XIX já havia a tradição de que as imagens e paramentos da Igreja de Nossa Senhora da Conceição das Minas do Castelo haviam sido trasladados para a Igreja Matriz em Itapemirim, em uma espécie de transferência da Paróquia, imaginou-se que esse evento fosse uma prova da data do abandono. Hoje se sabe que a Freguesia de Nossa Senhora do Amparo de Itapemirim foi instituída em 1768, ano inclusive que há provas documentais que as Minas de Castelo ainda existiam; portanto, não houve naquele momento uma transferência da sede da Paróquia.

Depois, com a descoberta de um documento de inquérito (devassa) sobre um crime ocorrido contra a vida de um certo Manoel Monteiro, morador no Ribeirão do Meio (que fica no distrito das Minas do Castelo), em 1776, relativizou-se o abandono das minas: alguns passaram a entender que o abandono foi progressivo, e que ainda restavam alguns poucos moradores na região. O evento de 1771 não foi, porém, deixado de lado. As datas de 1771 e 1776 começam a conviver como sendo os possíveis anos do abandono das Minas do Castelo, embora alguns entendessem que o evento de 1771 ainda era o principal fato.

Alguns pesquisadores ainda de finais do século XIX, porém, começaram a rever essas datas. O pesquisador e memorialista Antônio Marins, escrevendo no início do século XX sobre o assunto, entende que as Minas do Castelo teriam sido abandonadas entre 1776 e 1780, e informa que um estudioso que publicou um artigo em 1883 já havia concluído que as minas haviam sido abandonadas entre 1779 e 1780, quando "teve lugar a trasladação da velha imagem de S. Benedito". Surgiam, cada vez mais, provas de que o ocaso das Minas do Castelo não teria sido em 1771, mas sim alguns anos depois.

Diante da ausência de fonte contemporânea que ateste um ocaso abrupto, nos parece cada vez mais claro que o abandono das Minas do Castelo foi progressivo, fazendo parte de um processo; processo este que abarcou episódios factuais de confrontos entre mineradores e indígenas, e de esgotamento das jazidas ao alcance das forças e técnicas da época. Desde o estabelecimento legal das minas, as décadas de 1750 e 1760 foram as de maior ocupação e exploração; na década de 1770 começa o processo de esvaziamento. É a partir dessa época que os documentos começam a atestar investidas dos indígenas em algumas regiões no entorno. O progressivo esvaziamento das minas do Castelo também contribuiu para a evasão e extravio do ouro que fugia do fisco: o último documento fiscal, até hoje conhecido, que trata da arrecadação do quinto na região data de 1768. E depois chega o dia que nas Minas do Castelo não resta mais habitante algum.

Interessante é que os indícios de que o ocaso das Minas do Castelo havia ocorrido em ano posterior ao de 1771 já estavam bem evidentes para os historiadores de meados do século XX. Enquanto as publicações sobre a matéria ainda fiavam algum ano da década de 1770 (1771, que ainda era o mais citado, 1776 e 1779), novas fontes trazidas a luz colidiam com essas datas sedimentadas pela historiografia local de então. Fontes documentais estas, importante salientar, primárias. Algumas contemporâneas, mas de região diversa; outras não contemporâneas aos fatos, mas que estavam muito mais próximas temporalmente dos acontecimentos do que os escritos dos pesquisadores memorialistas da segunda metade do século XIX. Essas fontes são várias, e citarei apenas algumas delas no presente artigo.

Primeiro, falaremos de uma fonte contemporânea: os manuscrito de Couto Reis, que escreveu sobre Campos e seu entorno, em 1785. Nessa obra, quando trata dos povos indígenas da região, Couto Reis fala dos índios puri que, nessa época, se estendiam desde o rio Muriaé até as Minas do Castelo, "aonde tem feito lastimosos estragos". Importante lembrar que os campistas tinham mantido por muitos anos uma relação bem próxima com as Minas do Castelo, e o fato dessas minas terem sido citadas no documento é revelador. Em 1785, quando foi concluído, o manuscrito atesta que as Minas do Castelo ainda eram existentes e que sofriam com as investidas dos índios puri; assim, apesar de sofrer estragos dos indígenas, ainda eram habitadas na primeira metade dos anos 1780. Devido as acuradas e bem atualizadas informações de Couto Reis sobre seus objetos de estudo em seu trabalho, não cremos que ele estivesse defasado em mais de dez anos no que toca as Minas do Castelo.

