quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cachoeira do Inferno - Phócion Serpa


Adquiri, recentemente, o livro Cachoeira do Inferno, de Phócion Serpa. Consegui a obra original, autografada pelo autor, junto a uma Livraria Antiquário, sediada em Juiz de Fora, Minas Gerais. Chegou-me pelo correio, e eu já li suas páginas por três vezes.

A obra é um romance histórico, ambientada na antiga povoação de Limeira de Itabapoana. Foi publicada em 1928, e seu autor é natural daquele povoado. Serpa nasceu em 1892 e passou a infância em Limeira, antes de seguir para o Rio de Janeiro, onde foi estudar medicina em 1912. Tornou-se competente médico e conhecido escritor, e radicou-se na então capital do país. Dedicou-se à cultura com a mesma paixão, talvez até com paixão ainda maior, com que dedicava-se à medicina.

O título do livro faz referência à cachoeira do Inferno, hoje também conhecida como cachoeira das Garças, no rio Itabapoana. A cachoeira fica bem perto do antigo povoado, rio acima. Aliás, ficava. Com a construção da hidrelétrica Pedra do Garrafão, em 2008/2009, onde antes corriam as tormentosas águas, hoje está exposto o leito granítico.

O romance conta, de modo triste e fatalista, a história da vida de alguns moradores do local. O pano de fundo é a Limeira de Itabapoana em decadência, que reforça as histórias das pessoas que viveram esses últimos dias de existência do povoado. Todos os "personagens" da obra são pessoas reais. A história começa quando o povoado ainda era próspero e movimentado, e desenrola-se pelos anos seguintes, retratando o ocaso do núcleo. Fala de pessoas que foram embora, e daqueles que insistiam em ficar, presos pelo apego ao torrão em que construíram suas casas. De si próprio, não fala o autor; deixa apenas estampado em palavras o que presenciou, nos primeiros anos de sua vida, quando testemunhou o abandono gradativo do núcleo aonde nasceu, já decadente quando de seu nascimento, segundo o próprio Serpa informa.

Deu bastante trabalho, mas eu consegui identificar os personagens do livro. Identifiquei o médico e sua filha, o tabelião, o professor, o boticário. O comerciante, ao que parece, Serpa usou um nome parecido, talvez para não expor a pessoa. O vigário, ao que tudo indica, também teve o nome modificado, e Serpa certamente usou de analogia para com a obra de Moreira Fraga (A Filha do Padre, romance, 1881).

A leitura da obra me tocou e emocionou. Isso porque estive ali, naquelas ruínas, hoje vazias e mortas. As histórias daquelas pessoas que lá nasceram, viveram e morreram, com seus sentimentos, esperanças, saudades e medos, me tocaram profundamente. Onde hoje não resta mais nada, à não ser ruínas, outrora moraram aquelas pessoas. Pisei no que um dia foram ruas, estive no que um dia foi um próspero porto, entrei no que um dia foi uma Capela que servia de ponto de encontro entre os locais e pessoas das vizinhanças. Capela esta, inclusive, retratada nas páginas do livro, que contam sobre sua construção e sobre sua reforma muitos anos depois.

O texto é escrito com linguagem rebuscada, com trechos um tanto poéticos, como era bem próprio para a época. Nada lacônico. Talvez isso saliente ainda mais a tristeza e o fatalismo da narrativa. Retratos das vidas de pessoas presas, pelo sentimento e/ou pela necessidade, à um povoado que se ia extinguindo.

Gerson Moraes França

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Foto Aérea do Sítio de Limeira do Itabapoana

Abaixo segue uma foto aérea do sítio aonde outrora erguia-se o Povoado de Limeira de Itabapoana. Tem tempo que quero postar essa foto, que foi retirada do Google Earth. A imagem é de 2010. Na parte norte, a margem espírito-santense; ao sul, a margem fluminense. Se quiser ampliar a imagem, basta clicar na mesma.