Segundo, falaremos de alguns dos viajantes estrangeiros que transitaram pela Capitania do Espírito Santo em princípios do século XIX. Maximilian Wied e Saint-Hilaire estiveram em Itapemirim nos anos de 1815 e 1818, e escreveram interessantes relatos que hoje são muito utilizados como fonte histórica primária em trabalhos acadêmicos sobre o Espírito Santo. Ambos colheram relatos e tradições locais em seus escritos, e ambos são unânimes em afirmar que as Minas do Castelo teriam sido abandonadas em meados da década de 1780. Saint-Hilaire, que desce a detalhes e informa até mesmo o número de colonos mortos em refregas e ataques indígenas nos últimos quinze anos, é bem categórico em afirmar que as minas foram abandonadas (de vez) trinta anos antes, ou seja, por volta de 1785.

Por fim, elenco um testemunho que deveria receber toda a credibilidade, por ser praticamente contemporâneo ao tempo e pelo cargo de relevo que exerceu: trata-se de Manoel Vieira da Silva Albuquerque Tovar, que governou a Capitania do Espírito Santo entre os anos de 1804 e 1812. Em uma memória que escreveu e citado pelo pesquisador e escritor Levy Rocha, o governador Tovar informou que as Minas do Castelo foram abandonadas mais pela pobreza das suas lavras do que pelo receio dos índios, e que tal ocaso teria se concluído entre 1783 e 1784.

Todas essa fontes por mim elencadas, não necessariamente descartadas pela historiografia, mas relegadas a um plano dosimétrico inferior aos trabalhos históricos escritos pelos memorialistas a partir de fins dos anos 1870 (cem anos depois de terem sido largadas as minas), são bem elucidativas. Convergem para um abandono definitivo ocorrido por volta de 1785; é praticamente certo que o governador Tovar tenha feito sua memória com base em fontes (documentais, ou não) bem confiáveis, e que as datas por ele levantadas sejam as reais do ocaso das Minas do Castelo: entre 1783 e 1784.

Nessa mesma época outras minas "clandestinas", pouco fiscalizadas ou pouco rentáveis estavam sendo proibidas e fechadas pela ação do governo geral. Muitas das lavras situadas entre as indefinidas divisas das Capitanias de Minas Gerais com o Rio de Janeiro e Paraíba do Sul (região campista) foram fechadas, como as de Cantagalo e as Novas Minas de Castelo, e bandos de garimpeiros como os chefiados pelo célebre "Mão de Luva" estavam sendo dispersados e presos. É importante conjunturar essa situação geral, pois o definitivo ocaso das Minas do Castelo é contemporâneo a esses fatos.

Quando Ignacio João Mongeardino tomou posse do cargo de Capitão-Mor da Capitania do Espírito Santo, em 1782, as Minas do Castelo ainda existiam. É o que extraímos de algumas de suas primeiras medidas administrativas. E em 1790, quando Mongeardino enviou longo e pormenorizado relatório sobre o Espírito Santo para o Governador da Bahia, as Minas do Castelo já tinham sido abandonadas. E essa fonte, combinada com outra que "garimpei" (uma correspondência do Vice-Rei para o nosso Capitão Mor, reprovando uma incursão de uma ordem religiosa nas abandonadas minas, no mesmo ano) denota que o governo da Capitania estava obedecendo alguma determinação de manter fechado o acesso à região das minas do Castelo. Mongeardino, em seu relatório, informa que as "Minas do Castello, se achão cheias de mattos, por eu impedir a limpa dellas, afim de evitar a sua communicação".

Assim, tudo nos leva a crer que as memórias escritas pelo Governador Tovar devem ser vistas com mais seriedade, pois são verossímeis. O ocaso das Minas do Castelo foi o culminar de um processo de esvaziamento, iniciado possivelmente na década de 1770 e que teve seu desfecho em 1783 ou 1784. As investidas dos indígenas puri e o esgotamento das lavras foram os fatores determinantes para a queda populacional, coroada depois por uma determinação do governo em fechar as minas e impedir a sua comunicação; e não apenas nas nossas Minas do Castelo, mas em várias minas nas zonas montanhosas entre Minas Gerais e as Capitanias da costa. As afamadas Minas do Castelo passariam para a memória, a despeito de algumas tentativas e pequenas empreitadas para se reexplorar as lavras anos mais tarde.

E voltando para o crisma da pequena Sebastiana em maio de 1786, tratado logo no começo do presente artigo: essa fonte só nos foi possível de ser legada por causa das anotações em diário do Bispo Pedro Lacerda, em sua visita ao Espírito Santo de 1886/87. Bispo da Diocese do Rio de Janeiro, Lacerda visitou as paróquias sob sua jurisdição e copiou várias passagens dos livros de registros das Igrejas, que entendia interessantes de tombar. Assim, estando em Guarapari, escreveu que "em um livro achei uma folha avulsa em parte mutilada sem os pedaços que faltam. Parece-me que pertence a livros de Itapemirim". E transcreveu o que conseguiu ler desse interessante registro.