Podemos ver o começo das cachoeiras do Itabapoana ao lado esquerdo da foto. Na grande "meia lua" da margem direita (sul), ficava o Povoado de Limeira. Dá para ver, perto do rio, uma das ruínas escavadas pelos arqueólogos; outras não estão visíveis porque a grama já as cobriu em parte, ou porque estão embaixo de árvores. Por toda a extenção do sítio, quando lá estive, achavam-se espalhados restos de edificações, pedras de alicerces, tijolos, telhas e cerâmica.
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Do lado direito da foto, na margem esquerda (norte), podemos observar a pequena "esplanada" onde ficava a Limeira espírito-santense. Embora esse terreno tenha sido "varrido" por tratores, ainda existem alguns restos de fundação por lá. Quando lá estive, havia muitos cacos de cerâmica, tijolos e telhas na borda do rio; segundo informações dos locais, isso decorre do fato de tratores terem "empurrado a tralha" até ali, para "liberar o terreno".
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Gerson Moraes França

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A decadência de Limeira, contada pelo Correio

Muito já disse eu, no BLOG, sobre Limeira de Itabapoana. Vários posts. Talvez (quem tem saco pra ler o BLOG) já esteja enjoado; mas eu, não! =)

O povoado de Limeira, importante dizer, cresceu na margem fluminense do rio Itabapoana. A "Limeira espirito-santense" era, digamos, apenas um pequenino "apêndice" daquela; só que do nosso lado do rio, cem metros abaixo. O núcleo e o movimento ficavam na margem campista. No rio Itabapoana, outras vilas espírito-santenses nasceram desse mesmo modo: Bom Jesus do Norte, que nasceu por causa da Bom Jesus fluminense, e Ponte de Itabapoana, que surgiu por causa da proximidade com a "ponta de trilhos" em Santo Eduardo, também no Estado do Rio. Inclusive, por muitos anos, Ponte de Itabapoana foi chamada de Ponte de Santo Eduardo.

A distância entre as margens fluminense e espírito-santense do rio Itabapoana, nesses pontos, é de pouco mais que 50 metros. Nada mais natural, pois, que os povoados nascentes não respeitassem nenhuma divisa estatal imposta. Os arraiais surgiam e cresciam indiferentes à isso. Como a "Limeira campista" era o núcleo mais movimentado, sendo a "nossa Limeira" apenas um "entreposto" ligado àquela, informo que no presente post escrevo sobre os correios na "Limeira principal". Para a época, porém, tanto fazia aos moradores locais se estavam aquém ou além do rio. Para eles, Limeira era um só povoado e pronto.

Com a chegada da estrada de ferro em Santo Eduardo, em 1879, Limeira sofreu um duro baque. Sua existência e prosperidade devia-se ao fato de ser um entreposto comercial decorrente de seu porto fluvial. Quando os trilhos chegaram em Santo Eduardo, pouco mais de dez quilômetros rio acima, o porto perdeu sua preponderância no escoamento de produtos. Limeira ainda seguiu como pequeno povoado por muitos anos, mas desde então foi decaindo, até desaparecer.

E podemos contar um pouco sobre essa decadência com os Correios! Limeira tinha uma agência dos correios que acaba retratando o ocaso da vila.

Em 1892, por exemplo, o serviço de correios era executado três vezes por semana, ligando a agência de Itabapoana (atual Ponte de Itabapoana) à Limeira. À título de informação, a Freguesia de Limeira era chamada, nessa época, com o pomposo nome de São Luiz Gonzaga da Limeira do Itabapoana.

Temos até os nomes de alguns dos agentes e estafetas que prestaram serviço na Agência do Correio em Limeira. Em 1891, era Manoel Machado da Silva o estafeta e condutor de malas do correio, entre Santo Eduardo e Limeira de Itabapoana, ocasião que foi exonerado à pedido. Em 1901, o agente do correio em Limeira era Antônio G. Maia de Azevedo. Em 1906, o agente Antônio Maia, de mudança, pede exoneração do cargo, e para seu lugar é nomeado Joaquim Lopes Pereira.

Mas este último sequer chegou à tomar posse. Sua nomeação foi declarada sem efeito, e a partir de 01 de agosto de 1906 "foi mandado cessar o funcionamento da Agência do Correio de Limeira do Itabapoana", e passou a ser "a correspondência encaminhada para a Agência de Santo Eduardo". Um estafeta continuou à executar esse serviço, pegando a correspondência deixada na caixa do correio que ficava na antiga Agência de Limeira e levando para Santo Eduardo. Mas a demanda era muito pequena para a despesa. Em 1913, foi definitivamente "suprimida a linha postal de Santo Eduardo à Limeira de Itabapoana, no Estado do Rio".