Sebastiana, filha de Sebastião e de Maria, escravos de Domingos, tinha 5 anos na ocasião. Teria nascido, portanto, por volta de 1781. Era natural e foi batizada na Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Castelo, que foi instituída nas Minas de Castelo em 1754. Essa é mais uma fonte cabal: dez anos após a data que em princípio os memorialistas de finais do século XIX acharam que as minas haviam sido abandonadas, uma criança nasceu e foi batizada pelo vigário na Igreja Matriz da paróquia, denotando que o povoado ainda existia e a Igreja ainda funcionava. Cinco anos depois, porém, Sebastiana foi crismada não em Castelo, mas sim em Itapemirim. Sua família e, com grande chance, o seu senhor, haviam deixado as montanhas e estavam na costa. Muito possivelmente por causa do evento que estamos aqui tratando: o ocaso das Minas do Castelo, ocorrido provavelmente nos anos que o governador Tovar, citado por Levy Rocha, informou em seu escrito: 1783 ou 1784.

E para finalizar, embora não seja o escopo do presente trabalho, é preciso que tratemos um pouco sobre o famoso Livro Tombo de Itapemirim, hoje usado como fonte por alguns pesquisadores para fundamentar o início da exploração das minas do Castelo no primeiro quartel do século XVII. Tal livro informa que foram os jesuítas que iniciaram a exploração do ouro na região, e que foram ali fundadas várias missões que abrigaram milhares de indígenas em 1625. O próprio Bispo Lacerda que supra aludimos teve acesso aos escritos desse livro tombo, que estava sendo então confeccionado pelo vigário da freguesia à época da visita do referido Bispo; portanto, cerca de cem anos depois do abandono das Minas do Castelo, e duzentos e cinquenta anos depois da suposta fundação dessas fantasiosas Missões do Monte Castelo. E Lacerda aponta em seu diário que o vigário de Itapemirim estava inventando fantasias quando tratava desse passado mais longínquo...

O Livro Tombo de Itapemirim é uma obra importantíssima para a pesquisa da história regional do sul do Estado do Espírito Santo, principalmente quando começa a tratar da instituição da paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Itapemirim em diante. Mas é preciso ao historiador ter muito critério em sua leitura, para não incorrer em erros e vícios que uma errônea interpretação das fontes pode levar. Sem usar de metodologia científica, sem fazer o devido processo das críticas interna e externa das fontes, sem fazer as necessárias comparações com os documentos primários contemporâneos, o pesquisador acaba por reproduzir os equívocos cometidos pelo vigário que confeccionou o livro. Assim, o citado Livro Tombo é uma fonte documental maravilhosa de informação, mas que precisa ser trabalhado com muito critério pelo historiador.

Em meados do século XIX, quando os posseiros começaram a abrir posses no vale do rio Castelo, para que depois os fazendeiros formassem as futuras ricas fazendas cafeeiras, encontraram as ruínas das edificações dos arraiais e do povoado que formaram as extintas Minas do Castelo. Encontraram várias obras de exploração, inclusive com desvio de ribeirões e córregos, bem como ferramentas e várias árvores frutíferas, restos de pomares então misturados com a vegetação que retomava seu espaço. Sim, a história das Minas do Castelo e de suas "cidades desaparecidas" me fascinam imensamente.

Pesquisa e texto: Gerson Moraes França

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

O Dia que Bieca Derrubou a Ponte

Mimoso em 1908 (foto de Eutychio dÓliver).
No centro, pode-se ver a ponte sobre o rio Muqui, reformada e já com as cabeceiras de alvenaria.

Quando foi aberta a primeira clareira no que futuramente seria a fazenda do Mimoso, em meados dos anos 1840, pelo posseiro José Lopes Diniz e seus trabalhadores, não havia caminho algum até o local, a não ser uma estreita e tortuosa picada desde o porto do Prata, no rio Muqui do Sul. Na primeira metade dos anos 1850 a posse do Mimoso foi adquirida pelo capitão Pedro Ferreira da Silva e foi aberta a fazenda, com grandes derrubadas que, depois de preparadas, dariam origem aos extensos cafezais que fariam a riqueza de seus proprietários. No final nos anos 1850 era aberto o primeiro caminho mais regular, que ligava a fazenda ao porto da Limeira, no rio Itabapoana e, nos anos 1860, era concluída a estrada que ligava o Cachoeiro do Itapemirim aos cachoeiros do Itabapoana, na Limeira, passando pela fazenda do Mimoso, de onde se fazia a passagem pelas duas margens do rio Muqui do Sul. A travessia, nesses tempos, era feita a vau, em precárias pinguelas ou em canoas, mas seu trânsito era muito pequeno.

Essa realidade iria mudar nos anos 1880. Em 1879 foi inaugurada a estação da estrada de ferro em Santo Eduardo, defronte ao rio Itabapoana no norte do Estado do Rio de Janeiro, que ligava esse distrito à cidade de Campos (RJ) e, via reflexa, à capital do Império, de onde a rubiácea era levada aos países compradores. E a partir de então as exportações do café produzido em grande parte do vale do Itabapoana e também nas regiões mais vizinhas seriam escoadas por esse terminal ferroviário. O trânsito das tropas carregadas com os sacos de café deslocou-se para esse ponto escoador, gerando mais movimento na estrada e a necessidade de se construir uma ponte sobre o rio Muqui do Sul, bem na frente da sede da fazenda do Mimoso.

Assim, em 1884, ao custo de 320$000 (trezentos e vinte mil réis) pagos pelos cofres públicos do município de Cachoeiro do Itapemirim, foi construída a primeira ponte sobre o rio Muqui do Sul em frente da fazenda Mimoso. Juntamente com essa obra, foram reformadas as estradas de Cachoeiro ao Mimoso, e também a que da fazenda Mimoso ia ter a Santo Eduardo. Essas estradas foram melhoradas com dinheiro do município e da província, mas também tiveram muitos de seus melhoramentos financiados pelos proprietários dos terrenos por onde passavam, pouco antes de serem executadas as obras públicas. Quanto a ponte, era ela toda feita de madeira, com seus pilares de base e os assoalhos colocados por cima.

Nessa época, o capitão Pedro Ferreira da Silva havia partido a pouco. Faleceu em junho de 1882 e a fazenda Mimoso passou a ser administrada por um de seus filhos, Gabriel Ferreira da Silva, que lá fixou residência na mesma época dos melhoramentos das estradas e da construção da ponte sobre o rio Muqui do Sul. Filho de um rico fazendeiro, Gabriel, apelidado de "Bieca", também era dono ou coproprietário de outras grandes fazendas cafeeiras e já tinha sido até deputado da Assembleia Provincial do Espírito Santo. Segundo os seus detratores, era um homem de difícil trato. E a movimentação dos transeuntes na nova estrada que passavam pela nova ponte, em frente da grande casa sede da fazenda Mimoso, o incomodava bastante. Quando passava algum viandante, já ia o Bieca gritar palavras ofensivas.

Tal estado de coisas o irritou ao ponto dele decidir, depois de alguns anos de aborrecimentos, derribar a ponte e mudar o curso da estrada. Assim, no dia 21 de janeiro de 1890, Bieca desmanchou todo o assoalho da ponte e demoliu parte da estrutura, inutilizando também um trecho da estrada, que substituiu por um caminho contíguo ao seu engenho, em uma região pantanosa. Tal ato do mandão de aldeia, porém, não passou sem reclamações de outros fazendeiros que utilizavam a ponte e a estrada. Poucos anos após, a ponte foi reconstruída; depois, porém, que Bieca foi residir lá para as bandas da fazenda Santa Marta e Santa Rita.

Bieca se meteu em vários casos, antes e depois desse episódio. Portador de uma doença degenerativa que o prendeu a cadeira de rodas, teve certa vez a casa de sua fazenda invadida por trabalhadores da linha ferroviária que estava sendo construída, que custou a vida do seu feitor. Também sofreu, certa feita, um ataque de bombas que explodiram por baixo de sua casa, sem causar maiores danos além do susto e de ter que se arrastar pelo chão. Pior talvez tenha sido quando foi esfaqueado por um molecote, filho de um ex-escravo de sua fazenda, que não aceitou ser mal tratado pelo paxá.

Depois que Bieca deixou a fazenda Mimoso, inicia-se um lento processo que, sob a administração dos irmãos Monteiro da Silva, genros do irmão de Gabriel, daria início ao gérmen do futuro núcleo urbano conhecido hoje como Mimoso do Sul. Importante que se diga: para o capitão Pedro Ferreira da Silva, Mimoso nunca foi mais do que simplesmente a sua fazenda. E, se dependesse do Bieca, filho do finado capitão Pedro, nem gente passaria por ali. Mimoso veio a crescer não graças ao Gabriel Ferreira da Silva, mas APESAR do Bieca e de suas manias.