Assim, resta claro que, em 1913, não havia em Limeira número suficiente de moradores que justificasse a manutenção nem mesmo do serviço de estafeta e condução de malas. E isso sete anos depois de ter sido fechada a Agência do Correio local. Limeira, porém, não foi abandonada assim de "sopetão". Em 1927, quando Phocion Serpa escreveu seu romance ambientado numa já decadente Limeira, o povoado ainda tinha uns poucos habitantes. Em 1932, inclusive, no lado espírito-santense foram reformados dois armazéns de estoque, por causa da crise que abaixou o preço do café e aumentou o preço do transporte ferroviário. O rio Itabapoana chegou a ser desobstruído, e naquele ano alguns barcos levaram parte da produção de café rio abaixo, até a Barra do Itabapoana.

Mas esse foi apenas o último suspiro de esperança para Limeira. Já no ano seguinte, com a Leopoldina adequando o preço do frete, o escoamento do café volta todo para os trilhos. Para azar do empresário Carlos Larica, que reformou os referidos armazéns e executou ele mesmo o serviço de desobstrução do rio.

Hoje, de Limeira só restam ruínas (foto de 2002, do autor)

Gerson Moraes França

domingo, 3 de outubro de 2010

O Início da História de Mimoso do Sul

Em cima e à esquerda, a casa que servia de sede da Fazenda Mimozo. No centro, o terreiro para secar café. Embaixo, outras edificações do complexo da fazenda. A antiga sede não existe mais.


Quem já procurou ler, com algum pormenor, os tempos primeiros da história de Mimoso do Sul, já se deparou com esse texto:

"A sede atual, sua história nasce no dia 11 de outubro de 1852. Quando o Capitão Pedro Ferreira da Silva compra de José Lopes Diniz em Campos —RJ, junto ao tabelião José Francisco Correa, a Fazenda do Vale Mimozo (da Fazenda Palestina até o Porto da Limeira)". [texto de autoria de Rosângela Guarçoni]

Sempre tive muita curiosidade para saber algumas coisas sobre esse evento acima descrito. Quais foram as motivações que levaram o capitão Pedro Ferreira a sair lá de Oliveira/MG e vir ter à região da mata do sul do Espírito Santo? Quem foi José Lopes Diniz que, afinal, teria chegado antes de Pedro Ferreira, uma vez que vendeu as terras para este? Muitas interrogações!

O fato cru, em si, não me deixava satisfeito. Então, "garimpei" algumas informações, no decorrer desses anos de pesquisa sobre a história local mimosense. E aqui colocarei um pouco do que consegui encontrar. Só não citarei, ainda, as fontes, porque quero um dia publicar algo sobre isso, impresso. Na obra estarão elencadas todas as fontes. E apenas para título de informação: nenhum dos documentos que me serviram de fonte foram encontrados em Mimoso do Sul.


CAPITÃO PEDRO FERREIRA DA SILVA

Pedro Ferreira da Silva nasceu no então arraial de Nossa Senhora da Oliveira, atualmente municípo de Oliveira, em Minas Gerais, no dia 30 de novembro do ano de 1816, filho de Pedro Luiz Ferreira e Felizarda Rosa Ribeiro da Silva. Seu pai, natural da Ilha Terceira, nos Açores, foi Alferes e grande proprietário de terras em Oliveira. Sua mãe era filha do capitão José Ribeiro de Oliveira e Silva, que esteve em Goiás, minerando ouro, antes de se fixar no arraial surgido no caminho conhecido como "picada de Goiás", onde os viajantes pousavam.