Gerson Moraes França

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Arraial do(s) Lagarto(s) - São João do Muquy (Muqui)

 

São João do Muqui, c. 1908 (Foto: Eutychio d'Oliver)

Quem observa o grande trajeto da principal via de Muqui, via esta que tem vários nomes em seu curso, percebe algo interessante em relação às quadras de casas: na região central, onde iniciou-se o núcleo urbano, quase não as há. Considerando o trecho onde a urbe muquiense teve seu gérmen, nas atuais avenidas Vieira Machado e Getúlio Vargas (interessantemente, ambas integram essa grande via que corta a cidade, e em cujo eixo o núcleo cresceu: uma é a continuação da outra), só há duas partes com quadras urbanas bem delimitadas, que denotam um pequeno planejamento para a instalação das edificações. Uma delas é o pedaço onde estão as ruas Luís Afonso e do Quartel, junto com a rua que liga com a Coronel Mateus Paiva (retratada embaixo e à direita da foto acima). A outra é a porção da rua dos Operários e Bernardino Monteiro, cuja entrada está em frente à antiga estação ferroviária (e onde ainda hoje notamos os "restos" das antigas vias, na forma de uma viela onde não transitam automóveis). Outro fato que nos chama a atenção em relação a essas quadras, é que ambas formaram ruas que, hoje, não tem saída (embora em seu planejamento inicial, haviam de ter).

E essa conformação urbana tem uma explicação que nos ajuda a entender o processo de ocupação e expansão urbana de nossa cidade em sua zona central, com essas poucas quadras sem continuidade, e com as edificações estendidas sobre boa parte do eixo da via principal.

A formação das primeiras fazendas onde hoje a cidade de Muqui está edificada remonta à década de 1850. É nesse período que são abertas e fundadas as fazendas cafeeiras chamadas de Boa Esperança, Sabiá, Entre Morros e São Francisco, que hoje dão nome à bairros da cidade. É preciso salientar que, obviamente, a abertura dessas fazendas não significou a fundação de um núcleo urbano. Durante muito tempo a região onde hoje está assentada a cidade de Muqui foi apenas uma erma estrada de chão, que ligava Cachoeiro, Vila Nova e São Gabriel ao Itabapoana, passando pelas fazendas e indo dar no Entre Morros e no Mimoso, antes de chegar ao seu destino final no rio Itabapoana. Em 1863, quando foi feita a medição de várias fazendas no alto rio Muqui (do Norte), o terreno onde hoje está o centro da nossa cidade era apenas uma parte da fazenda Boa Esperança, e o morro atrás da atual Igreja era um pasto. Na boca do córrego Boa Esperança no rio Muqui havia plantações de milho e de feijão; ali próximo, aquém do córrego, haviam algumas árvores frutíferas (muitas goiabeiras) e capoeiras. Perto da atual pracinha da Boa Esperança havia um canavial e, é claro, bordeando as encostas dos morros adjacentes haviam as extensas lavouras de café.

Em meados da década de 1870 é que iria brotar a semente do que viria a se tornar a nossa cidade de Muqui. Reza a tradição que em 1876 foi levantada a primeira casinha no primitivo núcleo que tomaria o nome de arraial do Lagarto, ou dos Lagartos (ambas as formas eram usadas). Edificada em terras da fazenda Boa Esperança, com a permissão do proprietário João Jacintho da Silva, que demarcou uma pequena porção para formar um arraial. "Arraial" era um dos termos usados, nessa época, para nominar os nascentes núcleos urbanos; a palavra tem origem na incorporação de expressão árabe, que significava primitivamente rebanho ou ajuntamento, ao português em Portugal ainda na idade média. Esse primeiro núcleo ficava na saída da estrada que ligava a sede da Fazenda Boa Esperança à estrada de rodagem que ligava Cachoeiro ao Itabapoana, anteriormente aqui mencionada. E foi ali que surgiu o nosso arraial do Lagarto: naquelas quadras da atual junção das avenidas Vieira Machado com a Getúlio Vargas, no cruzamento desta com a rua Luís Afonso e pegando também as ruas do Quartel e ligação com a Mateus Paiva. Por volta de 1884, quando foi instalada a sua primeira casa comercial (pelo espanhol Florêncio Ribas), o arraial possuía "apenas, umas quatro casas".

Em meados da década de 1880 os estudos para a construção da estrada de ferro chegaram à região do alto Muqui. Ficou assentado que a futura estação ferroviária seria edificada no terreno aonde atualmente se encontra, e que ficava a pouco mais de trezentos metros do Arraial do(s) Lagarto(s). Era a quarta estação do trajeto (sentido Campos-Cachoeiro); segundo relatório da Estrada de Ferro de Santo Eduardo ao Caxoeiro de Itapemirim, de 1892, "a quarta [estação] (...) fica perto do arraial do Lagarto" e já estava construída nesse ano. Por volta de 1886 o dono da fazenda Boa Esperança resolveu instituir um patrimônio para o nascente arraial, juntamente com o dono da fazenda Entre Morros, e escolhem São João Baptista como orago da futura capela. Ato contínuo, são demarcadas novas quadras em frente ao terreno onde seria levantada a estação ferroviária. Essa é a origem das quadras que ficam do lado oposto da estação, nas atuais ruas dos Operários e Bernardino Monteiro, bem como da viela que ainda hoje resta. E também do patrimônio de São João, juntando a área da futura estação à área já edificada no primitivo arraial dos Lagartos. Daí nasceria o povoado de São João do Muqui, antigo arraial dos Lagartos.

Instituída mais tarde a administração do patrimônio, houve talvez um pequeno lapso ou descuido, agravado pela morte dos dois principais doadores do mesmo patrimônio: o núcleo urbano, ao invés de ser organizado em quadras regulares tanto quanto o terreno permitisse, foi se espalhando pelo eixo da ferrovia e da rodovia. E assim formou-se a atual conformação urbana na zona central da nossa cidade de Muqui.

Gerson Moraes França

quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Quando foi que o Barão chegou ao Espírito Santo?


Para quem conhece um pouco a vida do primeiro Barão de Itapemirim, é clarividente que o título do presente post estaria equivocado. Quando Joaquim Marcellino da Silva Lima (1781-1860), futuro Barão de Itapemirim, chegou à então Capitania do Espírito Santo, ele era ainda apenas um jovem rapaz. Receberia a honraria do baronato somente muitos anos depois. Elaborei esse título apenas porque acredito que assim ele fica mais chamativo... ando com essa mania! Rsrs!

Para a historiografia espírito-santense não é um grande mistério o período que o futuro Barão teria chegado ao nosso torrão. De acordo com os autores que trataram do tema, as datas variam entre 1798 e 1802; um lapso temporal relativamente curto. Sabe-se que Joaquim Marcellino, nascido em São Paulo, aqui chegou ainda bem jovem. Até a nossa descoberta, individualizando os pais do Barão e publicando o casamento de ambos, bem como a data de batismo do nosso futuro nobre, acreditava-se que Joaquim teria nascido em 1779; assim, aqui teria chegado quando tinha entre 19 e 23 anos. Já era possível perceber uma pequena discrepância em relação a alguma dessas datas (nascimento ou chegada aqui) porque era corriqueira a informação de que Joaquim Marcellino teria sido nomeado tenente de milícias no Espírito Santo aos 17 ou 18 anos (a idade varia com o autor), portanto, antes de sua presumível chegada.

De posse dos documentos por nós recentemente trazidos a luz, sabemos que os pais do futuro Barão, Joaquim José da Silva e Ana Fernandes Lima, se casaram em São Paulo no dia 27 de fevereiro de 1781. E que Joaquim Marcellino da Silva Lima, filho de ambos, foi batizado também em São Paulo, no dia 12 de dezembro de 1781. Assim, ao considerarmos as presumíveis datas de sua chegada ao Espírito Santo, podemos inferir que aqui fixou-se quando tinha entre 16 e 20 anos. Esses dados, retificados com o assento de seu batismo, batem com as informações de que teria recebido patente de milícia no Espírito Santo aos 17 ou 18 anos de idade.

Para o leitor que chegou até aqui, imagino que esteja se indagando: será que o escritor do presente post encontrou algum documento específico sobre a chegada do Barão de Itapemirim no Espírito Santo? Eu, desde já, lhe informo: não. Mas, sempre com base em documentos, pudemos estreitar um pouco mais as datas presumíveis de quando Joaquim Marcellino para cá veio, bem como a conjuntura em que chegou. Os autores das datas anteriores não costumavam citar as fontes que beberam, nem informavam algo além das simples datações.

Primeiramente, podemos informar a data máxima que para o Espírito Santo teria vindo. Encontramos, meses atrás, a confirmação régia e o registro da Carta Patente de Joaquim Marcellino entre os documentos do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. O Rei Dom João, após o Aviso de S.A.R. de 20 de setembro de 1809, confirmou sua patente de Tenente da 8ª Companhia do Regimento de Milícias em 22 de outubro de 1810, no Rio de Janeiro. Em 13 de outubro de 1811 essa patente foi registrada em Vitória. No texto dessa confirmação acha-se a informação que nos interessa pra fixar a data máxima de seu estabelecimento nas plagas espírito-santenses: "(...) Joaquim Marcellino da Silva Lima, se achar provido por Dom Fernando José Portugal, sendo Governador e Capitão General da Capitania da Bahia, no posto de Tenente da Oitava Companhia do Regimento de Milícias (...)". Fernando José de Portugal e Castro, que depois seria Vice Rei do Brasil e Conde e Marquês de Aguiar, foi governador da Bahia de 1788 até setembro de 1801. Nessa época, a Capitania do Espírito Santo estava subordinada ao governo na Bahia em matéria militar. Assim, considerando que Dom Fernando proveu Joaquim Marcellino com a patente de Tenente na milícia espírito-santense, esse provimento não poderia ter sido feito depois de setembro de 1801. Não encontrei ainda o provimento original, mas com essa informação da confirmação elimina-se o ano de 1802 para sua chegada. E também chancelamos o fato de ter o futuro Barão recebido sua provisão de tenente de milícia antes de ter completado os 20 anos de idade.