Em 1842, estoura em Minas Gerais a rebelião conhecida atualmente como "revolução liberal". Em Oliveira, já então vila e sede de Município, os insurgentes rapidamente dominam a situação. Pedro Ferreira e sua família ingressam nas hostes rebeldes. Derrotado o movimento e restabelecida a ordem, ainda no ano de 1842, Pedro Ferreira e seu irmão Bartholomeu estão entre os implicados na revolta. Em 1844, os participantes do movimento são todos anistiados pelo Imperador. Mas as perseguições por parte de alguns dos vencedores acabam por fazer Pedro Ferreira tomar a decisão de ir embora de Oliveira.

Na esteira dos fatos, um conflito familiar acaba por sedimentar essa decisão. Pedro e seu irmão Bartholomeu se desentendem por questões patrimoniais. E tomam rumos diferentes. Bartholomeu adquire terras na região do atual triângulo mineiro, e Pedro compra terras no "rio Muquy do Itabapuanna", adquiridas junto à um posseiro. Só viriam fazer as pazes muitos anos depois.

Ao que parece, Pedro Ferreira da Silva tomou posse de suas novas terras e formou sua fazenda entre abril de 1854 e fereveiro de 1856. Na primeira data citada, há relato de que escravos de seu sobrinho estavam sendo deslocados de Oliveira para o Itabapoana. E na última data há documento que prova que o capitão Pedro Ferreira já estava estabelecido com seus escravos em suas novas terras no Espírito Santo. Em 1857, com a criação do "Districto Policial da Barra do Muqui" e do "Districto de Paz do Caxoeiro do Itabapuanna", o capitão Pedro Ferreira da Silva foi nomeado em maio/57 para o cargo de Subdelegado, sendo a primeira autoridade estatal da região.
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As terras de Pedro Ferreira eram muitas, e no começo este ficou estabelecido mais próximo ao Itabapoana. Foi apenas em 1858 que a região onde hoje está a cidade de Mimoso do Sul foi aberta como fazenda. Na ocasião, estava sendo contruída a primeira estrada ligando Cachoeiro do Itapemirim ao Cachoeiro do Itabapoana. Nesse ano, já com a picada toda terminada e com boa parte do caminho "prestando trânsito", o capitão Pedro Ferreira iniciou a exploração da que se tornaria sua principal propriedade: a Fazenda Mimozo. Era justamente nesse ponto que foi construída a primeira ponte sobre o rio Muqui do Sul, de passagem obrigatória para os que transitavam pela estrada. Em 1859, ao que tudo indica, já estava morando na sua nova sede, embora a grande edificação que serviria de sede da fazenda, por muitos anos, fosse concluída somente por volta de 1870.

Já sobre o mateiro José Lopes Diniz, que vendeu as suas posses para o capitão Pedro Ferreira da Silva em 1852, vou falar num próximo post; o presente acabou ficando grande demais.
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Gerson Moraes França

sábado, 2 de outubro de 2010

Aldeia de São Pedro e Limeira do Itabapoana - mais um pouquinho

Que tal retornarmos, agora, aos tempos mais antigos, antes mesmo dos primórdios da colonização do hinterland das terras que atualmente pertencem ao Município de Mimoso do Sul?

Em outro post, aqui falamos sobre a "fundação" da pequenina aldeia de índios tupis, sob a direção dos jesuítas de Neves e Muribeca, no século XVII, chamada de São Pedro Apóstolo. Importante salientar que nunca houve uma "fundação oficial" para essa aldeia. Seu estabelecimento foi decorrente da "espalhada" dos índios tupis que foram levados, pelos jesuítas, quando estes fundaram a Fazenda Muribeca e a Capela de Nossa Senhora das Neves, no baixo Itabapoana, que atualmente ficam em terras do Município de Presidente Kennedy.

Assim, a aldeia de São Pedro não foi Missão, nem Fazenda, nem Sesmaria, sem nada congênere. Foi apenas um pequeno "arraial", formado quando os jesuítas reiniciaram com o cultivo de cana-de-açúcar na região. Logo e rapidamente, porém, o cultivo da cana foi abandonado, especializando-se a posterior fazenda da Muribeca na criação de gado, que abastecia o Colégio jesuíta de Vitória. Esses índios que inicialmente povoaram a região das primeiras cachoeiras do Itabapoana, que séculos depois seria chamada de Limeira, eram todos provenientes da Aldeia de Reriritiba, atual cidade de Anchieta.