E, agora, vamos fixar a data mínima para a chegada do Barão. Como publiquei em minha rede social Facebook há pouco mais de um ano atrás, o pai do Barão, Joaquim José da Silva, era natural de Campos dos Goitacazes, filho de Francisco da Silva Correa e de Maria Luciana de Jesus. Os avós paternos do pai do futuro Barão eram naturais da Capitania do Espírito Santo. A mãe de Joaquim Marcellino, Ana Fernandes Lima, era paulista, filha de Domingos Fernandes Lima e de Cláudia Brígida de Jesus. Joaquim José casou-se com Ana Fernandes, em São Paulo, poucos meses após estabelecer-se naquela Capitania. E pouco tempo após o casamento e o nascimento do filho, o casal estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde Joaquim José foi comerciante; esteve depois em Lisboa por pouco tempo, não sei se só ou acompanhado da família, talvez em função de sua atividade de negociante. Depois que retornou de Portugal, estabeleceu-se em sua cidade natal, Campos dos Goitacazes, onde exerceu a função de Tabelião. E ali ficaria até a sua mudança para o Espírito Santo, na segunda metade da década de 1790.

E por que Joaquim José da Silva mudou-se para o Espírito Santo? Em 1791 estourou no atual Haiti, então colônia francesa de São Domingos, uma revolta de escravos que hoje é chamada de Revolução Haitiana. Essa revolta desorganizou a produção de açúcar do então maior produtor desse artigo; o preço do açúcar, nos anos seguintes, disparou. Muita gente aproveitou a oportunidade e até as autoridades públicas no Brasil incentivaram o aumento da produção e o estabelecimento de novos empreendimentos açucareiros. Houve uma enorme pressão para se explorar novas terras. Foi a partir dessa época que as plantações de cana de açúcar subiram o rio Itapemirim e que o número de Engenhos na região aumentou substancialmente em fins do século XVIII e comecinho do século XIX.

Em Benevente, atual Anchieta (ES), não havia nenhum Engenho até essa época. Formada a partir de uma Missão Jesuíta, a maioria de sua população era de indígenas étnicos, já bem aculturados e que eram, também, súditos do Rei. A Vila tinha sua Câmara e autoridades, e parte de suas terras eram repartidas pelos moradores em lavouras basicamente de subsistência. A pesca também era uma importante atividade, bem como a extração de madeira nas florestas ao redor. Mas, com a pressão para se abrirem novas plantações de cana de açúcar para alimentar novos Engenhos, as terras começaram a ser ocupadas por "brancos".  Alguns, no início, com licença da Câmara; outros, depois, comprando posses dos locais. Esse último foi o caso do pai do futuro Barão.

Em janeiro de 1797, já tendo perdido o cargo de Tabelião em Campos, Joaquim José comprou no lugar do Iriri, em Benevente, uma pequena porção de terras, com um pequeno sítio e umas tênues benfeitorias, de um mulato casado com uma índia, chamado Francisco Xavier. Isso sem licença da Câmara. E logo depois se introduziu na gleba, apossando-se das terras circundantes e inquietando os índios seus vizinhos, "trabalhando e cultivando as terras dos seus vizinhos e nacionais da terra que há tanto tempo estão ali estabelecidos" e "querendo apoderar-se das terras dos vizinhos índios (...) antigos possuidores". Os moradores locais peticionaram reclamando junto as mais altas autoridades mas, apesar de uma reprimenda do Ouvidor aos novos ocupantes, o processo foi irrefreável. Em poucos anos, grandes fazendas de cana de açúcar abasteceriam vários Engenhos na região. Em pouquíssimo tempo Joaquim José formou suas plantações e bem brevemente ergueu seu Engenho. Esse foi o gérmen da formação da Fazenda das Três Barras, que depois pertenceria ao nosso futuro Barão de Itapemirim a partir de 1807.

Assim, contada essa historinha supra, temos documentos que informam a data da chegada do pai de Joaquim Marcellino no Espírito Santo, mais propriamente em Benevente. Janeiro de 1797. Teria vindo o futuro Barão junto com seu pai? Teria permanecido um pouco mais em Campos, e chegado depois entre 1798 e 1801? Se aqui se estabeleceu em 1797, teria chegado com 16 anos de idade. Rezam as crônicas que recebeu a patente de Tenente com 17 ou 18 anos. Assim, dando crédito a essas fontes, sua chegada em nossas terras espírito-santenses parece que deu-se entre 1797 e 1799.

Dez anos depois de iniciar a formação de sua fazenda e engenho, Joaquim José da Silva e sua mulher venderam sua "fazenda com fábrica de açúcar no lugar denominado as Três Barras" para seu próprio filho Joaquim Marcellino da Silva Lima, pela quantia de nove contos e seiscentos mil réis, com pagamento à vista de um conto e quatrocentos mil réis e sendo o restante pago em prestações pelos próximos anos. Pagamento bem facilitado. Ainda não faço ideia do porquê que o pai do Barão vendeu a sua fazenda para o próprio filho. Antecipação da herança? Meio de legitimar as terras? Joaquim José da Silva voltou para Campos, onde faleceu em 1812. A referida fazenda se achava devidamente medida e demarcada, embora não tivesse confirmação. Junto com a fazenda também estavam incluídos na compra 12 escravos e 50 bois e 4 vacas, além de outras coisas mais e um sítio no lugar denominado Jagatiba. Em 1819, Joaquim Marcellino recebeu como Sesmaria as terras que estavam sob sua posse, e pouco mais tarde as confirmou.

E agora, ao terminar, o leitor pode se perguntar: "Tá bem, mas e daí? O que mudou em relação ao que se conhecia antes?" "Não muita coisa, prezado leitor", respondo eu. Antes, presumia-se que Joaquim Marcellino teria vindo para o Espírito Santo em 1798 ou 1802, ou entre esses anos. Com base nos que acima expus, eu não presumo, mas afirmo que teria chegado entre 1797 e 1801. Antes, ninguém citou a fonte onde bebeu: hoje, tenho as fontes comigo. Historiador não pode "chutar", mas se fosse para "chutar" uma data eu "chutaria" o ano de 1797. Feeling. E o que importa saber quando foi que o Barão de Itapemirim chegou ao nosso torrão? Qual a importância disso? Não muita. Mas, como pesquisador e historiador que sou, gosto e me atento muito a esses detalhes. Posso apenas dizer que, de importante para a nossa história, temos o fato de que a família de nosso futuro Barão residia em Campos antes de vir para o Espírito Santo, na esteira de vários campistas que fizeram o mesmo caminho para abrir lavouras de cana de açúcar e engenhos no sul do nosso atual Estado. Praticamente todo o know how e os capitais que foram investidos para fundar os engenhos de açúcar em Itapemirim e arredores, no século XVIII e início do XIX, foi campista. E, também, acabamos por aprender um pouco mais sobre a colonização de nosso solo, bem como sobre os problemas que os índios étnicos sofreram no Espírito Santo, quando foram sendo forçados a deixar ou vender de suas terras.

Pesquisa e texto:

Gerson Moraes França

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

HÁ CINCO ANOS

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Há pouco mais de cinco anos que não posto no meu BLOG.

A última postagem, em 13 de dezembro de 2017, foi referente ao cinquentenário do título Sulino de 1967 vencido pelo Castelo FC.

Não que nesse período eu tenha deixado de pesquisar e de produzir textos de história; fiz muitas e muitas pesquisas, e publiquei muito conteúdo nas minhas redes sociais, em especial no Facebook. Participei de muitas lives e de alguns documentários. Continuo pesquisando e escrevendo.

Mas nesse período muita coisa mudou em minha vida. Por isso, acredito eu, acabei indo para a praticidade das redes sociais, e deixei de lado as publicações no presente BLOG. Coisas de minha vida pessoal e profissional. Iniciei um relacionamento com a mulher que hoje sou casado, e juntos temos hoje uma filhinha que está prestes a completar dois aninhos. Concluí meu curso de História, iniciado na UFES e terminado na São Camilo, devido a minha mudança para a cidade de Muqui, no interior do sul do Estado do Espírito Santo. Perdi meu pai, falecido há dois anos e meio atrás. Parei de fumar. Comecei a lecionar a disciplina de história em uma Escola estadual de tempo integral, aqui em Muqui.

Tentarei aqui colocar um pouco do que produzi nas minhas redes sociais, pois acredito que esse BLOG é uma excelente forma de divulgação de material histórico, bem como uma fonte para pesquisas. Espero conseguir.

Um grande abraço a todos, do

Gerson Moraes França