À exemplo de muitos povoados formados por índios aculturados e "caboclos mamelucos", como Piúma, Itaipava/Itaoca, Perocão, Meaípe, Santa Cruz e Riacho, São Pedro era um pequeno arraial onde os seus moradores praticavam pequena agricultura de subsistência, e que se dedicavam à pesca. Quando o eixo da atividade econômica da fazenda Muribeca deslocou-se definitivamente para a criação de gado, mais próximo ao litoral, alguns desses índios continuaram vivendo naquela aldeia. No século XVIII, os jesuítas acabaram adquirindo escravaria negra para as atividades da fazenda.

Sem nenhuma tutela formal, os moradores da aldeia de São Pedro lá sobreviveram em suas atividades de subsistência por cerca de dois séculos. Eram poucos; não mais que cinquenta, em seu início. Seu arraial parece ter sobrevivido à expulsão dos jesuítas, e até mesmo às investidas dos puris. Mas não parece ter sobrevivido aos posseiros, quando o médio e alto Itabapoana foram ocupados por fazendeiros fluminenses e mineiros. Por volta de 1.800, sua pequena comunidade não tinha mais que cinco casas; em 1.850, estavam já esbulhados pelos posseiros. Os caboclos que não se adequaram à nova realidade foram embora.

Existe um registro muito interessante, que foi "garimpado" por Márcia Malheiros e publicado em sua tese de doutorado, "Homens da Fronteira - Índios e Capuchinos na ocupação dos Sertões do Leste, do Paraíba ou Goytacazes", de 2008. Discorrendo sobre a chegada de índios de outras localidades da aldeia de São Fidélis, predominantemente puri, cita na página 294:

"Há também o registro de batismo de Geralda, 'índia', cuja mãe, Claudina do Espírito Santo, foi identificada como proveniente da 'Aldeia de São Pedro do Norte'. Ainda que não tenha sido possível localizar essa Aldeia, pergunto-me o que esta mulher, vinda provavelmente de outro aldeamento, 'mãe solteira', estava fazendo na Aldeia de São Fidélis, em 1840.
Esta, sem dúvida, é mais uma pergunta de difícil resposta. Não há menção sobre os avós maternos de Geralda, filha de pai também incógnito. Os padrinhos escolhidos por sua mãe, registrados sem identificação étnica, também não fornecem qualquer pista.
(...)"

É apenas hipótese, claro, mas é plausível crer que Claudina, apelidada "do Espírito Santo", e proveniente da "Aldeia de São Pedro do Norte", sem identificação étnica que não "índia" (assim como se classificavam os antigos índios tupis aculturados), já presente na Aldeia de São Fidélis em 1840 (quando gerou Geralda), tenha lá chegado alguns anos antes, vinda da aldeia de São Pedro. A data também é bem sintomática - a primeira posse, já no hinterland das terras atualmente de Mimoso do Sul, data de 1.837.

O nome "São Pedro" acabou sendo preservado no rio que deságua perto da antiga aldeia, rio no qual, em suas cabeceiras, surgiria anos depois o primitivo arraial de São Pedro do Alcântara, que se transformaria posteriormente na sede do antigo Município de São Pedro do Itabapoana.

No curso da década de 1.840, a localidade passaria a ser chamada de Limeira. Há registro dos proprietários da localidade, na década de 1.850: Manoel Marques de Souza (do lado do Estado de Rio de Janeiro) e a viúva Maria Angélica de Abreu Lima (do lado do Espírito Santo). Tornou-se o porto de onde se escoava, rio abaixo até a barra, toda a produção de café do médio e alto Itabapoana. Cresceu, e de arraial tornou-se povoado e paróquia.

Ainda não se pode afirmar o porquê do nome "Limeira". Seria porque haviam muitas limeiras na localidade? Não é impossível; afinal, foram quase dois séculos de ocupação por famílias de pescadores que tinham pequenas lavouras de mantimentos e subsistência. Mas é apenas mera hipótese. A fazenda de Manoel Marques de Souza já era classificada como sendo em "Limeira do Itabapoana", mas ainda não é possível saber se foi ele quem cognominou, ou não.
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Gerson Moraes França